quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

ELE VEIO PARA NOS SALVAR

ELE VEIO PARA NOS SALVAR

Foi num natal da década de 80, ou comecinho da de 90. Na casa de minha mãe, em Londrina, PR. Eram umas 23h00 e apagou-se a luz do prédio. É claro que continuamos no úísque e na música - meu pai ou eu ou o Celso no violão, a belíssima e potente voz de minha mãe nos solos e a platéia familiar no embalo das canções de Lupicínio, Noel, Ary e vai por aí. Mas precisávamos da luz. Lembrei-me de um fantástico eletricista que por várias vezes já me mostrara sua eficiência. Era um imenso caboclão chamado Genésio. Olhei na agendinha e o encontrei. Liguei, embora descrente de que ele fosse nos atender, pois, afinal, quem vai responder a um chamado de trabalho quase à meia noite do dia 24 de dezembro? Pois o Genésio veio, mexeu na caixa de força do prédio e em menos de 10 minutos nos trouxe de volta a luz. Resolvido o problema, subiu e, às 11h50, tocou a campainha pra receber pelo milagre, di go, pelo serviço. Eu, felicíssimo, ao vê-lo às claras, abri os braços e declarei:
- Você nos salvou, Genésio - ao que meu irmão Carlos acrescentou:
- Ruyzinho, você está tão bêbado que está chamando Jesus de Genésio!
Milagres pra vocês também, seus descrentes de uma figa.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

o litoral que poderia ter sido...

Com a permiss~zo do autor do e-mail, compartilho com voces. fiquei felicíssimo, imagina alguém qualificado como o andré achar um texto meu de quatro décadas atrás e gostar tanto...
se puderem, leiam o e-mail e a matéria, que vou ficar ainda mais feliz...

Date: Mon, 27 Jun 2011 19:25:40 -0700
From: notification+zdipofef@facebookmail.com
Subject: Andre Borges Lopes enviou uma mensagem para você no Facebook...

Andre Borges Lopes

Caro Ruy.

Acabo de ler no arquivo digital da Quatro Rodas uma matéria maravilhosa de sua autoria (de 1969) sobre a nova rodovia Rio-Santos então em projeto e o que deveria ter sido feito para proteger o litoral e sua população ocupação desordenada e da devastação que - ao fim e ao cabo - acabaram acontecendo. Vai para a minha coletânea pessoal do tema "O Brasil que poderia ter sido".

Escrito há mais de 4 décadas, seu texto é mais uma belíssima demonstração de que: 1) a preocupação ambiental não nasceu com o crescimento do Partido Verde alemão nos anos 1980; 2) foram muitos, e enormes, os prejuízos que o sufocamento do debate político pela ditadura militar cusaram ao país; 3) hoje, apesar da democracia, as coisas não mudaram muito (basta ver o que se faz no litoral sul da Bahia ou no Ceará), mas pelo menos a gente pode por a boca no trombone.

Embora com 42 anos de atraso (na época da publicação eu só lia a "Caminho Suave"), gostaria de lhe dar os parabéns por esse belo trabalho.

Grande abraço;

André Lopes



Exibir conversa no Facebook · Responda a este e-mail para enviar mensagem para Andre Borges Lopes.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

REALENGO: O QUE A MIDIA NÃO DIZ

Copio abaixo reflexões do meu amikgo Duarte Pereira sobre o que a midia está deixando de falar e fazer em relação à tragedia do Realengo. Ele começa falando do absurdo privilégio da Globo sobre outras emissoras - privilégio que ocorre em todas as esferas do poder (executivo, legislativo e judiciário) e da iniciativa privada (a não ser nas igrejas dos bispos da Record, é claro!). vale a pena ler.
----------------------------------------------------------------------

Prezad@s amig@s:

O programa “Fantástico” transmitido pela Rede Globo na noite de ontem exibiu novas reportagens sobre a tragédia que se abateu sobre a Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro do Realengo, na cidade do Rio de Janeiro. As reportagens devem ter suscitado novas preocupações nos espectadores atentos.

1) É legal e admissível que a polícia carioca repasse imagens e documentos da investigação para a Rede Globo com exclusividade, discriminando os outros veículos de comunicação?

2) Segundo as imagens transmitidas, as professoras das duas salas de aula invadidas pelo atirador foram as primeiras a fugir, deixando para trás as crianças e adolescentes pelos quais eram responsáveis. Por que a entrevistadora não questionou esse comportamento? Por que as autoridades educacionais do Rio de Janeiro não apuram, nem discutem com as famílias dos alunos, a conduta da direção, dos professores e dos funcionários da escola no episódio, até mesmo para estabelecer padrões de reação escolar na eventual repetição de ocorrências semelhantes? Segundo regra conhecida, o comandante de uma embarcação que naufraga, deve ser o último a abandoná-la.

3) Relatos de colegas de Wellington de Oliveira, reproduzidos pelo programa da Globo, confirmaram que o menino introspectivo e vulnerável costumava ser objeto de gozações e humilhações na escola. Grupos de alunas o cercavam, roçando seu corpo e simulando assediá-lo sexualmente, para o sádico divertimento de outros alunos e alunas que assistiam. Em uma ocasião pelo menos, colegas mais fortes o levantaram pelas pernas, enfiaram sua cabeça numa privada e acionaram a descarga, conforme os entrevistados admitiram. Contraditoriamente, uma das professoras que abandonou precipitadamente a sala de aula, abandonando para trás seus alunos, declarou enfaticamente no programa da Globo que nunca houve “histórico de violência” na Escola Municipal Tasso da Silveira. O que era feito com Wellington não configura violência e violência repetida? Como são supervisionados os banheiros, os horários de recreio e as saídas das escolas, que se têm revelado momentos e espaços críticos para a integridade e a segurança de alunas e alunos mais indefesos?

4) Conforme as declarações de um dos irmãos de criação de Wellington, a mãe deles foi chamada à escola, alertada para o comportamento discrepante do aluno e aconselhada a procurar um psicólogo ou psiquiatra para avaliá-lo. Isso foi feito? Em nossa sociedade capitalista, sobretudo na fase neoliberal e privatizante que atravessa há cerca de duas décadas, existe serviço público na região capaz de assegurar esse atendimento, tratamento e acompanhamento? Por que esses aspectos da tragédia não são pesquisados, nem discutidos?

5) Por que não têm sido ouvidos juristas competentes sobre os aspectos penais envolvidos em atos de jovens esquizofrênicos, mesmo que esses atos sejam chocantes, brutais e injustificáveis como os que abalaram a escola do Realengo? Se Wellington tivesse sobrevivido, ele poderia ser levado a júri e condenado à prisão? É correto tratá-lo raivosamente como “criminoso” e “assassino” como qualquer jovem normal e imputável, esquecendo seu prolongado e negligenciado sofrimento mental? A dor merecida pelas vítimas de sua insanidade e a solidariedade com os familiares dos alunos mortos e feridos devem impedir a solidariedade com os familiares do autor dos disparos e a compaixão pelo jovem que premeditou e executou o massacre e acabou sendo vítima de seus próprios atos tresloucados?

A tragédia do Realengo precisa ser debatida de forma séria e multilateral se a intenção for evitar a repetição de ocorrências semelhantes e não apenas disputar índices de audiência.

É preciso insistir: tudo que é humano é inseparavelmente individual e social. Inclusive a loucura e suas consequências. O capitalismo contemporâneo incentiva, mais do que nunca, o individualismo, a competição, a insensibilidade. Exalta os vencedores e despreza os derrotados. Pode queixar-se de colher os frutos de seu darwinismo social?

Duarte Pereira
11/4/2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

REALENGO E WASHINGTON

além da esquizofrenia e da vingança, talvez devamos também pesquisar que causas socioculturais pode haver para que atentados como o do Realengo possam estar surgindo no Brasil. Quando foi assassinado um dos Kennedy, não me lembro agora se John ou Bob, Claudio Abramo, que chefiava a redação da folha de s paulo, me pediu para ouvir o sociólogo Otavio Ianni, na Sociologia/USP, então na rua maria antonia. Resumo do que ele me disse: a sociedade norte-americana crê que pode resolver as coisas pelas armas, pela violência. é o que faz em todo o mundo, invadindo países, tomando regiões de assalto, como fizeram na coréia e no vietnã - sem citar as desnecessárias bombas atômicas em hiroshima e nagasaki.´é um valor da cultura norte-americana, atingir o que quer pelas armas, pela guerra. assim, não é de espantar que grupos ou individuos, naquele país, resolvam matar alguém para resolver um problema pessoal. se o governo, o estaqdo americano acham lógico usar as armas para atingir uma meta qualquer, por que não o indivíduo? minha pergunta é se não estamos, também aqui, banalizando as soluções violentas, e essa não seria uma variável a ser pensada quando um ex-aluno brasileiro de uma escola busca, em sua vingança contra o que ali sofreu, uma solução à la columbine. e não esqueçamos que isso ocorreu no rio, e no realengo. a bala perdida de fuzil que permanece alojada na minha coxa direita, e que por pouco não me tirou a vida, é também produto dessa banalização da violência.vale a pena pensar nisso.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

SALARIOS MANTÊM AS CRENÇAS

ENVIADO PELO DEMOGRAFO PAULO CAMPANÁRIO:
05/04/2011 - 02h11
A verdade da mudança climática ainda é inconveniente

Paul Krugman

"É assustador perceber que não faremos nada a respeito da mudança climática até que a catástrofe já esteja sobre nós"
A piada começa assim: um economista, um advogado e um professor de marketing entram em uma sala. Qual é o desfecho da piada? Eles eram três dos cinco “especialistas” convocados pelos republicanos para testemunharem em uma audiência sobre ciência climática no Congresso, na semana passada.

Mas os republicanos é que no final viraram objeto de ridículo, quando um dos dois cientistas de fato que convidaram para testemunhar saiu do roteiro.

O professor Richard Muller, um físico de Berkeley que entrou no jogo dos céticos climáticos, tem liderado o projeto Temperatura da Superfície da Terra de Berkeley, um esforço parcialmente financiando pela fundação Koch. E os negadores da mudança climática –que alegam que os pesquisadores da Nasa e de outros grupos que analisam as tendências climáticas estão distorcendo os dados– esperavam que o projeto de Berkeley concluiria que o aquecimento global é um mito.

Em vez disso, Muller relatou que os resultados preliminares do grupo apontam que a tendência de aquecimento global está “muito semelhante à relatada por outros grupos”.

A resposta dos negadores foi tanto previsível quanto reveladora; mais sobre isso em breve. Mas primeiro, vamos falar um pouco mais sobre a lista de testemunhas, que levantaram a mesma pergunta que eu e outros temos feito sobre várias audiências realizadas desde que o Partido Republicano retomou o controle da Câmara: onde eles encontram essas pessoas?

Minha favorita ainda é a primeira audiência de Ron Paul sobre política monetária, na qual a principal testemunha era alguém mais conhecido por escrever um livro condenando Abraham Lincoln como sendo um “tirano horrível” –e por defender um novo movimento de secessão, como resposta apropriada ao “novo Estado ‘fascista’ americano”.

Os não-cientistas da audiência da semana passada não eram do mesmo calibre, mas o depoimento preparado por eles ainda assim continha alguns momentos memoráveis. Uma foi a declaração do advogado de que a Agência de Proteção Ambiental não pode declarar as emissões de gases do efeito estufa como sendo uma ameaça à saúde, porque essas emissões estão em ascensão por um século, mas a saúde pública melhorou no mesmo período. Eu não estou inventando isso.

Ah, e o professor de marketing, ao fornecer uma lista de casos anteriores de “comparações ao alarme em torno do perigoso aquecimento global causado pelo homem” –presumivelmente visando mostrar por que devemos ignorar aqueles que se preocupam– incluía problemas como a chuva ácida e o buraco na camada de ozônio, que foram contidos precisamente graças à regulamentação ambiental.

Mas de volta a Miller. Suas credenciais de cético climático são fortes: ele condenou tanto Al Gore quanto meu colega Tom Friedman como “exageradores” e participou de vários ataques contra a pesquisa climática, incluindo à caça às bruxas em torno dos e-mails inócuos de pesquisadores climáticos britânicos. Sem causar surpresa, os negadores da mudança climática nutriam grandes esperanças de que seu novo projeto apoiaria seu argumento.

É possível imaginar o que aconteceu quando essas esperanças foram arruinadas.

Há poucas semanas, Anthony Watts, que dirige um site proeminente de negadores de mudança climática, elogiou o projeto de Berkeley e se declarou piamente “preparado para aceitar qualquer resultado que vier a produzir, mesmo que prove que minha premissa está errada”. Mas assim que soube que Muller apresentaria esses resultados preliminares, Watts desdenhou a audiência como “teatro político científico normal”. E um dos colaboradores frequentes de seu site desdenhou Miller como sendo “um homem movido por uma agenda muito séria”.

É claro, são os negadores da mudança climática que têm uma agenda, e ninguém que tem acompanhado esta discussão acreditou por um só momento que eles aceitariam um resultado confirmando o aquecimento global. Mas vale a pena recuar por um momento e pensar não apenas a respeito da ciência aqui, mas da moralidade.

Por anos, um grande número de cientistas proeminentes está alertando, com urgência cada vez maior, que se mantivermos os negócios como de costume, os resultados serão muito ruins, talvez catastróficos. Eles podem estar errados. Mas para afirmar que estão de fato errados, você teria a responsabilidade moral de abordar o assunto com extrema seriedade e mente aberta. Afinal, se os cientistas estiverem certos, você provocará um dano imenso.

Mas em vez de extrema seriedade, nós tivemos uma farsa: uma audiência supostamente crucial repleta de pessoas que não tinham nenhum sentido de estarem lá, e o ostracismo instantâneo para o cético da mudança climática que estava realmente disposto a mudar de ideia diante da evidência. Como eu disse, nenhuma surpresa: como Upton Sinclair apontou há muito tempo, é difícil fazer um homem entender algo quando seu salário depende de não entender.

Mas é assustador perceber que esse tipo de carreirismo cínico –pois é o que é– provavelmente tenha assegurado que não faremos nada a respeito da mudança climática até que a catástrofe já esteja sobre nós.

Pensando bem, eu estava errado quando disse que o Partido Republicano era o objeto de ridículo. Na verdade, o objeto de ridículo é a raça humana.
Tradução: George El Khouri Andolfato

Paul Krugman
Professor de Princeton e colunista do New York Times desde 1999, Krugman venceu o prêmio Nobel de economia em 2008

segunda-feira, 4 de abril de 2011

MORTES NA RODOVIA

Tentando escapar das quedas de barreira, outro ´dia, indo pra sampa, saí da br101 e fui pra br116, aqui no território catarinense. em algumas das rodovias estaduais, a polícia rodoviaria tem mania de por um cartaz, atualizado diariamente, informando há quantos dias não morre ninguém naquele trecho. não consigo entender pra que serve aquilo. e a forma como a coisa é escrita às vezes da medo, como aconteceu comigo dessa vez. num dos trechos que passei, estava escrito: "ESTE É O 1.o DIA SEM MORTES NESTA RODOVIA"! o que significa, óbviamente, que no dia anterior alguem tinha morrido ali. mas, literalmente, o que se lê é que, desde que a estrada foi inaugurada, TODO DIA MORREU ALGUÉM, ou alguéns, não é mesmo? Sou pela morte da campanha boboca.

domingo, 27 de março de 2011

Deputado religioso elogia ética de ateus

Deputado Jean Wyllys defende ateus e Estado laico. ELOGIEM!
Enviado por: "Daniel" atea@atea.org.br saudeinfo
Dom, 27 de Mar de 2011 12:02 am


No último dia 20, o deputado Jean Wyllys
(PSOL-RJ) fez as seguintes declarações em seu twitter:

"Embora religioso, tenho amigos ateus que são mais éticos e
têm mais preocupação com o bem-estar dos outros que muitos
crentes.

O Estado é laico mas garante a todos a liberdade de crer no que
quer e também a liberdade de não crer.

E os ateus têm o direito de não crer em nada e de expressar
publicamente sua incredulidade em religiões ou entidades
sobrenaturais".

terça-feira, 22 de março de 2011

AMOR, SEXO, CONTENÇÃQO E SOLTURA

Em "Reflexões Impensadas" (Editora Paradoxo, 1972 - esgotado), Fernando Cury discorre sobre que justificativas poderia haver para um casamento monogâmico. À página 798, diz ele:
"o casamento ocidental tem de ser monogâmico, sobretudo o contemporâneo, pois tanto para o homem como para a mulher, que já lidam com imensas dificuldades para administrar os relacionamentos com ex-cônjuges, seria impraticável acrescentar a todo esse stress a administração de relações com vários conjuges simultâneos.
O fato é que a monogamia é mais operacional.
Por outro lado, no que se refere a sexo e a amor, a pulsão, biológica, leva homens e mulheres à atração por vários parceiros. O que pode levar, e frequentemente leva à traição. Traição que freuentemente leva o traído ao desespero, insegurança, ódio. Assim, homens e mulheres ficam no dilema: conter-se ou soltar-se? O que traz menos sofrimento? Até que ponto é saudável e viável, até que ponto é possível sentir-se bem, ter bem estar, tanto na contenção quanto na soltura? Ter um casamento aberto ou fechado sem um quase insuportável grau de angústia? Esta é uma das principais razões das oscilações e instabilidades em casamentos prolongados. Neles, só uma certeza é possível: só se pode constatar que o amor existe num casamento, não pela vigencia da paz dos cemitérios, e sim pela sobrevivência da relação, com momentos de ternura, alegria e prazer, após as inevitáveis tormentas - como nos ensinam os poetas e os marinheiros. No imprescindível amor e no imprescrutável mar, o maior perigo não é quando eles se agitam. Como bem diz uma canção popular, é quando há calmaria".

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

AS MÃES E A REVOLUÇÃO

o e-mail que voce lerá linhas abaixo fala do fundamental apoio que muitas mães deram a seus filhos e amigos dos filhos na luta contra a ditadura militar. eu fui um lutadorzinho mixuruca - e por isso mesmo tive uma prisãozinha michuruca, de um dia só, e fiquei só assinando ménage na operação bandeirantes e respondendo a interrogatórios em que o máximo que queriam era saber se eu tinha noticia dos meus amigos que estavam na clandestinidade. nenhuma tortura, a não ser psicológica, nenhbuma pressão maior, a não ser uns inqueritos e sindicancias mixurucas também e perseguições no trabalho. logo, não dei muito trabalho à minha mãe, na área politica. é verdade que ela se apavorou e, sem me consultar, queimou, desnecessariamente e contra minha vontade, boa parte dos meu livros. mas só pensava no meu bem. como toda mãe.
já o meu amigo Neto deu mais preocupações à mãe. reunia em sua casa seus companheiros do partidão e ficava trancados, dias e dias, fumando como loucos e redigindo documentos politicos. dona maria era um genio culinário e amava os filhos e os amigos dos filhos. bom exemplo disso foi o dia em que viu um bando de policiais pregando numa parede cartazes com a foto do hoje senador aluisio nunes ferreira filho. os cartazes diziam "bandidos, subversivos, terroristas: assaltaram e mataram pais de familias!". dona maria não hesitou. foi rasgando os cartazes e dizendo "esswe moço é amigo dos meus filhos, frequenta minha casa, não é subversivo nem assaltante!". dona maria foi presa e só escapou de males maiores porque pessoa muito proxima era delegado do dops, e garantiu sua ingenuidade. bem, mas voltando às reeuniões politicas em sua casa. ela resiswtia e resistiqa a intervir, mas, quando não suportqava mais, batia forte na porta. é claro que eles abriam. e então ela introduzia no quarto dos meninos bandejas e bandejas cheias de fantásticas comidas e sobremesas, intimando: "não sei se voces vão derrubar o governo, não sei se vao fazer revolução, mas uma coisa eu sei: VOCES TÊM DE COMER!".


DONA PASQUALINA, MÃE DE FRANCISCO MARSIGLIA
segue-se agora o e-mail de duarte pereira:
Prezad@s amig@s:

Dona Pasqualina, mãe de Francisco Marsiglia, antigo diretor do semanário alternativo “Movimento”, faleceu anteontem e foi enterrada ontem no Cemitério São Paulo, na capital paulista..

Poucos sabem que Francisco Marsiglia foi o primeiro diretor administrativo do “Movimento”. E que foi graças a seu apoio que cheguei ao valoroso semanário oposicionista.

Em 1976, eu já me encontrava sem vínculos partidários há três anos, embora continuasse clandestino e perseguido, sobrevivendo e atuando em meio a grandes dificuldades. No esforço para retomar os laços de amizade e colaboração com antigos companheiros e companheiras de militância, reencontrei Célio Fujiwara, que me levou a Francisco Marsiglia, que por sua vez me repôs em contacto com Sérgio Motta, já então um dos sócios da empresa de consultoria Hidrobrasileira.. Discutindo alternativas de trabalho e atuação com Sérgio, ele me apresentou ao jornalista Raimundo Rodrigues Pereira, que estava articulando, com um grupo de intelectuais e jornalistas, um novo jornal de oposição à ditadura, que viria a chamar-se “Movimento” ( nome, aliás, da revista da UNE antes de a entidade ter sido forçada à atuar na clandestinidade). De meu encontro com Sérgio e Raimundo, durante jantar na casa de Sérgio, nasceria minha colaboração remunerada com o novo semanário como jornalista autônomo e perseguido, e dessa colaboração resultaria a seção “Ensaios Populares”, além da sugestão de pré-pautas para reportagens e edições especiais que o semanário realizou.

Para discutir as pautas dos “Ensaios Populares” e as pré-pautas referidas, eu me encontrava com Raimundo e Marsiglia semanalmente, durante algum tempo, na casa dos pais de Marsiglia , onde sempre éramos acolhidos com muita solidariedade e carinho por dona Pasqualina, que fazia questão, inclusive, de nos receber com lanches e, às vezes, até com jantares deliciosos, apesar de nossos protestos para não aumentar seus trabalhos.

Dona Pasqualina fez parte, portanto, daquele grupo de mães e avós destemidas que ajudaram seus filhos e netos, assim como organizações partidárias, sindicais, estudantis e culturais na resistência à ditadura militar. Não tenho notícia de que alguma dessas “mamas” e “nonas” anônimas, hoje esquecidas, tenha recebido alguma medalha ou condecoração por sua contribuição generosa e arriscada.

Compareci, assim, ao enterro de dona Pasqualina não somente por amizade à família Marsiglia, mas também pelo dever político de prestar uma modesta e derradeira homenagem de gratidão e saudade a dona Pasqualina.

Duarte Pacheco Pereira
11/2/2011