sexta-feira, 18 de setembro de 2009

PARA UM AMIGO QUE PASSOU DOS 50

amigo velho,
permita-me aconselhá-lo, em nome da admiração mútua e da amizade. na minha eterna inquietude profissional não sou exemplo pra ninguém, mas ouso tomar-me como exemplo, mesmo porque sou o exemplo que mais conheço de perto... - como você sabe, sempre trabalhei muito e fui razoavelmente bem sucedido em três profissões, mas a época era menos, bem menos critica que a de hoje. chutávamos um emprego no meio da quadra e ao chegar à esquina já havia outro esperando. aí chegou um momento em que deixei, como atividade principal, o próprio jornalismo, achando que ele havia esgotado minhas possibilidades de realização (minha inquietude e rebeldia me levou a sair a casa dois anos, em média, de um emprego - só da Editora Abril saí cinco vezes), e, formando-me em psicologia, fui pro consultório, onde também, em media a cada dois anos, inventava um trabalho novo - trabalhei com empresas, com casais, com pacientes de cancer, com psicoterapia corporal, cognitiva e tinha começado na psicanálise, além de formar psicoterapeutas, de fazer treianemtn ode porta-vozes etc. E não se esqueça que, depois de me foprmar em direito, em 1965, eu advoguei dois anos e chutei o balde quando fui convidado pra ser sócio do escritorio, porque nao aceitava a corrupção na justiça e a fraude nos processos, tinha pesadelos etc.
E então, aos 50 anos, comecei, finalmente, a me preocupar um tanto com minha segurança. vi que a então recente constituição extinguira o limite de idade para concursos publicos, e prestei concurso para o judiciário federal, para o cargo de analista judiciário. meu objetivo era ter uma aposentadoria melhor que a do INSS. Só esse. coisa que antes eu consideraria de pessoa medíocre. muitos amigos talvez tenham dito que isso não me elevava profissionalmente, e certamente não me realizava. o trabalho que fui fazer lá era, de início, evidentemente, um trabalho menor, que um bom computador certamente faria melhor que eu. cheguei a duvidar se compensava ficar ali, na burocracia da justiça, e, ao completar dois anos, quis pedir exoneração. meu chefe, um sábio e ótimo amigo, me sugeriu uma opção: peça uma licença não remunerada de tres anos, pois daqui a tres anos voce poderá mudar de idéia. menos de tres anos depois, o mesmo amigo, assessor do então presidente do tribunal, sugeriu meu nome para assessor de comunicação da presidencia, e voltei ao tribunal. foi ótimo. o presidente era uma pessoa fantástica, deu-me toda liberdade para criar uma assessoria (antes só havia o cargo, mas não uma assessoria - o cargo era dado a pessoas de quem o presidente gostasse, e o assessor limitava-se a fazer festinhas e cerimonias oficiais. eu montei uma boa estrutura de comunicação, além de jornais e murais internos, um site e ainda montamos um projeto de programas de tv - e num congresso do judiciario federal e de assessores de tribunais, em Gramado, RS, apresentei a sugestão de um anteprojeto de lei para a criação de uma tv para o judiciário - já que a lei só previa, até então, espaços para o legislativo e para o executivo na midia eletronica. como resultado, em parte, dessa sugestão - e a da iniciativa de outras pessoas que, em esferas altas do judiciario, em brasilia, se empenharam na coisa - hoje existe a TV Justiça.
o que eu quero te dizer com tudo isso? que talvez, na tua idade, você esteja em situação parecida com a que eu estive, e deve começar em pensar na tua segurança e estabilidade, meu amigo, pois o resultado pode ser parecido. Eu me aposentei, e hoje posso viver só da aposentadoria, e fazer, profissionalmente, o que gosto, ou simplesmente me divertir, as diversões que a velhice permite, é verdade, mas são muitas, garanto. Além do que, se eu ainda fosse um psicólogo ou um jornalista autônomo, como eu era até fazer o concurso, teria literalmente me ferrado ao levar o tiro de fuzil em 2002 e ficar mais de um ano sem trabalhar, além de ter as limitações que tenho hoje. Os traficantes que mandaram a bala perdida tiveram, sem saber, o cuidado de esperar eu me aposentar para me fuzilar.
Em resumo, meu querido: já que você, como eu, não se preocupou em fazer patrimonio, em poupança (essas duas palavras, assim cpomo aposentadoria, me soavam horríveis, ridículas, mas agora até que acho simpatiquinhas) faça um bom concurso, vá para um bom emprego público, segure as pontas por um tempo, que vale a pena. e estar em brasilia sempre facilita surgirem chances e oportunidades.

3 comentários:

  1. é uma história profissional de fazer inveja, querido, coisa de guerreiro, de campeador
    e que não deixou jamais de praticar a música, o humor. bj grande, Ruy

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  2. oi Ruy vc é um eterno inquieto, ainda bem! e este seu blog é ótimo! este seu alerta é muito importante!afinal, vamos envelhecendo e nossos salários vão encurtando, principalmente para as mulheres! nesses últimos 10 anos, sem nunca ter deixado de trabalhar em minha profissão, como jornalista, meus rendimentos tem caído, sem falar que agora temos q ser PJ - pessoa jurídica, porque ninguém mais contrata os mais velhos. boa dica do concurso, vou tentar, porque a idade sobe e o salário desce! bjs, marilia

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  3. grande ruy,
    dica bacanuda...eu sempre acho que não envelheço...e teu alerta deu um friozinho na barriga...

    não irei prestar concurso...geograficamente impossível...mas,providenciarei meus pecúlios.

    abraçsons

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