segunda-feira, 30 de novembro de 2009

César, Lula e Duarte

E-mail que acabo de mandar ao Duarte Pereira
Duarte amigo,
a paciência e a dignidade são das virtudes que mais admiro em você, nesse esforço de divulgar e comentar o que acha importante para as reflexões dos amigos e a militância possível nos tempos que correm. Não desista, amigo. Dificilmente o que é dito com honestidade e espírito público não é deturpado e transformado numa jogada, num conchavo ou mesmo numa conspiração, e justamente por aqueles que estão, eles sim, envolvidos em jogadas e conspiraçoes, e não perdem uma chance de inventar, caluniar, tirar o valor do que é dito lançando no ar uma mentira que compete, até deteriorar a afirmaçao verdadeira.
Sinceramente, não sei se o Lula deve ou não processar o César Benjamim, que, na minha opinião, realmente não deveria ter publicado essa história sem pesquisar melhor e ver qual seu real significado. Por mais que o Lula, na época, tivesse a libido à flor da pele, para mim seria um absurdo e uma burrice sem tamanho ele, na prisão, e na companhia de outros presos, atacar sexualmente alguém. Recorde-se, por sinal, que Lula estava preso no Dops, cujo diretor era Romeu Tuma, que já na época demonstrava sua grande habilidade política. Como o próprio delegado me contou, na época, no intervalo de uma entrevista ao Bom Dia Sao Paulo, jornal que eu apresentava, a prisão de Lula e de outros sindicalistas foi negociada.Tuma, antes de prender Lula, demonstrou a ele a conveniência dessa prisão, para evitar uma perseguição maior e mais grave, de que ele estava sendo ameaçado por setores mais extremados dos comandos militares - torturas e até morte, pelo que se falava na época. Por isso mesmo, Lula pôde sair da prisão para o enterro da mãe, por exemplo, e não duvido que, se pedisse, não pudesse receber uma visita íntima. De qualquer forma, não tenho nenhuma dúvida de que a afirmação de Lula, ao falar que quis transar com um menino do MEP, foi pura brincadeira. Quem quer que tenha estado com Lula nesses momentos de descontração, nos bares, sabe que ele fazia mesmo esse tipo de brincadeiras. Quem não se lembra, por exemplo, da brincadeira que ele fez com Ziraldo, e este divulgou, dizendo que "o que me interessa nas feministas é a b... delas"? É claro que ele estava fazendo uma afirmaçao machista, mas é também claro que não diria isso em nenhum contexto mais sério - como numa entrevista que fiz com ele na TV Bandeirantes, em 1980, no Dia do Trabalho, no programa Cidade Aberta, que eu apresentava, e na qual o inquiri exatamente sobre isso. É claro que ele desmentiu o Ziraldo.
Por isso, penso que o Lula não querer por lenha nessa fogueira é uma atitude respeitável - como respeitável é a tua opinião de que ele deve processar o César Benjamim. Confio em você o suficiente para saber que você não propõe isso para ajudar ou prejudicar candidato algum. Propõe porque crê que é a melhor forma de estabelecer a verdade histórica. Mas, amigo, terá de conviver com as más interpretaçoes do que diz ou publica. É a sina dos bem intencionados, de que, segundo os mal intencionados, o inferno está cheio. O inferno dos bem intencionados, amigo Duarte, é aqui.
grande abraço
ruy

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

NOVE ANOS ATRÁS

Faz nove anos, uma menina me entrevistou para um trabalho escolar. Achei hoje a entrevista, num canto deste laptop. Vamos ler juntos?

ENTREVISTA COM PSICÓLOGO


1) Iniciais do nome.
Ruy Fernando Barboza

2) Idade.
57 anos

3) Sexo.
Masculino
4) Estado civil.
diviorciado
5) Onde se formou?
Psicologia na Universidade São Marcos, 1987, Direito na USP, 1965
6) Fez especialização? Onde?
Psicanálise na Escola Freudiana de São Paulo, de abordagem lacaniana, filiada à Escola Freudiana de Paris, fundada por Jacques Lacan; Análise Bioenergética (CBT - Certified Bioenergetic Therapist) pelo International Institute for Bioenergetic Analysis, de Nova York, EUA, fundado por Alexander Lowen.
7) Fez pós-graduação? Onde?
Mestrado em Ciências da Comunicação, na USP
8) Qual a sua base teórica?
Dentro da corrente Reichiana, a abordagem a que me filio na Análise Bioenergética, que obviamente é uma Psicoterapia Corporal, inclui, além da pensamento de Wilhelm Reich revisto por Alexander Lowen, as referências mais atuais dentro da Psicanálise, segundo as pesquisas e o pensamento de John Bowlby.
9) Quantos anos tem de formação?
Formei-me em Psicanálise em 1980 (antes de me graduar em Psicologia), e em Análise Bioenergética em 1995.
10) Há quantos anos atua na área?
Desde 1987.
11) Fez ou faz psicoterapia? Quanto tempo?
De 1968 até hoje.
12) Qual sua melhor qualidade?
Como psicoterapeuta, certamente é a empatia em relação às questões do paciente - a capacidade de permitir "ressoar" em mim e de, ao mesmo tempo, discriminar, lidando com a contra-transferência.
13) Qual o seu pior defeito?
Ainda como psicoterapeuta, uma certa ansiedade para ver o paciente progredir. Muitas vezes me pego querendo que ele cresça antes do seu tempo.
14) O que você considera mais fascinante em seu trabalho?
A possibilidade, que somente este trabalho oferece, de uma relação tão profunda com o sofrimento emocional, e de ver as pessoas desfazendo os bloqueios e nós de sua existência.
15) O que você considera mais importante em seu trabalho?
A contribuição que dou para que as pessoas superem os nós de que falei na resposta anterior, criando esse espaço único, exclusivo, para o seu crescimento.
16) Algum paciente te deixa com tédio? (Se sim) O que você faz?
Sim, muitas vezes. Não há um procedimento padrão. Procuro perceber onde seus problemas estão me "pegando", e geralmente identifico, como razão básica, a minha impotência subjacente. Isso me ajuda a poder de novo voltar a estar atento, e a acompanhar sua jornada. Fico mais "ativo", mais diretivo, mais produtivo como terapeuta, nesses momentos. E o resultado geralmente é saudável, para mim e para o paciente. Muitas vezes incluo meus sentimentos na sessão, assumindo-os. Isso é de grande valia para o paciente, que assim pode se sentir autorizado a também ter sentimentos e assumi-los, na sessão ou diante de outras pessoas, na vida, caminhando para a "congruência" de que nos falam Carl Rogers, Alexander Lowen e outros.
17) Algum paciente já te despertou raiva? (Se sim) O que você fez?
Sim, muitas vezes. Não há um procedimento padrão. Procuro perceber onde seus problemas estão me "pegando", e geralmente identifico, como razão básica, a minha impotência subjacente. Isso me ajuda a poder de novo voltar a estar atento, e a acompanhar sua jornada. Fico mais "ativo", mais diretivo, mais produtivo como terapeuta, nesses momentos. E o resultado geralmente é saudável, para mim e para o paciente. Muitas vezes incluo meus sentimentos na sessão, assumindo-os. Isso é de grande valia para o paciente, que assim pode se sentir autorizado a também ter sentimentos e assumi-los, na sessão ou diante de outras pessoas, na vida, caminhando para a "congruência" de que nos falam Carl Rogers, Alexander Lowen e outros.
18) Algum paciente já lhe provocou medo? (Se sim) O que você fez?
Sim, muitas vezes. Não há um procedimento padrão. Procuro perceber onde seus problemas estão me "pegando", e geralmente identifico, como razão básica, a minha impotência subjacente. Isso me ajuda a poder de novo voltar a estar atento, e a acompanhar sua jornada. Fico mais "ativo", mais diretivo, mais produtivo como terapeuta, nesses momentos. E o resultado geralmente é saudável, para mim e para o paciente. Muitas vezes incluo meus sentimentos na sessão, assumindo-os. Isso é de grande valia para o paciente, que assim pode se sentir autorizado a também ter sentimentos e assumi-los, na sessão ou diante de outras pessoas, na vida, caminhando para a "congruência" de que nos falam Carl Rogers, Alexander Lowen e outros.
19) Como você se sente quando é assediado por um paciente?
Ajudo-o a perceber seus sentimentos e assumi-los, tomando posse deles, mas, ao mesmo tempo, podendo analisar o quanto seria inadequado e prejudicial, ao trabalho e a ele, a atuação do sentimento, seja ele defensivo (ou seja, encobridor de uma defesa, contra a psicoterapia, por exemplo) ou não. Esta afirmação se aplica não apenas aos sentimentos sexuais, mas a todo e qualquer sentimento. A raiva, a tristeza ou os sentimentos sexuais devem ser aceitos, mas não, necessariamente, atuados. Posso sentir vontade de matar o meu chefe, ou posso sentir desejos sexuais em relação a ele, mas a atuação desses sentimentos pode trazer mais prejuizos do que benefícios. Posso sentir vontade de chorar, mas o choro, em certas ocasiões, pode trazer resultados negativos por parte do ambiente. Por isso, é preciso também que eu saiba desenvolver auto-domínio, auto-possessão.
20) Dê sua opinião sobre o relacionamento entre paciente e terapeuta.
Imagino que você esteja falando de relacionamento sexual, certo? É desastroso, é antiético, é profundamente prejudicial para o paciente. É um abuso criminoso, e deveria ser um tema importante em todos os tipos de formação em psicoterapia (infelizmente, não é quase abordado). E cabe ao psicoterapeuta cuidar disso - e não ao cliente. É responsabilidade do terapeuta lidar com os sentimentos sexuais do paciente (dos dele, então, nem se fale), para que ele possa aceitá-los e saber que pode dirigi-los na vida de maneira saudável. Os sentimentos sexuais nunca devem ser censurados, mas nunca devem ser atuados no interior da psicoterapia. A psicoterapia é precisamente o lugar em que o paciente pode, por exemplo, solucionar traumas de abusos anteriores (geralmente, nesse caso, o paciente os traz em sua história, e foi abusado por familiares, ou médicos, ou professores, ou advogados etc..).
21) Você já viveu alguma situação constrangedora? Conte.
Já vivi, sim, mas seria antiético entrar em detalhes sobre situações de consultório. No entanto, a resposta à pergunta anterior me parece suficiente. Se o terapeuta está bem preparado, tendo feito uma boa formação, uma boa terapia e boas supervisões, saberá lidar com qualquer situação constrangedora que surja durante o processo.
22) O que você considera mais interessante em seu trabalho?
Veja a resposta à pergunta 14.
23) Sobre as dependências entre o relacionamento de terapeuta e paciente. Fale algo.
Pergunta muito mal formulada, incompreensível. Mas se você quer saber se a psicoterapia provoca dependência, respondo que um terapeuta bem formado saberá conduzir o trabalho de forma que o paciente saia da dependência. Do contrário, ficará como o personagem do Woody Allen, fazendo 25 anos de análise, 5 vezes por semana, sem melhorar, e muitas vezes ficando cada vez pior...
(FINANCEIRO E EMOCIONAL):

24) Você já se emocionou com algum paciente? Conte a situação.
Emociono-me todos os dias, com todos os pacientes, pois sou um ser humano. Se você quer saber se já chorei, se já ri, se já esbravejei com pacientes, sim, sim e sim. É o dia a dia do consultório. Isso já foi dito em várias respostas anteriores, e já disse como lido com os meus sentimentos.
25) O que você acha da psicoterapia?
Já foi respondida.
26) Já sentiu vontade de rir de alguma situação que o paciente lhe trouxe? Qual?
Já foi respondida. Milhares de vezes
27) Há alguma dependência emocional entre paciente e terapeuta?
Já respondida.
28) A questão financeira do terapeuta gera insegurança em perder paciente?
Gera, é claro. E é uma das situações em que o terapeuta corre riscos de deslizes éticos. É antiético, e prejudicial para a terapia, o terapeuta tentar "segurar" pacientes, seduzindo para que ele não vá embora, assim como atuar qualquer outro tipo de desejo - mesmo o desejo de o paciente se curar.
29) Você consegue se manter totalmente neutro?
Não. Ninguém consegue. Quem diz que é terapeuta neutro, está mentindo.
30) Você acha que todas as pessoas precisam fazer terapia?
Não. Muitas pessoas conseguem elaborar sem terapia seus problemas - pessoas com o ego suficientemente "flexível", que conseguem se adaptar a situações novas sem entrar em crise.
31) Qual a maior dificuldade que teve no seu início de profissão?
Foi no trabalho com pacientes de câncer, terminais. Sobretudo os jovens. Eu tinha muita dificuldade em lidar com a minha impotência diante do sofrimento deles e da morte iminente. Foi duro aprender a aceitar esse sofrimento e poder fazer-lhes companhia nessa viagem. E ainda é.
32) O que você acha do papel do CRP?
Muito importante. O CRP deve ser o maior guardião da ética e estabelecer diretrizes sólidas para a formação de psicoterapeutas.
33) Se você tivesse certeza de que um de seus pacientes tivesse matado uma pessoa, qual seria a sua reação?
Não sei. Não é possível responder de forma genérica a uma pergunta como essa. É uma pergunta boba.
34) Quais críticas faz à sua profissão?
Minhas críticas não são à profissão. Mas a grande parte dos profissionais e aos cursos de Psicologia, que não preparam ninguém, realmente, para a psicologia clínica, nem para a organizacional, nem para a educacional. E acho também que os profissionais deveriam, de forma geral, se preocupar mais em fazer uma boa formação. Mas acho que essas questões só irão se resolver com o tempo
35) Que conselhos daria para quem está começando o curso de psicologia?
Aprofundar-se em cada uma das questões trazidas ao longo do curso, sem preconceito em relação a nenhuma abordagem. Procurar desenvolver uma empatia em relação a cada um dos autores estudados, entendendo os pressupostos de seu pensamento. Não escolher a abordagem com que quer trabalhar, a não ser depois de terminado o curso. Procurar aceitar as contribuições das diversas correntes do pensamento psicológico, de forma a fazer depois, honestamente, sua síntese pessoal. Não "conciliar", não deixar passar as coisas que não estiver entendendo, para não assimilar mal o aprendizado. Procurar discutir à exaustão todas as questões éticas que lhe surjam à mente. Não se contentar com as interpretações e explicações simplistas, tão comuns no nosso meio, do tipo "é a mãe", "é o Édipo", "é racionalização", "é projeção", "está na fase oral". Levar em conta o social, a intersubjetividade de que nos fala Felix Guatari.
36) Você gosta da profissão que escolheu?
Adoro - dá pra ver, não?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

COMPARANDO LULA E FHC

e agora a campanha antiFHC se dedica a encontrar filhos do ex-presidente. hoje de manhã apareceram mais dois. e o engraçado é que um trabalha como carreegador, o outro como contínuo. caramba, esses jornalistas picaretas que se dedicam a usar os filhos (é a mesma turma que na campanha do color contra o lula conseguiu aquele depoimento podre da lurian lembrando que o lula tinha pedido à mae dela para fazer um aborto)contra os pais nao se cansam mesmo. mas falta um dado, já que eles gostam tanto de comparar o governo lula com o de fhc, como se isso significasse alguma coisa - é como comparar os milagres do edir macedo com os de cristo, e concluir que o edir macedo é melhor, pois já fez muito mais milagres! - etão por que nao comparar o patrimonio dos filhos do lujla com o dos filhos do fhc? vao concluir que o fhc é péssimo pai. nem teve a generosidade de usar o bndes, nem o banco do brasil, nem as estatais para tornar os filhos grandes empresários - todos estão com empreguinhos vagabundos. desse jeito, quem vai herdar do getulio o titulo de pai dos pobres é o fernando henrique, e nao o lula, que está sendo é o pai dos ricos!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

CENSURA NO YOU TUBE?

Ainda estou preferindo acreditar que o problema é técnico, mas que é esquisito é. Gravei, há mais de um mês, na casa de um amigo querido, 8 das minhas músicas brincalhonas, e algumas delas tocam em temas delicados - sempre brincando, pois se trata de humor, mesmo -, como as variaçoes de atividade e comportamento sexual. Meu amigo pôs na página dele no you tube, e alguns outros amigos começaram a recomendar para os seus, e com isso o numero de acessos ao you tube cresceu muito, em pouco tempo, para minha alegria. Centenas de pessoas me mandarma mensagens festejando a brincadeira. Em relativamente pouco tempo, o número de acessos já chega perto de 2 mil! Ótimo. Mas alguns amigos notaram e me alertaram para uma coisa estranha: enquanto as outras músicas vêm apresentando uma contagem diária, praticamente todo dia, pelo menos em uma das músicas (seu titulo é Pederasta), o número de acessos informados parou em 317, logo nos primeiros dias. É realmente estranho, pois essa musica, que já foi gravadaem cd pelo Lingua de Trapo - o Laerte Sarrumor gravou ao estilo Janis Joplin, e realmente está maravilhoso, e depois, no you tube, o meu querido Carlos Melo, gravou numa interpretaçao intimista, delicada, muito divertida também - essa musica, como eu dizia, é a das que fazem maior sucesso quando cantadas, em shows, pelo Serginho Leite e pelos irmãos Chico e Paulo Caruso, ou mesmo por mim. É, portanto, uma das que as pessoas mais procuram, para ouvir de novo, seguidamente. O número de acessos ficar, há várias semanas em 317, é portanto impossível. Está errado. E eu não quero acreditar que seja por preconceitos homofóbicos no you tube. Penso que deve ser uma falha técnica qualquer, que em algum momento eles vão corrigir.

CIA PROTEGE LULA

Recebi uma mensagem assustadora: a de que nao se deve abrir mensagens que falem mal do Lula, porque a CIA está enfiando nessas mensagens um virus terrivel, o mais ferrado de todos, que acaba com nosso computador. Achei estranho, pois o que mais recebo sao mensagens descendo a lenha no Fernando Henrique, e sobretudo mensagens acusando FH de ser agente da CIA - isso porque o CEBRAP,importante centro de estudos que ele e outros ilustres cientistas sociais cassados da USP fundaram nos anos 70, foi bancado, em parte, pela Fundaçao Ford, e esta seria financiada pela CIA. Ora, não seria mais lógico, entao, a CIA por virus nas mensagens que criticassem o Fernando Henrique? Por que essa proteçao ao Lula? Não acho justo. O Instituto FHC deveria pedir igualdade de direitos!
PELO MENOS UM VÍRUS PRA CADA UM!
Mas não se pode negar que, se isso faz parte das táticas maquiavélicas pró-Dilma, deverá funcionar, pois ninguém quer se arriscar a pegar virus só pra ter o gostinho besta de ler mensagens contra o Lula. Agora, se for verdade e a CIA estiver mesmo fazendo isso, insisto: é melhor proteger seu suposto agente, e não o do outro lado.
Por falar nisso, venho me perguntando. O Lula está tão bem nas pesquisas, com um baita prestígio em todas as camadas sociais e eleitorais, por que será que a campanha Dilva 2010-Lula 2014 tem de deturpar tanto o que foi o governo do FH? Por que tanto medo em reconhecer que o Lula aprendeu a lição, ou pelo menos boa parte dela?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

MAIS MIGUEL





e não é que consegui por mais duas fotos aqui? como se pode ver, consegui ficar alguns minutos com o Miguel no colo. Não é que eu não tenha credenciais para tal, e sim que a disputa era grande. Foi preciso que as avós viajassem e os pais se distraíssem. Mas deu certo, e o Miguel também parece ter gostado. A terceira foto é a da Beatriz, neta também queridíssima, irmã mais velha do Miguel. A quarfta - se eu conseguir pôr - é do Eduardo com o Miguel. Vejamos.

MIGUEL CHEGANDO



Como sempre, tentando por fotos aqui e as coisas saindo de outro jeito. escolhi cinco fotos do Miguel - que chegou, triunfante, no dia 23 de outubro. Nao vou desistir, mas agoira ficam essas duas - a felicidade do André e da Dani na primeira conversa com ele, e o primeiro banho, na mão do pai. Ele está ótimo, gente. Uma ictericiazinha e um refluxete, coisas da vida. Além do que estão na moda. E Miguel é o último grito da moda!. E que grito. Tim tim.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

QUE PSICOTERAPIA É ESSA?

Publicado pela revista Psique, e está no portal Ciência e Vida)


Que psicoterapia é essa?

Por Ruy Fernando Barboza

Eu era psicanalista lacaniano e já tinha 44 anos quando tive meu primeiro - e dramático - contato com a psicoterapia corporal. Até então eu ficava sentado numa poltrona, atrás de meus clientes, que ficavam no divã falando e olhando o teto. Já tinha clareza de que não queria mais aquela vida. A convite de um amigo engenheiro que tinha tido câncer e queria montar um grupo de apoio, fui fazer um curso de psico-oncologia e, de repente - era uma ensolarada manhã de maio de 1987, no salão de uma pousada no Embu (município de São Paulo) -, vejo assustado, muito assustado, um grupo de pacientes de câncer e psicoterapeutas batendo as pernas, gritando palavrões e esmurrando almofadas.

Que loucura, que psicoterapia é essa? De início horrorizado, mas, ao mesmo tempo, comecei a ver que aquelas técnicas - o curso era vivencial, e todos nós passávamos pelas mesmas práticas - traziam, em mim mesmo, insights que oito anos de Psicanálise não tinham propiciado. Apaixonei-me por aquilo e saí à procura de uma nova formação. Acabei descobrindo essa genial criação de Alexander Lowen, a Análise Bioenergética, que em minha opinião é a melhor síntese (diagnóstica e terapêutica) das contribuições da Psicanálise combinada com uma visão energética dos processos físicos e emocionais (detalhes nos sites www.bioenergetica.com.br e www.analisebioenergetica.com. br, onde há também um texto meu relatando sessões e conversas que tive com Lowen).

Em minha visão, um dos conceitos fundamentais da Análise Bioenergética (utilizado também em outras abordagens, como a rogeriana), é o de congruência - que vejo quase como um sinônimo de saúde emocional e que deveria ser o objetivo declarado de toda psicoterapia. A congruência é uma harmonia, uma sintonia entre o que alguém sente, percebe que sente (há muita gente que, com a veia saltada no pescoço, grita que está calmo, e acredita nisso) e expressa o sentimento da forma mais pura possível. Se curei alguma coisa em mim nesses anos de estrada, isso pode ser avaliado pelo meu grau de congruência. Foi ele que, posso dizer sem medo de errar, salvou minha vida ou, no mínimo, apressou minha recuperação em todos os riscos que já houve para minha saúde e minha vida.

No risco mais grave que já vivi, fui atingido por uma bala perdida de fuzil, dia 30 de junho de 2002, no Rio de Janeiro. Um relato de pesquisa que li na época informava que de cada 27 baleados por fuzil que chegavam ao Hospital Miguel Couto - já que muitos vão direto para o necrotério -, apenas 5 sobreviviam, e desses 5 somente 2 sem sequelas graves. Minhas sequelas são muito desagradáveis, mas não virei um "vegetal" nem fiquei sem andar, dirigir (um carro automático), dançar e namorar (tudo um pouco pior do que antes, mas com razoável desempenho e muito prazer, diga-se de passagem). E em grande parte, devo minha saúde à Análise Bioenergética, que me propiciou descobrir meu direito ao protesto, à raiva, ao choro, à fragilidade, à expressão da impotência, do desespero e do medo, enfim, meu direito ao desbloqueio da minha energia e à harmonia do meu corpo.


RUY FERNANDO BARBOZA é psicólogo clínico e analista bioenergético certificado pelo International Institute for Bioenergetic Analisys (IIBA). Foi diretor do Centro Oncológico de Recuperação e Apoio (CORA). Assina a coluna Pergunte ao Psicólogo, no site da revista Claudia, (Editora Abril www.claudia.com.br) e apresenta o quadro Saúde & Tal no Canal Futura (Fundação Roberto Marinho)

sábado, 3 de outubro de 2009

ANIVERSARIO DO EDUARDO



Graças ao estímulo do Pituco (no comentário abaixo), consegui, embora mal e porcamente, botar a foto do jardinzinho que dei de presente aos meus netos. É a primeira foto, à esquerda, evidentemente, pô. A segunda, também à esquerda, é do Eduardo, no dia do aniversário de 3 anos, agora, dia 25 de setembro, em Taquaritinga. Ele, como você sabe, é meu primeiro neto. O segundo nascerá no final deste mês de outubro, e você o vê, no mesmo dia, à direita, na barriga da mãe, minha bela nora Daniele.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

AGUINALDO E AS MENTIRAS

Como já contei certa vez, Fernando Alexandre e outros amigos da praia do Saquinho, Ilha de Florianópolis, criaram o 25.o Concurso de Mentiras da Praia so Saquinho (começaram com o 25.o, e, entre outras sacadas, deram entrevista à imprensa revelando que os Amin e os Bornhausen tinham vencido vários dos concursos anteriores. Como estímulo aos novos concorrentes, transcrevo abaixo crônica do grande percussionista, poeta, escritor, e, melhor que tudo, meu bom amigo Aguinaldo Loyo Bechelli, que também se assina O Zingamocho. Ele fala por si...

MENTIRA É VERDADE QUE NÃO TEVE SUCESSO

- Se falando a verdade a gente já impressiona, imagine mentindo ! -


AGUINALDO LOYO BECHELLI


Dexameapresentá: sou Presidente de Honra do Clube dos Mentirosos de Santos. A sede é no Bar do Beto, no Marapé. Mereci livro de ata, diploma, troféu e carteirinha com fotografia. O presidente que me deu posse e condecorou foi o bom Celestino Perez Rufo, bem-humorado e sério. Mas como dizia Tio Catita, “sério é cu de porco e pisca”.

Elaborei os Estatutos do Clube, rascunhei uma crônica, a coisa foi tomando vulto, virou ensaio. Está na gaveta. Que nem maracujá, só depois de enrugadinho é que fica bom.

Enquanto isso, recolho subsídios. Por exemplo, recém inaugurou um bar aqui em São Paulo, com cabine telefônica equipada para emitir ruídos que simulam barulhos, a escolher: trânsito caótico, aeroporto congestionado, tiroteio, tempestade, raios, trovões, e sabe-se lá que mais fuzuês! Assim, graças a sonoplastia, a mentira fica vestida. Basta acionar o botão que mais convém ao mentiroso: “Olha benzinho, to aqui preso no trânsito, Engarrafou de vez. Tudo parado”. E tome buzina! Ao fundo, sirene compõe a trilha sonora. Dramatiza. Para maior autenticidade, voz grossa vocifera: “Vai pegá um tanque, dona Maria!”. Tipo de mentira com certa conotação de verdade quando o nêgo afirma que “engarrafou”.

Diz o psiquiatra que a massa branca do cérebro, mais densa, comanda a mentira. Já a cinzenta, da verdade, é ínfima. Será que é verdade ? Sabe como é psiquiatra!

Nêgo Lando, lá do cais do porto, não ia pra grupo. Rechaçava discurso de político: “Tenho pra mim que é bafo”.

Celestino conta: “Num domingo à tarde, plúmbeo (Que tal “plúmbeo?”) chuvinha pó-de-arroz, daquela triste, sem um tostão, deitado na cama patente, quis fumar. Acabaram os cigarros. Amassou o maço (Deixa assim, revisor), fez uma pelota, atirou numa aranha estacionada no alto, lá no cantinho do quarto. A aranha aparou a bolinha, devolveu pra ele. E como os dois nada tinham pra fazer, ficaram brincando, pinguepongueando”. Justíssimo, Celestino Presidente do Clube.

Já outro membro do Clube, o boa pessoa Quin, convicto, convence: “Vésperas de Natal, fui fazer retiro, amargurado com certas coisas. Enfiei-me num casebre no meio do mato, onde não tinha luz elétrica, nem vaga-lume. Quando o sol se pôs de cócoras trás-os-montes, peguei uma varinha, umas minhocas virgens, fui pescar num rio, logo ali. De repente, ouvi música alusiva – “Noite Feliz”. Ué! De onde vinha? Não tinha levado radinho de pilha e nas redondezas ninguém. Reparei que o som irrompia do meio do rio. Curioso, espetei a vara na terra, mergulhei. Sabe o que era? Alguém jogou um disco alhures (“Alhures!” - Quem aplica?), que lá encaixou e girava num rodamoinho. O anzol pegou bem em baixo do disco, tocava em alta fidelidade”.

Zé Faísca, sócio vitalício do Clube, gosta de contar: “Meu pai tinha uma loja de máquinas de costura. Os donos de máquinas antigas, “Singer”, daquele material de antes da guerra, pedal com base de chumbo, podiam dar de entrada pra compra de uma nova. As máquinas velhas, pesadonas, acumulavam no quintal. Para se livrar delas, nas festas juninas, o velho, popular Faiscão, fazia enorme balão de papel manilha, bocas com vergalhão de aço e mechas montadas em sacos de sessenta quilos. Pendurava as máquinas emprestáveis no lugar das lanternas. Tacava fogo no querosene até pegar no breu. No primeiro pingo, soltava. Pronto! Tchau ferro-velho. Tem mais. Papai calculava os ventos para o balão cair em alto mar”.

<>

Não me importo com a mentira. O que detesto é a imprecisão.
Samuel Butier

Não acredite em quem diz sempre a verdade.
Elias Canetti.

O meio de ser acreditado é tornar a verdade inacreditável.
Napoleão Bonaparte.

Em dúvida, diga a verdade.
Mark Twain.

Diga a verdade e saia correndo.
Provérbio Iuguslavo.

Cinema verdade ? Prefiro o cinema mentira.
A mentira é sempre mais interessante que a verdade.
Federico Fellini.

Que hei de fazer em Brasília ? Não sei mentir
Plagiando o poeta romano Juvenal. Sátiras I.3
“Quid Romae faciam? Mentiri nescio”


(Crônica publicada na Revista ELITE LUXURY – Nº 52)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

PARA UM AMIGO QUE PASSOU DOS 50

amigo velho,
permita-me aconselhá-lo, em nome da admiração mútua e da amizade. na minha eterna inquietude profissional não sou exemplo pra ninguém, mas ouso tomar-me como exemplo, mesmo porque sou o exemplo que mais conheço de perto... - como você sabe, sempre trabalhei muito e fui razoavelmente bem sucedido em três profissões, mas a época era menos, bem menos critica que a de hoje. chutávamos um emprego no meio da quadra e ao chegar à esquina já havia outro esperando. aí chegou um momento em que deixei, como atividade principal, o próprio jornalismo, achando que ele havia esgotado minhas possibilidades de realização (minha inquietude e rebeldia me levou a sair a casa dois anos, em média, de um emprego - só da Editora Abril saí cinco vezes), e, formando-me em psicologia, fui pro consultório, onde também, em media a cada dois anos, inventava um trabalho novo - trabalhei com empresas, com casais, com pacientes de cancer, com psicoterapia corporal, cognitiva e tinha começado na psicanálise, além de formar psicoterapeutas, de fazer treianemtn ode porta-vozes etc. E não se esqueça que, depois de me foprmar em direito, em 1965, eu advoguei dois anos e chutei o balde quando fui convidado pra ser sócio do escritorio, porque nao aceitava a corrupção na justiça e a fraude nos processos, tinha pesadelos etc.
E então, aos 50 anos, comecei, finalmente, a me preocupar um tanto com minha segurança. vi que a então recente constituição extinguira o limite de idade para concursos publicos, e prestei concurso para o judiciário federal, para o cargo de analista judiciário. meu objetivo era ter uma aposentadoria melhor que a do INSS. Só esse. coisa que antes eu consideraria de pessoa medíocre. muitos amigos talvez tenham dito que isso não me elevava profissionalmente, e certamente não me realizava. o trabalho que fui fazer lá era, de início, evidentemente, um trabalho menor, que um bom computador certamente faria melhor que eu. cheguei a duvidar se compensava ficar ali, na burocracia da justiça, e, ao completar dois anos, quis pedir exoneração. meu chefe, um sábio e ótimo amigo, me sugeriu uma opção: peça uma licença não remunerada de tres anos, pois daqui a tres anos voce poderá mudar de idéia. menos de tres anos depois, o mesmo amigo, assessor do então presidente do tribunal, sugeriu meu nome para assessor de comunicação da presidencia, e voltei ao tribunal. foi ótimo. o presidente era uma pessoa fantástica, deu-me toda liberdade para criar uma assessoria (antes só havia o cargo, mas não uma assessoria - o cargo era dado a pessoas de quem o presidente gostasse, e o assessor limitava-se a fazer festinhas e cerimonias oficiais. eu montei uma boa estrutura de comunicação, além de jornais e murais internos, um site e ainda montamos um projeto de programas de tv - e num congresso do judiciario federal e de assessores de tribunais, em Gramado, RS, apresentei a sugestão de um anteprojeto de lei para a criação de uma tv para o judiciário - já que a lei só previa, até então, espaços para o legislativo e para o executivo na midia eletronica. como resultado, em parte, dessa sugestão - e a da iniciativa de outras pessoas que, em esferas altas do judiciario, em brasilia, se empenharam na coisa - hoje existe a TV Justiça.
o que eu quero te dizer com tudo isso? que talvez, na tua idade, você esteja em situação parecida com a que eu estive, e deve começar em pensar na tua segurança e estabilidade, meu amigo, pois o resultado pode ser parecido. Eu me aposentei, e hoje posso viver só da aposentadoria, e fazer, profissionalmente, o que gosto, ou simplesmente me divertir, as diversões que a velhice permite, é verdade, mas são muitas, garanto. Além do que, se eu ainda fosse um psicólogo ou um jornalista autônomo, como eu era até fazer o concurso, teria literalmente me ferrado ao levar o tiro de fuzil em 2002 e ficar mais de um ano sem trabalhar, além de ter as limitações que tenho hoje. Os traficantes que mandaram a bala perdida tiveram, sem saber, o cuidado de esperar eu me aposentar para me fuzilar.
Em resumo, meu querido: já que você, como eu, não se preocupou em fazer patrimonio, em poupança (essas duas palavras, assim cpomo aposentadoria, me soavam horríveis, ridículas, mas agora até que acho simpatiquinhas) faça um bom concurso, vá para um bom emprego público, segure as pontas por um tempo, que vale a pena. e estar em brasilia sempre facilita surgirem chances e oportunidades.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

PARA UM PADRE SAFADO

Padre querido,
por pouco não fui com a nossa monica ao lançamento do teu ultimo livro (já li, é um barato, dá saudade), o "desculpe, sou de bagé, onde fica mesmo o clitóris?" (e a moça na praia responde "canadensa, nao fala portugues", mas isso voce nao conta...)
nao fui ao lançamento, como dizia, porque estava em floripa, mas a monica me emprestou o livrinho - meu preferido ainda é o lobisanjo, porem (deu o livrinho pro Ibrahim? deu o livrinho pro Nadruz?), com a pureza dos padres virgens...
se tiveres tempo de ir lendo o meu blog, saberás que passei por muitas e más, mas também por muitas e boas, querido. até o primeiro semestre agora dezesseis cirurgias e alguns perigões. mas esse maldito bom humor, como dizia o george love, não se desprega de mim, e alegrias também não faltam, como hoje na usp, uma alegria imensa ao ver a revolucionária tese vestigios do dizer de uma escuta, da juliana, de doutorado (totalmente na primeira pessoa e calcada na experiencia e na criatividade dela na preparação de atores e na relação da pessoa com o texto, a palavra, falando assim nem se sabe o que é, mas é muuuito maravilhosa!), ser aprovada, elogiada, estimulada. a marilda indicou e eu te reindico, pois vais te divertir: vai ao you tube, busca o meu nome - ruy fernando barboza, assim como se escreve e aparecerão as 8 musicas galhofeiras, eu cantando. depois me conta o que jesus achou.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

EU NO YOU TUBE

cOMO ANUNCIADO, domingo o Paulo Galleta, grande arquiteto e DJ da Ilha de Florianópolis, me botou na página dele no You Tube, a DJgajeta. Os links para as minhas músicas são estes que se seguem. O Luís Nassif anunciou no blog dele, e com isso as musicas estao bombando! Eu não disse que seria minha consagração definitiva? Vai lá que vai ser divertido:
Pederasta http://www.youtube.com/watch?v=EGBlGoizlCg&feature=channel

Bom Jesus do Pirapora http://www.youtube.com/watch?v=JmQ_D9mDC6I&feature=channel

Pato no Tucupi http://www.youtube.com/watch?v=0zNDjhKOCh8&feature=channel

Ovelha Zelinda http://www.youtube.com/watch?v=3o5uqjy1ryY&feature=channel

Marcha do Pirulito http://www.youtube.com/watch?v=MAKurAw1XhY

Tudo mudado http://www.youtube.com/watch?v=esc0B3R-giA

Procotolo http://www.youtube.com/watch?v=SaQiPKpdhCY

Amada na pia http://www.youtube.com/watch?v=f9KtTVET5YI

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

PARA PAULO E CHICO CARUSO

Em homenagem a Paulo e Chico Caruso, publico aqui as letras das minhas músicas que eles mais gostam, e que tanto alavancaram minha carreira artística, até meuj ostracismo (consumo regular de ostras) na Ilha de Santa Catarina, onde, aliás, amanhã vou fazer uma gravação com meu amigo aquiteto e DJ Paulo Galleta, para a página dele no You Tube. Tenho certeza que será minha consagração definitiva.

PEDERASTA

SOU PEDERASTA, NÃO PRECISO ESCONDER
SOU PEDERASTA, O DESTINO QUIS ASSIM
SE DOIS HOMENS SE AMAM TÊM O DIREITO DE JUNTOS VIVER
ISTO NÃO É IMORAL, E NINGUÉM VÁ RIR DE MIM

POR TANTO TEMPO NÓS VIVEMOS BEM JUNTINHOS
O NOSSO AMOR FOI DENTRE TODOS O MAIS PURO
TEUS LABIOS EM MEUS LÁBIOS, A SALIVA ERA UMA SÓ
TE DEI CASA E COMIDA, GARANTI O TEU FUTURO
MAS QUISESTE TROCAR-ME POR UMA MULHER
SEDUTORA, É VERDADE, MAS SEM BRIO
E AGORA, QUE ELA NÃO MAIS TE QUER
VOLTAS PRA MIM, SENTES FOME, SENTES FRIO

POIS VAI-TE EMBORA, NÃO MERECES MEU PERDÃO
VAI SACIAR TUA FOME DE AMOR JUNTOL À PROSTITUIÇÃO
POIS VAI-TE EMBORA, EU JÁ TENHO OUTRO RAPAZ
E NO MEU COLCHÃO VOCE NÃO EJACULA MAIS

PATO NO TUCUPI

O PATO NO TUCUPI QUE EU COMI LÁ EM BELEM DO PARÁ
PRECISO VOLTAR PRA LÁ
PRECISO VER GABRIELA, MEU DEUS DO CEU, QUE NOITE FOI AQUELA
EU FUI JANTAR COM ELA
E, QUANDO OLHEI BEM ALI, NO MENU, VI, PATO NO TUCUPI, E COMI
PATO NO TUCUPI E COMI...

SEI QUE VOU VOLTAR NOVAMENTE AO PARA, VOU PRA LÁ
NÃO POSSO MAIS VIVER SEM TER OUTRA VEZ O PRAZER DE COMER
NÃO POSSO MAIS PENSAR QUE ELA ESTÁ A ME ESPERAR NO PARÁ
E QUE UMA NOVA NOITE ASSIM POSSO TER SO PRA MIM
COMENDO, COMENDO, COMENDO O PATO NO TUCUPI...

OVELHA ZELINDA

MINHA OVELHA ZELINDA, VEM FAZER AMOR COMIGO
MINHA OVELHA ZELINDA, HOJE EU QUERO TEU UMBIGO
VOU ROÇAR-ME INTEIRINHO NESTE TEU CORPO MACIO
QUE É MELHOR QUE UM PORQUINHO, MELHOR QUE UM GATINHO
OU QUALQUER OUTRO AMOR QUE EU JÁ TIVE OU TEREI

MINHA OVELHA ZELINDA, VEM CHEGANDO DE MANSINHO
TEU OLHAR ME ENTERCECE, TEU CORPO ME AQUECE, EU FICO DOIDINHO
EU NEM SEI QUE SERÁ DO MEU POBRE VIVER SE UM DIA EU VIER A TE PERDER
E O TEU LINDO FOCINHO ALGUM OUTRO CHEIRAR EU NEM QUERO PENSAR NO QUE VAI HAVER

MINHA OVELHA ZELINDA, EM LAMBER MEU CALCANHAR
QUE ISSO É PROVA DE AMOR, VEM O TEU AMOR PROVAR
E ASSIM HEI DE SEMPRE, SEMPRE, SEMPRE TE ADORAR
E PROCLAMAR
MINHA OVELHA ZELINDA, BICHO QUENTE PRA DANAR, PRA DANAR

MARCHA DO PIRULITO

ESTE ANO EU NÃO VOU SAIR DE PIERRO MAS VOU ME FANTASIAR
ESTE ANO VOU SAIR DE PIRULITO SÓ PRA VOCE ME CHUPAR
É UMA CHUPADA AQUI, OUTRA CHUPADA ALI, OUTRA LÁ, OUTRA ACOLÁ
VOU BRINCANDO E VOCE VAI ME CHUPANDO ATÉ O DIA CLAREAR

BOM JESUS DO PIRAPORA

O DOTO TE FICO TRISTE QUANDO ME INZAMINOU
FEZ MASSAGEM FEZ DE TUDO MAS DE NADA ADIANTOU
DEU ENTAO O DIGUINOSTO QUE NEM DE ALEMBRÁ EU GOSTO
DISSE É PENA MEU RAPAZ, ELE NÃO LEVANTA MAIS

EU EXPRIMENTEI DE TUDO, REZA BRAVA, MINDUIM,
TOMEI CANA E CATUABA QUE É BOM PRA DEPOIS DO FIM
RESOLVI SUICIDA, FUI PEGA MINHA GARRUCHA
QUE ACABO-SE A MINHA PAIZ, ELE NUM LEVANTA MAIS

CUMPANHERO NESSE INSTANTE QUE EU JÁ IA ME MATÁ
UM A VOZ BEM CAVERNOSA ME ARREGAIO O OIA
DISSE NUM SE DISISPERE QUE ISSO CURA E NUM DEMORA
SE OCE ACENDE UMA VELA PRO JESUS DE PIRAPORA

TODA A TERRA ENTAO TREMEU, A VOZ PARO DE FALA
EU NEM PENSEI EM MAIS NADA, QUERIA PIRIGRINA
SAI MESMO COMO EU TAVA, COMPREI CEM DUZIA DE VELA
NEM LEMBREI MINHA VIOLA, FUI DE JUEIO ATÉ LA

FOI DEZ DIA SEM CUME SEM BEBE E SEM PARA
CEM DUZIA DE VEDLA É MUITO PRUM CABOCO CARREGA
EU INTGÉ QUE ACHAVA LEVE POR CAUSA DO MEU PENSA
MEU PENSA ERA SÓ ESSE – ELE TEM DE LEVANTÁ

LA NO ARTO DO ESPIGAO SINTI QUE O MILAGRE VINHA
ELE INTE TRIMILICOU DE TANTA EMOÇAO QUE EIU TINHA
REZEI TRINTA PADRE NOSSO, CENTO E TRES AVE MARIA
SO LATIM QUE EU NÃO FALEI PORQUE A LINGUA NÃO SABIA

PRICUREI O SEU VIGARIO PRA MODE ELE ME ESCUITA
MOASTREI PRELE O QUE QUE EU TINHA, ELE BENZEU E FALO
VAI CORRENO PRACAPELA ACENDE TUDESSAS VELA
E MOSTRE PRO SANTO LÁ O QUE VEIO ME MOSTRA

CHEGUEI PRO SANTO REZANO, LOGO FUI TUDO MOSTRANO
VI QUE ELE PRESTO ATENCAO, O MILAGRE FOI SE DANDO
ELE FOI SE ALEVANTGANO QUE FELIZ AQUELA HORA
BENDITO SEJA PRA SEMPRE O JESUS DE PIRAPORA!




TUDO MUDADO

SAUDADE, DOÍDA SAUDADE DAQUELA AMIZADE, DAQUELE CALOR
SERÁ QUE VOCE AINDA GOSTA DA VOZ DA GAL COSTA, DO HUMOR DO MILLOR
POIS TUDO MUDOU E PARECE QUE UM DIA A GENTE ACORDOU
OLHOU NO ESPELHO E NO MEIO DO EMBAÇO, UM ABRAÇO, PRA ONDE SE FOI?

FUI AO NOSSO BAR QUE AGONIA OUTRO DIA MARIA, NÃO TEM NADA A VER
SÓ VI GENTE QUE HÁ MUITO TEMPO NÃO VIA MAS PORQUE NÃO QUERIA VER
AQUELE GARÇOM ENGRAÇADO ESTÁ PRESO ESTUPROU UMA MENOR
EU DIGO TÁ TUDO MEXIDO, TA TUDO MUDADO E FOI PRA PIOR

AMADA NA PIA

CHEGUEI EM CASA CANSADO DE TRABALHAR DURANTE O DIA
FUI A COZINHA E NÃO ENCONTREI MINHA AMADA NA PIA
CHOREI E FUI A VIZINHA PERGUNTAR SE ELA SABIA DO DESTINO DE MI AMADA
A VIZINHA RESPONDEU SORRINDO ELA ESTÁ AQUI VEIO PEDIR UM A PANELA EMPRESTADA

PROCOTOLO

NÃO IA DEVORVER O PROCOTOLO PORQUE ELE TINHA O AUTOGAFRO DAQUELA MULHER
NÃO IA DEVORVER O PROCOTOLO PORQUE ELE TINHA A ASSINATURA DELA
PENSEI DIAS E NOITE, PENSEI DURANTE UM MÊS
E TIREI UMA FOCOTOPIA DO PROCOTOLO
E DEVORVI O PROCOTOLO OUTRA VEZ
PRA ELA EU NUM FUI MAIS QUE UM FICE BOI
QUE LEVAVA UM PAPEL SEM IMPORTANCIA QUE ELA ENTREGOU
NUM DEU PRA MIM NEM UM OIÁ
SÓ FIQUEI CO A FOCOTOPIA DO PROCOTOLO QUE ELA ASSINOU – NUM IA...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O CORNETEIRO QUASE SEM CALÇAS

O CORNETEIRO QUASE SEM CALÇAS
O ano deve ser 1967. Costa e Silva já era o sucessor de Castelo Branco na Presidencia. Eu era repórter politico na folha de s. paulo. a poucos metros da nossa editoria, ficava a da folha ilustrada. ali se sentava o falastrão colunista socil José Tavares de Miranda, pernambucano de nascimento, e que, comunista quando jovem estudante de direito na sao francisco, morara na casa dos Silva Telles e era amigo de Goffrredo e Inácio, embora Inácio na época fosse integralista. Tavares caminhou para a direit e, em 1964,apoiou o golpe militar e tonou-se amigo de Costa e Sillva, que votou em Tavares quando de sua fracassada candidatura a deputado federal em 1966. Bem,Tavares se intitulava Zé Corneteiro, dizendo-se o Corneteiro da Revoluçao. Desnecessário dizer o quanto o detestávamos. Na mesma medida,simplesmente adorávamos o velho Aristides Lobo, meu padrinho de casamento, velho militante de esquerda, preso 29 vezes pela ditadura getulista, tradurtor de Rabelais, trotsquista desde que, em 1938, Leon Trotsky rompeu com o PC soviético e fundou a chamada Quarta Intenacional. Já por volta dos 70 anos e bem mais velho que Tavares, Aristides então se dizia anarquista. Era de uma coragem a toda prova e desprezava as bobagens que Tavares dizia na redaçao, defendendo a direita. Mas nunca se recusou ao desagradável trabalho de copidescar seus textos, recheados de invencionices bobas como era costume dos colunistas sociais da época , colando com cuidado uma lauda na outra, fazendo titulinhos e editando as noticinhas sociais e politicas com que Tavares puxava o saco de granfinos e generais. Um dia Tavares resolveu adotar o neolgismo "de bate-pronto", significando rapidamente, imediatamente ou algo parecido. Citando algo que alguém perguntara, escreveu na coluna "e eu, de bate-pronto, respondi...".
Editando a coluna,e Tavares não estando presente para ser consultado, Aristides achou que tinha sido um cochilo de Tavares e substituiiu "bate-pronto" por "bate-papo". Pra quê...
No começo da tarde seguinte, Tavares irrompeu como um leão ferido na redaçao,aos berros, querendo saber quem editara sua coluna no dia anterior. Aristides se levantou, já também gritando, "Fui eu, por quê?"
"Você trocou bate-pronto po bate-papo, desrespeitando o meu estilo".
"Porque bate-pronto não existe, é besteira. E o seu estilo 'imbecil" - disse, firme, Aristides, e, não contente, acrescentou, avançando para o Tavares de Miranda:
"Voce é um palhaço, um moleque, e o máximo que merece é que eu tire as suas calças. E vou tirá-las JÁ!".
Agarrado, creio que por Aroldo Chiorino, Americo Mendes e Lenita Minda de Fiqueiredo (eu e Adones de Oliveira ajudamo), Aristides não chegou a tirar as calças do assustado Tavares, que achou melhor se retirar temporariamente da redação. Dia seguinte, comendo na casa de Aristides (meu vizinho na rua Maria Antônia) uma boa refeição macrobiótica e comentando o episódio, sua linda mulher, Carolina, lhe perguntou se ele de fato iria tirar a calça de Tavares. Ele respondeu,sério e maroto ao mesmo tempo:
- Não tenha a menor dúvida. Tão certo quanto o fato de que jamais vão me dar de novo aquela coluneca pra preparar!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

LULA E SEUS ALIADOS

Recebido agora do lúcido e honesto amigo Duarte Pereira:
"As últimas semanas evidenciaram o caráter centrista do governo Lula: condenou a instalação de bases estadunidenses na Colômbia, mas trouxe os senadores José Sarney, Fernando Collor e Renan Calheiros de volta ao primeiro plano da política nacional da maneira mais irresponsável.
A essa política dúplice de forças de centro e de direita, as forças democráticas populares e progressistas têm que responder com uma política igualmente dupla: apoiar a condenação das bases estadunidenses na Colômbia, exigindo que ela se torne mais clara e firme e seja acompanhada pelo reforço da defesa militar de nossa fronteira terrestre, de nosso espaço aéreo e de nossa soberania, principalmente na Amazônia; e opor-se, sem meias palavras, à aliança eleitoreira e retrógrada do governo Lula, da maioria do PT e de seus aliados considerados de esquerda com a trinca sinistra formada pelos senadores José Sarney, Fernando Collor e Renan Calheiros.Quem poderia imaginar que iríamos assistir, em tão pouco tempo, a essa reaproximação indecorosa entre políticos que já trocaram, inclusive, pesados ataques pessoais? Indignado, Duarte Pereira"

domingo, 2 de agosto de 2009

MAMÃE QUEBROU O FÊMUR

Escrevo no teclado de minha mãe, em Londrina. O teclado só me obedece a cada trinta segundos. Vínhamos pela Washington Luís de Taquaritinga, depois de uns dias maravilhosos com meu neto Eduardo (por falar nisso ontem inaugurou a petshop das meninas, a Turma do Focinho, com seus métodos revolucionários de adestramento, que atenderá a Grande Taquaritinga, o que inclui São Carlos, Araraquara e Ribeirão Preto), e o Carlos me avisou pelo celu que minha mãe tinha caído na cozinha e feito um corte na cabeça. O corte foi o de menos. A cirurgia para por a prótese no fêmur direito, que ela fraturou, foi domingo passado. Ela mora(va) sozinha e vim dar a pouca força que tenho. Mas agora já estou sendo quase desnecessário, pois ela conseguiu duas excelentes cuidadoras, mais uma faxineira. Sem falar nos cuidados permanentes e no grande afeto de Cida e Doc. Mais uns dias e darei sequência a minha programação floripa-sampa-taquaritinga, agora inclouindo mais frequentemente londrina e curitiba. Como é bom ser jovem e ter saúde, ó meu querido menino jesus!

terça-feira, 14 de julho de 2009

A FAVOR DA EUTANÁSIA

Anteontem vimos Há Tanto Tempo que te Amo (?), filme francês dirigido pelo escritor PhiliPpe Claudel e com aquela ótima e de olhos bonitos atriz do A Fraternidade é Vermelha. Há um certo suspense em torno do fato de que ela matou o filhinho porq1ue ele tinha uma doença terrível e fatal, mas, por alguma razão, logo que ela conta que matolu o filho achei que só podia ser eutanásia. Eles não iam pôr uma mulher bonita e interessante daquele jeito, mesmo o filme sendo francês, matando um filho por maldade. Só podia ser por bondade, e era. Coincidência. Eu há poucos dias conversava com o Carlos sobre a necessidade de adotarmos a eutanásia, pelo menos entre os amigos. Não é justo deixarmos pessoas ótimas sofrendo, agonizando, anos a fio, sem esperança alguma de cura ou melhora. O filme é meio bobo (embora tanto uma pessoa ao meu lado na fila do cinema tenha recomendado, “é lindo, é lindo”, e em seguida um casal de amigos queridos que encontrei, “é lindo, é lindo”. É meio bobo imaginar que uma mãe mata o filho e depois se cala sobre os motivos e passa calada 15 anos presa pelo assassinato. É bobo também imaginar que uma criança fica agonizando até a mãe matar e ninguém mais fica sabendo, nem o marido, nem a irmã, nem amigos, nem empregada, ninguém. Bobagem. Bom, mas é lindo, tudo bem. Eu e Sílvia concordamos, ao voltar na chuvinha e frio para casa, que não nos referiríamos ao filme como é lindo. Mas tudo bem, é lindo.
No cinema comprei o livro Flores, do mexicano Mário Bellatin, e já estou lendo. É lindo. Ele não cita nominalmente a Talidomida, mas é uma excelente ficção em torno das vítimas da talidomida, aquele calmante que deram a milhares de grávidas em todo o mundo nos anos 50, e que produziram aqueles milhares de crianças sem braços nem pernas, ou com pedaços retorcidos de braços e pernas. O livro fala, no trecho que acabei de ler, de uma mãe italiana que jogou o filho sul-americano adotado nos trilhos do metrô. Coincidência. É trágico, é... lindo?
Mas, de qualquer forma, a eutanásia em que pensamos, eu e Carlos, é para nós, velhos, mas não agora, por favor, não distorçam as minhas palavras, não as usem no momento errado, é para quando estivermos agonizantes, pois não queremos ficar como aqueles lamentáveis velhos e velhas naquele ambiente horroroso de casas de repouso, gemendo, tremendo, esquálidos, inexpressivos, sobreviventes. Queremos a eutanásia, enquanto ainda estamos nos divertindo um tanto.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Alberto El Gato Carbone

Chega um ponto na vida em que os amigos começam a morrer, e essa coisa é como o tal fogo morro acima. Depois não vai mais dando tempo de chegar aos amigos antes da morte (deles). Ultimamente tem acontecido muito mais do que eu mereço. Lembro de um amigo querido que não vejo há muito tempo, tento matar a saudade e que nada. A saudade fica imortal, porque o amigo se foi. Anteontem, decidi-me a procurar e encontrar de qualquer jeito um personagem que só quem conheceu sabe a maravilha que era. Ficamos amigos na primeira vez que saí do Brasil, para ter emoções que também só quem viveu saberia. Sair daqui em plena ditadura Garrastazu Medici para presenciar e vivenciar, aqui mesmo do ladinho, o ultimo surto de democracia uruguaia antes do golpe militar bordaberrista, a campanha da Frente Ampla, ainda com os tupamaros e tupamaras aprontando o diabo, operários tomando a universidade e coisas que tais. Um dia conto melhor, mas preciso dizer que participei de reunião com o Mario Benedetti (outra maravilha), entrevistei longamente o Eduardo Galeano - que ainda não escrevera o Venas Abiertas, o velhinho economista Vivian Trías (que acabara de publicar um livro prevendo a Queda do Império e propondo a nacionalizaçao dos bancos) , o senador Zelmar Michelini (assassinado depois pela AAA argentina), sem falar no Wilson Ferreyra Aldunate e no general Liber Seregni e mais um montão de gente, com o coraçao aos pulos de felicidade. Pois quem me abriu dezenas de portas no Uruguai, me recebeu em casa e me levou a todos os lugares, foi o Alberto Carbone, que na época trabalhava no diário La Idea - tive o orgulho de sentar-me ao seu lado e ajuedá-lo a redigir a manchete de uma das edições, anunciando a fuga da prisão, por um túnel, de 74 mulheres tupamaras, brincando com um famoso anuncio de café (o Saint-Café) que terminava com uma frase em português - era um brasileiro dizendo que o que gostara mais no Uruguai era o café, "E As Mulheres Também, Há!". Era um espírito militante e inflamado, adorava um bom vinho, um mate, uma grapa. E cozinhava belos assados. Tempos depois, foi minha vez de recebêlo no Brasil. Abrimos para ele as portas do Departamento de Documentação da Abril, então gerenciado pelo bom amigo e belo caráter que é o jornalista Juca Kfouri, e Carbone ficou morando meses em minha casa, depois na casa de meu irmão, e tentamos retribuir a generosidade e a hospitalidade uruguaia. Depois ele foi morar na Argentina, e de vez em quando nos mandava um fugitivo do regime, que tentávamos ajudar ou encaminhar como podíamos. Um deles foi o talentoso compositor e cantor Poni Micharvegas, abrigado por meu amigo Oswaldo Catan, que conseguiu levantar uma boa grana para que ele se mudasse para a Espanha. Pony chegou a fazer um belo show na Bahia, creio que no Teatro Castro Alves, graças a Catan. Mas perdi o contato com Carbone, embora soubesse que ele continuava morando na Argentina, onde seguia com sua carreira jornalística. Anteontem, como dizia, decidi procurá-lo, pensando em revê-lo, ou ao menos telefonar-lhe e charlarmos um tanto, como merecemos. Então descubro, pelo Google, que na os Argentinos lhe acrescentaram o apelido de El Gato, que publicou um belo romance, que teve quatro filhos, netos e netas e, bosta, que morreu de câncer no dia 16 de abril de 2005. Nessa época, professava uma doutrina anarquista-cristã-peronista, que seus amigos mais proximos, militantes e intelectuais que escrevem sobre ele, confessam não entender muito bem. Mas tipos como Carbone não precisam ser entendidos. Vieram, como alguns outros santos amigos que tenho por aqui, só para nos fazer bem, amar-nos e serem amados, com esse imortal afeto e eterna saudade.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

PALÍNDROMO DO CHICO BUARQUE

Num esforço de memória, fui lembrando, fui lembrando e lembrei o palíndromo do Chico Buarque prometido estes dias. O que foi publicado no Pasquim paulista. Antes, pequeno intróito para fazer inveja aos admiradores mais jovens do Chico. Provavelmente ele, o Chico, não se lembra de mim e, se eu fosse ele, também não lembraria. Mas fomos contemporâneos de USP (ele na FAU, eu na São Francisco), e, como ele tem um ano menos que eu (Chico nasceu no dia 19 de junho de 1944, e, como diz o meu amigo Homerinho, cunhado dele, essa geraçao, a de 44, é importantíssima e rara, pois ela só ocorre de 100 em 100 anos), fomos da mesma geração, e tínhamos muitos amigos comuns. Chegamos a conversar sobre coisas banais, um tanto, algumas vezes, em bares e numa festa na rua Veridiana em que ele cantava musiquinhas italianas, uma delas tinha na letra C'è una barcheta não sei que in mare, che non voleva piu navegare. Os bares foram o Jogral, o Sandchurra, na Galeria Metrópole, e a Quitanda. Cantamos no mesmo show, pelo menos duas vezes. Uma no teatro Leopoldo Fróes, numa homenagem ao João do Vale, e outra no Teatro Paulo Eiró, num show em que a grande estrela foi o Johnny Alf. Neste ele cantou a Marcha paa um Dia de Sol, quero ver um dia uma só cançao etc... Já na época eu era, como sou até hoje, admirador, fã total do Chico. Quem estava sempre junto, nessas ocasiões, eram o Taiguara, que estudava direito no Mackenzie, e o Toquinho, que, acho, já começava a tocar profissionalmente. Chico é uma pessoa sem defeito nenhum, como sempre insisto, e sempre foi muito melhor do que as outras pessoas, em tudo. E sempre me impressionou a honestidade transparente dele, em tudo. Não tentem falar mal do Chico perto de mim. Não deixo. Bem, o Pasquim pediu uma colaboração ao Chico e ele mandou dizer que não conseguia escrever nada, mas que podia mandar um palíndromo. Eu disse, no outro texto, que falava em bisnaga ereta. pois fala mesmo. É: ATÉ REAGAN SIBARITA TIRA BISNAGA ERETA. Reagan, ó jovens, era na época presidente dos Estados Unidos, depois de ter sido um ator canastrão de filmes de caubói. Era velho. Sibarita vejam no dicionário, que não vou ficar entregando tudo assim de mão beijada, e é bom que vocês pesquisem um pouco por conta própria. E o sentido filosófico, a grande lição de vida que pode ser tirada do palíndromo do Chico é que ter uma grande ereção não faz de você umser melhor que os outros. Se o Chico fizesse esse palíndromo agora, os inimigos iriam dizer que é porque ele tem 65 anos (um menos que eu, eu disse). Mas ele palindromou faz uns 25 anos, e não tinha nenhum interesse pessoal no assunto, pois. Ele é mesmo sábio desde menino.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

QUINZE CONTOS CURTOS

Meu amigo Paulo Campanario me disse para procurar na Internet, no Blog do Língua, a interpretação do Carlos Melo de O Pederasta, brincadeira musical minha. Está no You Tube, e vale mesmo a pena ver. Ao procurar, tive uma emocionante surpresa: um depoimento de Feitosa Gonçalves sobre a importância que teve para ele um texto que publiquei na Caros Amigos há mais de dez anos, falando da minha imensa admiração pelo Chico Buarque. Caramba, agora não me lembro mais como foi que isso me levou a reencontrar estes contos curtos que se seguem. Se eu descobrir conto. De qualquer forma, reli esses continhos e vejo que eu estava bem deprimidinho quando os escrevi. Ah, lembrei por que o Feitosa me fez lembrar desses contos: foi porque ele disse que o Chico Buarque gosta de fazer palíndromos, e um dos meus contículos é o palíndromo fula massa assa maluf. No pasquim paulista, no qual eu tinha uma coluninha chamada cuca fundida, o chico publicou um palíndromo, como era mesmo? falava em bisnaga ereta, parece. se eu lembrar, transcrevo, promessa. Agora seguem os meus continhos.

(escritos na manhã de 25 de abril de 2004, depois de ler “Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século”, da Ateliê Editorial, ganho de Moema Cavalcanti)


ZEN
Às oito eram nove, fazendo meditação. Às três, quatro mataram cinco.

ATRASO
Quando a bala perdida me pegou, eu tinha 59 anos e uma vida inteira por trás.

BUARQUES
- Filho do Aurélio?
- Não, do Sérgio.
- Por isso que não é um chato.

INTERESSES
Acorrentado prometeu, implorou por ajuda.
Abutre:
- Corrente dura, fígado macio.

ESTÉTICA
- Tatuagem maneira. Descolou onde?
- No Rio. Três balas perdidas.

INCONDICIONAL
- Promete nunca me deixar que eu prometo nunca te cobrar nada.

PALÍNDROMO
Fula massa assa Maluf.

INADIMPLÊNCIA
Ó Senhor, bem que fiz a minha parte. Vós É Que Sois um Tratante.

SINAL
- Então fica combinado assim: quando você gozar, dá um sorriso.

PRECONCEITO
Tesão tinha, orgasmo também, mas perdeu a ereção. E a homofobia:
- É que agora eu sei como se sente uma lésbica.

CULPA
Se ele atrasa um pouco, acho que está com outra. Se atrasar mais, acho que o mataram. Se não voltar, eu me mato.

SEPARAÇÃO
Primeira noite sozinho, acordou de pescoço duro:
- Pelo menos o travesseiro eu devia ter pegado.

IMPREVISTO
- De fato, íamos fazer uma Revolução. O problema é que ganhamos a eleição.

BLITZ
- Sou padre e posso provar. É que hoje só saí com a carteirinha de pedófilo.

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POESIA
Leu seus versos e teve um orgasmo. Levou-o para a cama, nem metáfora.

OS AGROTÓXICOS ESTÃO EXTINGUINDO AS ABELHAS. E SEM ELAS NÓS MORREMOS

sabe por que as abelhas estão morrendo? pra voce saber, copio crônica de luís eduardo cheida, do boletim londrix:
.................................................................
BYE BYE BYE
Se as abelhas desaparecerem, ao homem restarão não mais que quatro anos de vida
Luiz Eduardo Cheida (*)

Com um pouco de esforço, algumas tinturas, quatro asas, e um espartilho disfarçando a barriga, consegui entrar na colméia. Era cedo e a maior parte das operárias já batia o ponto longe dali.
De entrada, varejei pra longe, no safanão, um zangão que me olhava interessado nas partes subalternas.
- Respeito é bom e todo mundo gosta! – gritei.
A sociedade, e até o que apanhou, ainda com as seis patas pra cima como quem andasse de bicicleta, aprovou.
Sob disfarce, estava ali para investigar o sumiço de abelhas. Revistas especializadas davam conta de que, nos últimos dois anos, só nos Estados Unidos, 37% das colméias acabaram.
- No Brasil também houve grandes perdas. Também na Austrália, China, Canadá e outras regiões – eu gesticulava para chamar a atenção - Um terço da produção agrícola mundial depende das abelhas. As monoculturas demandam intensa atividade polinizadora por curtos períodos do ano.
- E os morcegos? E as abelhas silvestres? A sonoridade da voz não deixou dúvidas. Curvei-me, respeitosamente: - Majestade...
- Por favor, continue – ela disse, saboreando um naco de geléia real.
- Eles não dão conta. Só vocês, digo, apenas nós, organizamos exércitos polinizadores em qualquer época, onde haja flores a visitar – respondi.
- Um altruísta entre nós! – sorriu ela, fixando seus cinco olhos em mim.
- A rainha tem ciência de que, se continuarmos sumindo, ficarão sem polinizadores as culturas de milho, batata, trigo, arroz, frutas, legumes, brócolis, conservas e até o leite de vaca! Uma desmoralização para nós.
- Leite? – estranhou uma operária bebê, cheirando o ar com suas antenas.
- Sim – socorreu um idoso zangão – nos milhares de vôos nupciais de que participei, e retornei de mãos abanando, pude ver que vacas confinadas exigem ração rica em proteínas, que depende de polinização. E, aproveitando: - Mas, o que tem feito nossos parentes desaparecerem?
- Má nutrição é uma delas. Não temos mais a variedade de flores para coletar alimento. Os cultivos em grandes extensões não deixam mato ou cerca viva.
Extensos gramados, para nós polinizadores, são como desertos. As defesas naturais das abelhas podem estar enfraquecidas por má nutrição.
Eu ia falando e o povinho ia chegando mais perto. A rainha, com um lenço bordado, enxugou uma pocinha embaixo dos olhos. Continuei:
- Análises de amplo espectro, sensível a fungicidas, inseticidas e herbicidas, revelou mais de 170 substâncias diferentes no corpo das abelhas, a maior parte armazenadas de pólens.
- Tonteia, mas não mata – zuniu uma ofegante operária que chegava.
- Diretamente, não – eu disse – entretanto, eles inibem nossas respostas imunitárias. Ficamos mais vulneráveis ao ataque de ácaros e vírus. Por sinal, o vírus da paralisia aguda israelense (IAPV) tem matado muitas das nossas por convulsões paralisantes.
A colméia estava muda. Pisei mais fundo:
- Em Brotas, no vizinho estado de SP, em um único caso, a pulverização aérea exterminou 200 colméias! Exposições a doses subletais de veneno fazem abelhas perderem a direção do caminho de casa. E, desaparecem.
- Pensei que a gente fosse importante... – encolheu-se a pequena operária.
- É claro que somos! – amparei-a, como quem tirasse uma faca de seu peito – Veja você: uma única abelha, em busca de pólen e néctar, visita 10 flores por minuto. Ao fim de um dia, fazendo em média 40 vôos, ela toca 40 mil flores. E, uma colméia chega a ter 80 mil abelhas. Para chegar a 1 quilo de mel, precisamos retirar néctar de 5 milhões de flores. Como 30% da produção mundial de alimentos depende da polinização que fazemos, só em valores econômicos, nossa contribuição é de 9,5% do valor da produção agrícola. Ou seja: US$ 135 bilhões ao ano. Não somos importantes?
Ela sorriu. E um zum zum de satisfação percorreu a colméia. Foi quando a rainha, levantando-se, determinou:
- Ficaremos longe das plantações que contenham herbicidas, fungicidas e os mortais inseticidas. Doravante, ao mínimo ronco de motores dos aviões polinizadores, sumiremos do mapa! Daremos preferência à polinização de áreas com cultivo de espécies vegetais variadas e, o que é melhor, vamos criar um esquadrão especializado em repolinizar espécies nativas! Este é o Plano Real. É isso ou bye bye bee! [N.T: tchau tchau abelha!]. Ao trabalho!
Enquanto eles se organizavam, me espremi entre um favo e outro e, lambuzado de mel, mas satisfeito, pulei pra fora. Já longe da colméia, percebi que minha cara estava azul e, de pescoço, só duas veias estufadas.
- O espartilho!!! – dei um tapa na testa.
Afrouxando o danado, pude estufar a barriga, desinchando o pescoço.
E fui voando pra casa, botar mel na minha pinga.

Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
FONTE: Agência Londrix

quarta-feira, 3 de junho de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

DOENTE POR DOENTE...

De umas cinco fontes diferentes, recebi nos últimos dias cinco convocações para apoiar o movimento “MARINA SILVA PRESIDENTE”. Só de brincadeira, por pura provocação, mandei a convocação para meu amigo lulista, o Ruça, que está empenhadíssimo na candidatura Dilma. Ruça, nos últimos dias, estava escrevendo páginas e mais páginas sobre a saúde de ferro da Dilma. Demonstrando, por A mais B, que o linfoma dela é uma coisinha de nada, que ela está curada, só fazendo umas quimios por precaução, enfim, que está tudo bem com ela. E, como sempre, descendo a lenha no Serra e no Fernando Henrique, que, segundo ele, venderam o país por preço de banana, dando um trabalhão à Dilma e ao Lula, que, pelo jeito, compraram o país de novo (em prestações mensalais?). Assim que recebeu a convocação de apoio a Marina Silva, Ruça me escreveu, preocupado. Segundo ele, Marina é pessoa de saúde muito frágil. Ele até acha que ela é boa pessoa, mas não teria forças para enfrentar uma campanha presidencial – e, alem disso, se agüentasse a campanha, diz ele, talvez não agüentasse depois o trabalhão que dá a presidência. Acrescentou que a Dilma não corria esse risco, porque a doença dela já está superada. Por coincidência, eu tinha acabado de ler no Estadão o artigo do cientista político Alexandre Barros, dizendo que as empresas e instituições internacionais sempre se preocupam com a possibilidade de um governante ter de deixar o poder por doença, e por isso volta e meia querem saber quem o sucederá, e como ficará a economia do país com isso. Barros diz que no Brasil parece que é proibido falar sobre essas coisas, embora elas sejam óbvias. Não resisti e fiz uma molecagem. Mandei um e-mail ao Ruça, falando que o pessoal da Marina estava pensando no seguinte slogan: “Doente por doente, vote em Marina, que defende o ambiente!”.

DEUS E DIRCEU

Meu amigo lulista, o Ruça, está empenhadíssimo na candidatura da Dilma. Escreve longos textos descendo a lenha no Fernando Henrique e no Serra, e os manda a Deus e o mundo, pois acha que essa é a melhor maneira de convencer as pessoas a votar na Dilma. Tenho também um grande amigo tucano, o Deca, serrista roxo (embora de vez em quando ele votasse em candidatos a deputado e vereador do PT. Deca achava que assim contribuía para que o PSDB ficasse mais à esquerda, embora fizesse alianças com o DEM/PFL). Os dois são boa gente, e são também amigos, mas de vez em quando se atracam pelas posições divergentes, e eu me identifico mais com o Deca, mas tento não brigar com o Ruça. Outro dia os dois estava discutindo, mas não por causa de política, e sim por causa de Deus. Deca, que é ateu, não podia aceitar que Ruça seja católico. Deixei os dois discutirem, argumentarem. De vez em quando o Deca pedia meu apoio, mas eu fiquei na minha. No dia seguinte, Deca me ligou pela manhã: Não me conformo que um cara inteligente como o Ruça possa acreditar em Deus! Acalmei-o, com o seguinte argumento: ele acredita no Zé Dirceu, por que não acreditaria em Deus?

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O VINHO ROUBADO

O VINHO ROUBADO
Um dia qualquer da década de 60. A Folha havia publicado uma notinha anunciando a Festa do Vinho de São Roque. Peguei o telefone e liguei para o ramal de Lulu (não vou dizer o nome verdadeiro dele, tá?),o chefe de Reportagem da manhã (conhecido por ter quatro empregos públicos e por “criar” reportagens apenas usando pastas do arquivo do jornal – mas cobrando táxi, como se tivesse ido fazer entrevistas fora). Lulu era louco por um brinde. Certa vez, mandou-me para uma entrevista coletiva na sede do Sindicato da Indústria Calçadista, e o presidente do Sindicato deu um tíquete para cada jornalista presente retirar um par de sapatos na sua fábrica. Recusei, dizendo que nem se eu estivesse fazendo aniversário aceitaria. Ele insistiu, eu rasguei o tíquete. Os demais aceitaram, e um velho jornalista ainda me olhou feio, afirmando: “Bem, eu não sou orgulhoso!”. Feliz por achar que tinha dado uma lição de ética aqueles picaretas todos, cheguei à Redação e contei ao Lulu o que tinha acontecido. Avisei também que eu não ia escrever nada, porque a entrevista não tinha o menor interesse. Lulu lamentou: “Por que você não trouxe o tíquete para mim?”
Bem, mas voltemos ao trote, pois esse era o meu objetivo ao pegar o telefone, naquela ensolarada manhã. Disse-lhe que era da “Empresa Vinhos de São Roque” e que queríamos, em agradecimento pela nota publicada, enviar uma caixa de vinhos para o Chefe da Reportagem. Perguntei o nome do destinatário do vinho. Falando baixo, ele escandiu: Lú-cio. Lú-cio Mar-ques. Avisei que logo o caminhão entregaria no endereço que ele deu – Barão de Limeira, 425. Enfiou um cigarro na piteira e começou a caminhar pela redação, ansioso pela chegada do vinho. Quinze minutos depois, liguei para a portaria do prédio e fingi estar ligando do prédio ao lado – que abrigava as demais redações do Grupo Folhas. Pedi para avisar o Lúcio que, por engano, haviam entregado uma encomenda em nome dele na redação da Última Hora, que ficava no segundo andar. Em seguida liguei para a Última Hora e disse que, por engano, uma caixa fora entregue, em nome do Sr. Lúcio Marques (continua não sendo o nome verdadeiro), e que estava escrito “Chefe de Reportagem do Jornal Ultima Hora”, na portaria do Hotel, que ficava na Avenida Duque de Caxias, a uns trezentos metros da Folha. Lúcio seguiu todo o percurso e voltou para a Redação esbaforido. Roxo de raiva, repetia: “Me roubaram uma caixa de vinhos!”

segunda-feira, 18 de maio de 2009

BRAÇO QUASE BOM

Pra quem notou que desde o dia 1.o de maio não falo da minha saúde: estou melhorando, sim. Devagarinho, mas estou. O braço direito está quase bom, embora eu, por precaução, ainda esteja operando o mouse com a mão esquerda, e escrevendo pouco, e aos poucos. Ainda assim, resolvi fazer uma loucurinha esta semana. Vou sexta, dia 22, de manhã, pra Curitiba. De carro. Vai dar. São só uns 400 quilômetros, e, como fica entre Sampa e Floripa, a Silvia vai me encontrar lá. Talvez o Celso vá comigo, e o Carlos irá de Camboriú. Minha mãe está passando umas semanas lá, vendo meus trezentos e tantos primos (mas principalmente o Darcy, em cuja casa está hospedada, para inveja dos outros 299 e tantos). Carlos, sexta passada, me ligou da estrada, indo pra Londrina. Na quinta, no Clube Ucraniano, em Curitiba, onde meu primo Dalton, geólogo e violonista (não necessariamente nessa ordem), toca semanalmente, com um grupo de amigos, pediu que minha mãe desse uma canja. Ela (que gravou, aos 80, o CD Ivone 80 Anos, cantando Ary, Cartola, Nelson Cavaquinho, Lupicínio, Noel e que tais), e agora já tem, portanto, 84), arrasou. Apesar de rouca e gripadíssima, decidiu cantar duas músicas, a pedido de meu primo. Impossível ela cantar duas músicas. Não deixam. E não deixaram. Teve de cantar trinta, e o sucesso foi estrondoso. Que Elisete, que Isaurinha, que Ângela, que nada. São grandes, mas Dona Ivone é maior. Interpretação, afinação, divisão inigualáveis. É maior. É o que todos diziam.O Clube reúne excelentes músicos, maestros, professores e intelectuais, gente de gosto apurado e com mais de trinta anos, é claro. Silêncio, estupefação, êxtase. Longos, calorosos e entusiásticos aplausos e vivas. Muita emoção. Querem fazer uma escultura em bronze para marcar o dia em que minha mãe cantou lá. Nesta quinta ela vai dar mais uma pala, sem dúvida vai repetir a dose. Pena que não posso estar lá, pois tenho consulta médica importante, para tomada de decisões sobre mudança em medicação etc..
Bem, quase vou esquecendo: vamos reunir os barbozas mais velhos e alguns curis e comemorar meu aniversário (66 anos, droga!) en petit comité no domingo. E aproveito pra ver velhos amigos curitibanos, mais alguns primos na segunda e na terça. Quarta estou de volta a sampa, pras, espero, ultimas semanas do tratamento.

terça-feira, 5 de maio de 2009

FILHOS DE DUAS MÃES. BOA BRIGA

Recebi o artigo abaixo de minha amiga Maria Berenice Dias. Ela acaba de pedir na Justiça o registro de duas crianças no qual a certidão deverá reconhecer duas mães, já que uma forneceu o óvulo e a outra gestou os gêmeos Ana Luíza e Eduardo. São lésbicas.

MILAGRE DA CIÊNCIA
Maria Berenice Dias
(Advogada especializada em Direito Homoafetivo, Famílias e Sucessões. Ex-desembargadora do Tribunal de Justiça do RS Vice-Presidente Nacional do IBDFAM. http://www.mariaberenice.com.br/)
Nasceram Ana Luiza e Eduardo. Filhos de quem? De um milagre da ciência! Claro que foram concebidos em decorrência da união de óvulos e espermatozóides. Mas, com a revolução provocada pela engenharia genética, a concepção não mais decorre, necessariamente, via contato sexual entre um homem e uma mulher. Quando a ciência aprendeu a fazer a fertilização de um óvulo em laboratório e conseguiu implantá-lo no ventre feminino, ocasionou a maior revolução que o mundo teve a oportunidade de presenciar. Agora o sonho de ter filhos e de constituir família está ao alcance de qualquer um. Ninguém precisa ter par, manter relações sexuais, ser fértil para tornar-se pai ou mãe. &n bsp; Os métodos se sofisticaram e o Estado não teve outro jeito senão acompanhar esta evolução. Tanto é assim que o Conselho Federal de Medicina adotou normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida (Resolução 1.358/92). O Código Civil não conseguiu ignorar esses avanços e, ao estabelecer presunções de paternidade, faz referência a elas, ainda que de forma bastante limitada (CC 1.597, III a V). Para quem não sabe, a concepção chama-se homóloga quando o material genético utilizado no procedimento de fertilização é do marido. Por presunção, ele é o genitor. Já na concepção heteróloga, é feito uso de esperma de doador. Havendo a concordância do marido, ele é considerado o pai. Essas normatizações, no entanto, não são suficientes para atender aos avanços da ciência. Assim, quando surge situação não prevista no ordenamento jurídico, o Poder Judiciário é convo cado a decidir. Como se vive em um Estado Democrático de Direito, as decisões dos juízes não podem se afastar dos comandos constitucionais. A lacuna da lei não significa ausência de direito, e a Justiça precisa decidir de conformidade com os mandamentos constitucionais. Os primeiros princípios elencados são o da cidadania e o da dignidade da pessoa humana (CF 1º, II e III). Entre os objetivos fundamentais encontra-se o de promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (CF 3º, VI). Mas há um punhado de postulados outros que precisam ser atendidos. A Constituição considera a família a base da sociedade, outorgando-lhe especial atenção (CF 226). Também admite o planejamento familiar tendo como base os princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável (CF 226, § 7º). Fora isso, é assegurado a crianças e adolescentes, com absoluta prioridade, o direito à convivência familiar (CF 227). Com o alargamento do conceito de família não mais se pode admitir presunções de paternidade exclusivamente no casamento. A união estável adquiriu o status de família, e as uniões de pessoas do mesmo sexo passaram a ser reconhecidas como entidade familiar pela jurisprudência. As famílias, todas elas, embalam o sonho de ter filhos e não há como limitar o uso das técnicas reprodutivas aos cônjuges ou a quem vive em união estável. Também as famílias homoafetivas precisam ter acesso à filiação, ainda que, enquanto casal, não consigam procriar. Como não é possível negar o uso dos meios reprodutivos em face da orientação sexual de quem quer ter filhos, os homossexuais passaram a se socorrer da concepção medicamente assistida. Foi exercitando este direito que Adriana e Munira resolveram realizar o sonho de aumentar sua família. Munira doou os óvulos que, fertil izados em laboratório, foram implantados no útero de Adriana que acabou de lar à luz a um casal de gêmeos: Ana Luiza e Eduardo. Mais uma vez a pergunta. Quem é a mãe? Não cabe outra resposta: ambas são as genitoras. O só fato de ter Adriana carregado os filhos no seu ventre, não a autoriza a registrá-lo somente em seu nome. Aliás, a Justiça já vem admitindo que, em caso de gestação por substituição, o registro seja feito em nome de quem forneceu o material genético. De outro lado, nada justifica impedir que no registro de nascimento conste também o nome de Munira. O exame de DNA comprova ser ela a mãe biológica. Esta é a única solução. Proceder ao registro em nome de ambas, pois as duas são mães, não só por uma ser a mãe gestacional e a outra a mãe biológica. Indiscutivelmente, são elas as mães, porque juntas planejaram tê-los e juntas não mediram esforços pa ra que o sonho comum se realizasse. Diante desta realidade, que se tornou possível graça aos avanços da ciência, outra não poderá ser a resposta da Justiça, senão determinar que o registro retrate a verdade. Negar a Eduardo e Ana Luiza o direito de serem reconhecidos como filhos de Adriana e Munira é afrontar o direito à identidade, é desrespeitar o princípio da dignidade humana, é negar-lhes o direito à convivência familiar. Afinal, crianças e adolescentes merecem, com prioridade absoluta, especial proteção do Estado. Para isso indispensável que as duas exerçam o poder familiar e assumam juntas todos os encargos decorrentes desse poder-dever, entre eles, o de criá-los, educá-los e tê-los em sua companhia (CC 1.634). Enfim, é de ambas o compromisso de torná-los cidadãos que se orgulhem de terem nascido em um país que sabe respeitar a dignidade de cada brasileiro.

domingo, 3 de maio de 2009

EU NAS AMARELAS DA VEJA

Se você é muito jovem, talvez tenha perdido a minha entrevista sobre controle do stress nas páginas amarelas da Veja. Pois, graças à digitalização de todo o acervo dos 40 anos da revista, é fácil acessar. Clique no link aí embaixo e vá para o ano de 1992, mês de novembro, edição 1261 (é a que tem o Quercia na capa), página 7. Vai ver como eu estava moço nessa época...E leia a entrevista inteira!

http://veja.abril.com.br/acervodigital/

sexta-feira, 1 de maio de 2009

MEDICINA BASEADA EM VIDÊNCIAS

Quando os amigos acham que a gente está por pouco, ou que os tratamentos estão demorados, começam a querer que a gente vá em gurus, cartomantes e curandeiros em geral. Alguns deles andam pela universidade, pesquisando. Falei com meu infectologista. E ele me disse que posso ir aonde eu quiser, mas a responsabilidade é minha, pois ele adota a Medicina baseada em evidências. Pensei comigo que se eu falar com algum deles a respeito, eles vão contestar: "Mas nós adota a Medicina baseada em vidência, ué!". A escolha é minha.

JÁ TEMOS A PRESIDENCIA, GENTE!

Concordo com o José Artur, não tem de ter quota pra deficiente físico nas universidades. É muito dificil equacionar isso. Logo vão querer dar quotas para gays também, e quotas para os heteros na alta costura. Além do que nós, deficientes físicos, já temos a Presidência, gente. Vocês esquecem que o Lula não tem um dedo? E mesmo assim chegou lá?

EM LIVRAMENTO CONDICIONAL

Semana punk, com final, digamos, feliz. Estou em livramento condicional. Na sexta passada, ou seja, uma semana atrás, fui para o hospital, Centro Cirúrgico, tirar o catéter, chamado pic, que venceu. Tirei o do esquerdo e pus outro no direito, que desde o começo, até pra por, deu problema. Ficou péssimo, o braço aguando pelos furos feitos pelo médico, eu achando que era o soro voltando, o médico achando que era linfa, a médica achando que não era nada e que é assim mesmo, e os dois achando que logo parava, que era só fazer um enfaixamentozinho, mas sem apertar muito, e a semana inteira o braço inchou, aguou, arroxeou, e na quinta-feira eu , até então de molho, molhando e molhado, resolvi que ia resolver de qualqeur maneira, e falei com os três médicop, e fui pro hospital, e eles acabaram tirando o catéter novo, e o infectologista, que eu adoro, mandou não por mais catéter nenhum, e me passou pra via oral, o que quer dizer que agora é só por o antibiótico e o que mais tiover de tomar no bolso, e poder jantar fora, e tomar café na rua, e sair por aí, como qualquer um, como qualquer doente de rua, como qualquer bêbado ou trabalhador ou aposentado. Ontem mesmo já fui jantar com a Monica e o Neto, um bavete-pesto e depois tiramissu no Gênova. Bela estréia. Tá certo que o braço continua inchado, tem de ficar para o alto, e meio roxo ainda, e enche o saco, e é meio ridículo ficar com o braço para o alto na rua, os táxis param, os nazistas falam heil. Mas tô sentindo que é por poucos dias. Logo vou poder abaixar o braço, e dirigir, e ir ver meu neto em Taquaritinga!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

COMBATE À HOMOFOBIA

Recebi de minha amiga Maria Berenice Dias:
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Queridos todos,
Dia 16/4/2009, foi instalada a Comissão de apoio à Diversidade Sexual ecombate à homofobia da Ordem dos Advogados de Pernambuco. Para honra minhafui convidada a integrá-la.O significado desta iniciativa pioneira é enorme. Foi a primeira instalada no país. Nos Estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul, as comissões jáforam aprovadas e aguardam instalação. Envio abaixo o artigo que escrevi sobre o acontecido. Conto com vocês para divulgar esta conquista, pois é necessária a mobilização de todos para queos outros Estados e a própria OAB Nacional, tenham a mesma iniciativa. Um beijo,
Maria Berenice Dias
www.mariaberenice.com.brwww.mbdias.com.br

Diversidade sexual e homofobia


Maria Berenice Dias
Advogada especializada em Direito Homoafetivo
Membro da Comissão de Diversidade Sexual e combate à Homofobia da OAB-PE
www.mariaberenice.com.br

Recente pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo traz um dado surpreendente: 99% dos brasileiros têm preconceito contra homossexuais.
Diante deste espantoso número, não é difícil compreender o covarde silêncio do legislador, que se nega a aprovar leis que atendam às minorias alvo de discriminação. Esta é a forma mais perversa de condenação à invisibilidade.
Apesar de ser do Poder Legislativo a obrigação de resguardar o direito de todos os cidadãos, a falta de lei não significa ausência de direitos. Diante da inércia do parlamento, é da Justiça o encargo de preencher os vazios da legislação, pois toda a violação de direito merece ser trazida a juízo. E, quando a jurisprudência se consolida, o legislador se vê obrigado a transformá-la em normas legais.
Buscar a tutela jurídica é a única forma de dar efetividade às garantias e prerrogativas consagradas na Constituição Federal, que tem como valor fundante o respeito à dignidade da pessoa humana, assentado nos princípios da liberdade e da igualdade.
Se vivemos em um país livre - e vivemos - todos são merecedores da tutela jurídica, sem qualquer distinção de cor, religião, sexo ou orientação sexual. Em um Estado que se quer democrático de direito, o princípio da liberdade nada mais significa do que o direito de não sofrer discriminação por ser diferente. E ninguém mais pode ser vítima da homofobia.
O direito à cidadania depende de reconhecimento no âmbito do Poder Judiciário. Mas, para o juiz cumprir sua missão, é necessário que seja chamado a julgar. Daí o destaque constitucional dispensado ao exercício da advocacia, a quem é atribuído o dever de provocar a Justiça para que sejam assegurados os direitos aos cidadãos, a todos eles.
Porém, quando se trata do reconhecimento de direitos de gays, lésbicas, travestis e transexuais, é extremamente acanhado o número de ações em juízo. Esta realidade precisa mudar. Não ter acesso à justiça é a forma mais perversa de exclusão. Não responsabilizar práticas discriminatórias alimenta a homofobia. Desta responsabilidade vem tomando consciência a Ordem dos Advogados do Brasil, ciente de seu importante papel de ser a porta-voz os reclamos sociais. Daí o enorme significado da instalação, no dia 16/4/2009, da COMISSÃO DE APOIO À DIVERSIDADE SEXUAL E COMBATE À HOMOFOBIA da OAB Pernambuco. Foi a primeira instalada no país. Nos Estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul, comissões similares já foram aprovadas e aguardam instalação.
Mas é indispensável que os outros Estados e a própria OAB Nacional, tenham a mesma iniciativa. Afinal, o mais importante papel dos advogados é garantir o direito fundamental à felicidade, que o Estado deve assegurar a todos, independente da orientação sexual.

terça-feira, 21 de abril de 2009

LÁGRIMAS AMIGAS

Vejam o que recebi do meu amigo Woile:
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CHORAMOS
Visito meu velho pai no interior. Ando com ele uma centena de metros na rua em frente. Os 95 anos pesam, ele se diz cansado, confessa que não está bem. Voltamos para casa, ele vai para o quarto, quer descansar. Faço-lhe uma carinhosa massagem nos pés, adormece. Retiro-me, mas logo manda me chamar na sala.
“Meu filho, quero lhe dizer uma coisa que guardo há 70 anos.”
Sim, pai - digo, aguardando com ansiedade.
“Quando você nasceu, a parteira te segurou de ponta cabeça, e você chorou. E eu chorei junto”.
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Pois agora, Woile, somos três.

"RUY, RIA"...
Bilhetes do Otoniel pra mim sempre começavam assim, às vezes com poemas para eu musicar - nunca consegui, mas meu irmão Celso chegou a fazer algumas parcerias com ele. Otoniel, ria, pois tenho uma ótima notícia: não estou com osteomielite. O infectologista atual me comunicou, depois dos últimos exames, que NÃO TENHO osteomielite. Isto é fantástico, pois infecção em partes moles - a expressão é essa mesmo, viu? - é muitíssimo mais fácil de tratar. Imagino que a infectologista anterior concluiu que havia infecção no osso a partir de uma cultura feita a partir de um pedaço de osso retirado do meu fêmur dia 29 de janeiro último, quando foram retirados a placa e os pinos que eu recebera em julho de 2002 (lá no Rio de Janeiro, alguns dias depois de ter levado o tiro de fuzil). Mas uma tomografia do dia 31 de janeiro já mostrava que não havia infecção no osso, e sim nos tecidos moles. E a última tomografia, de abril agora, mostrou que mesmo nas partes moles a infecção já sumiu. No entanto, vou continuar por algum tempo com o antibiótico de 12 em doze horas, via catéter e em home care, por causa de um indice de inflamação/infecção chamado pcr - proteína c reativa -, que estava na faixa de normalidade (ultimamente tinha dado numa semana 0,33 e na seguinte 0,44, e o normal é entre 0 e 0,5), mas na ulotima semana deu um pouco alto, 0,63. Mas essa inflamação pode nem ter nada a ver com o fêmur, pode ser até mesmo provocada pelo catéter, que devo trocar amanhã, quarta feira.
Portanto, amigos velhos - e novos também - aguardem, para mais algumas semanas, os fogos de artifício.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

NÃO OLHE AGORA

Não olhe agora, mas, visível pela janela da sala da tua casa da Ilha, está chegando um carro japonês vermelho. Dentro dele, na direção, há um velho aleijado, muito feliz porque vai te ver. Dentro do velho aleijado, estou eu.

domingo, 12 de abril de 2009

TEMOS NOSSOS PRÉSTIMOS

Guima amigo,
minha avó paterna, vovó Engrácia, parecia uma indiazinha. Cabelo curtinho, baixinha, olhos bem puxados, analfabeta, fazia seus cigarrinhos picando com calma o fumo, cortando a palha. Fumava e conversava comigo, de vez em quando cuspindo numa latinha que tinha ao seu lado, num banquinho. Ainda sinto o bom cheiro do fumo no ar, quando me lembro dela. Ela estava sempre bonita e cheirosa, parecendo ter saído do banho. O café da casa dela, em Araraquara, era forte e já vinha doce. E permanente, sempre novo, sobre a chapa do fogão a lenha.
Enquanto isso, vovô João, antigo colono de fazenda, depois marceneiro, e por último fazendo cobranças, saía com sua pastinha e ia de ônibus cumprir o trabalhinho dele, enquanto teve forças e emprego. Vovó já estava um tanto surda, e volta e meia perguntava alguma coisa a meu avô, e ele, antes mesmo que ela completasse a pergunta, falava alto, embora com voz já fraca, "Não sei!". Perguntei a meu avô por que dava sempre a mesma resposta, ele me disse: "Qualquer outra resposta que eu dê ela vai dizer que está errada, e ficar discutindo comigo, então adotei o Não Sei como resposta padrão!".
Ela se queixava do jeito dele, do fato de quase não conversar com ela, e de ficar ali o dia todo mexendo nas madeiras, em sua bancada de marceneiro. Mesmo à noite, quando ela, que dormia pouco, e tinha dentro da cabeça um "baruião", ficava se lembrando da infância dos dois -pois se conheciam desde meninos, e foram criados na mesma fazenda, e às vezes o acordava com perguntas do tipo "João, como era o nome daquele pretinho que Dona Isaltina criava?", ele respondia "Não Sei" e voltava a dormir. Mas depois ela começava a falar sobre o quanto ele era bom, de moral rígida e coragem física, além de grande marceneiro. Tinha feito todos os móveis da casa, simples, mas fortes e bem lustrados, de camas a penteadeiras, cadeiras, cadeira de balanço, mesas e guarda-comidas, tinham sido feitos por eles (o que eu não daria para ter hoje um daqueles móveis comigo...). E ela concluía, séria e convicta, me olhando docemente (e o que eu não daria para ter hoje aqueles olhos comigo!): "É, ele tem seus préstimos!"
Teu texto sobre a utilidade (?) masculina lembrou-me Vovó Engrácia.
Obrigado, amigo.
beijão
ruy

DIA FRIO EM SAMPA

Esta noite esfriou um pouco em Sampa. E os antibióticos continuam funcionando bem. O indicador chamado Proteína C Reativa (também conhecido como PCR ultra sensível), nas duas últimas semanas, deu, respectivamente, 0,33 e 0,44. O normal é de 0 a 0,5. Pode comemorar, torcida amiga!

terça-feira, 7 de abril de 2009

A FOLHA APOIA O SERRA?

E-MAIL ENVIADO A AMIGO EM QUEM CONFIO:
Grande Duarte,
falsear a verdade, em seguida generalizar a partir do fato falseado e com isso ir montando uma versão que acaba sendo completamente falsa da história, para servir a objetivos políticos em que, sinceramente, cremos, é precisamente a prática que devemos evitar, na minha opinião. É assim que acabamos nos dividindo, desnecessariamente, marginalizando pessoas que poderiam ser aliadas e facilitando a vitória do verdadeiro inimigo. Olhar para a mídia como se fosse uma unidade e vê-la como um braço da campanha do Serra - e olhar para o próprio Serra e o PSDB (ou para a Dilma e o PT) com esses olhos totalizadores e sectários só vai nos dividir mesmo. É fácil fazer isso, e se convencer de que se está fazendo a boa política, porque, afinal, os fins não justificam os meios? Bem, não justificam não. Eu também prefiro o trabalho maior que dá falar a verdade e eventualmente não saber o que fazer com ela, porque a verdade não nos facilita as decisões mesmo.

Trabalhei na Folha de S. Paulo (o Folhão, que fique claro), de 1963 a 1969. Fui copydesk, repórter e nada mais. De politica, de polícia e geral. Nada mais. Nunca tive cargo de chefia. Na AP, eu era primeiro considerado militante (ingressei a partir da Ação Católica, ou seja, da JUC, núcleo da Faculdade de Direito da USP, onde entrei aos 17 anos, em 1961, formando-me aos 22, em 1965), e depois, quando as coisas se definiram melhor, e a hierarquia da organização mais rígida, me comunicaram que eu era considerado apenas simpatizante, mas isso é outra história.

O que quero te dizer é que não acredito que Otávio Frias de Oliveira, o pai (muito menos o filho, que era então menino) tenha, em momento algum, emprestado à Polícia Política ou à repressão carros da Folha - de nenhum dos 10 veículos de comunicação que o grupo Folhas chegou a ter na época, a saber, Folha de S. Paulo, Folha da Tarde, Noticias Populares, Ultima Hora, UH - Edição da Tarde, Cidade de Santos, A Gazeta, A Gazeta Esportiva, Radio Gazeta, TV Gazeta (estes últimos quatro, graças a uma concorrência ganha quando Frias foi eleito presidente da Fundação Casper Líbero - concorrência preparada especialmente para expandir o grupo Folhas). Duvido que alguém possa provar isso, e explico por quê: Frias pôs, sim, no comando de um de seus jornais, por pressão das autoridades militares, determinados jornalistas que eram também policiais - policiais mesmo, agentes, investigadores do Dops, funcionários da Secretaria da Segurança, como Antônio Aggio Jr. e Carlos Dias Torres - o primeiro dirigiu a Folha da Tarde, e o segundo foi seu chefe de Reportagem. E eles levaram para lá outros policiais-jornalistas que trabalhavam antes na Folha. É bem possível, e nisso sim eu acredito, que esses policiais - e quando digo policiais não os estou acusando de nada, pois eram mesmo policiais, profissionais da repressão - tenham utilizado os carros da Folha da Tarde em atividades policiais. Utilizaram para fins policiais os próprios jornais, como é sabido. Por exemplo: davam notícias falsas de fugas de presos que na verdade estavam sendo (ou ainda seriam) retirados de suas celas para serem simplesmente executados. Isso são fatos sabidos e constam de autos de processos. Não estou dizendo que quem fez isso foi o Aggio ou o Torres, mas sim que o jornal publicou noticias como essas, falsas, para limpar a barra da repressão. Para dar a impressão de que aqueles presos haviam fugido e trocado tiros com a policia. E este é apenas um exemplo. Até onde sei e vi, foi o que aconteceu.
Do nosso lado, ou seja, da esquerda, para ser justo, relembro um fato menor, mas que é verdadeiro também: durante as passeatas estudantis, o jipe da Ultima Hora - Edição da Tarde (que tinha como chefe de redação o nosso militante, da AP, Humberto Kinjô), além de levar repórter e fotógrafo, dava apoio aos estudantes, levando coquetéis molotov, pedras etc. para que eles eventualmente utilizassem nas manifestações. Quando o repórter Celso Kinjô, também membro da AP, um fotógrafo e um motorista da UH foram presos (e nós em seguida realizamos um amplo movimento para libertá-los, que incluiu acamparmos em frente à Auditoria Militar e depois em frente à casa do governador biônico Abreu Sodré), objetos desse tipo foram apreendidos. Conto isso não para diminuir a culpa do Frias por ter feito com os militares o acordo que fez, pondo um de seus jornais a serviço da policia política, mas para deixar a verdade do tamanho que tinha, e não maior. A Folha de S. Paulo não pode ser confundida com a Folha da Tarde - nem com a Ultima Hora. A UH, diga-se de passagem, não foi objeto de nenhum acordo parecido com a esquerda ou com a AP. A filiação do Humberto, ou a minha, à AP eram opções pessoais, e nunca tivemos, como organização, acordo algum com o Frias nem com os demais diretores da empresa. Apenas havia uma ligação óbvia entre os jornalistas e os estudantes da AP, além do fato de que éramos, na época, jornalistas e estudantes simultaneamente - no meu caso, até me formar, em 1965.
De qualquer forma, olhar de forma unitária para a mídia, ou para a Rede Globo, ou para o Grupo Folhas, sem ver que quem está lá dentro escreve as notícias, edita, manipula a informação - eventualmente por incompetência, eventualmente por corrupção, eventualmente por simpatias ou opiniões pessoais - é uma simplificação grosseira. Nós, jornalistas, sabemos que não são os Frias, os Mesquita e os Marinho que fazem as reportagens e as editam. Sem negar que há momentos e ocasiões em que, de fato, o patrão obriga a dar certas notícias e assume compromissos políticos ou com grupos econômicos, seríamos todos uns canalhas se tivéssemos dedicado nossas vidas na grande imprensa a servir as transnacionais e a direita. Pelo contrário. A maioria das informações e dos dados utilizados pelos que querem dar da mídia essa imagem conspiratória são obtidos nessa mesma mídia. Chega a ser engraçado o quanto esses argumentadores da conspiração citam artigos publicados nos grandes jornais para dizer que nada saiu nos grandes jornais. Na Internet, então, é comum receber artigos dizendo: o Alexandre Garcia foi demitido da Globo porque fez o comentário anexo. (E o Alexandre Garcia continua na Globo). Ou: o Estadão se recusou a publicar o texto do João Ubaldo anexo. E quem leu o Estadão já tinha lido o artigo no Estadão. Com expedientes desse tipo se alimentam os mitos que querem impor como verdade, imaginando que com isso servem a um objetivo maior - e só fazem,. assim, apequenar o objetivo.
abração do
ruy fernando barboza