domingo, 12 de abril de 2009

TEMOS NOSSOS PRÉSTIMOS

Guima amigo,
minha avó paterna, vovó Engrácia, parecia uma indiazinha. Cabelo curtinho, baixinha, olhos bem puxados, analfabeta, fazia seus cigarrinhos picando com calma o fumo, cortando a palha. Fumava e conversava comigo, de vez em quando cuspindo numa latinha que tinha ao seu lado, num banquinho. Ainda sinto o bom cheiro do fumo no ar, quando me lembro dela. Ela estava sempre bonita e cheirosa, parecendo ter saído do banho. O café da casa dela, em Araraquara, era forte e já vinha doce. E permanente, sempre novo, sobre a chapa do fogão a lenha.
Enquanto isso, vovô João, antigo colono de fazenda, depois marceneiro, e por último fazendo cobranças, saía com sua pastinha e ia de ônibus cumprir o trabalhinho dele, enquanto teve forças e emprego. Vovó já estava um tanto surda, e volta e meia perguntava alguma coisa a meu avô, e ele, antes mesmo que ela completasse a pergunta, falava alto, embora com voz já fraca, "Não sei!". Perguntei a meu avô por que dava sempre a mesma resposta, ele me disse: "Qualquer outra resposta que eu dê ela vai dizer que está errada, e ficar discutindo comigo, então adotei o Não Sei como resposta padrão!".
Ela se queixava do jeito dele, do fato de quase não conversar com ela, e de ficar ali o dia todo mexendo nas madeiras, em sua bancada de marceneiro. Mesmo à noite, quando ela, que dormia pouco, e tinha dentro da cabeça um "baruião", ficava se lembrando da infância dos dois -pois se conheciam desde meninos, e foram criados na mesma fazenda, e às vezes o acordava com perguntas do tipo "João, como era o nome daquele pretinho que Dona Isaltina criava?", ele respondia "Não Sei" e voltava a dormir. Mas depois ela começava a falar sobre o quanto ele era bom, de moral rígida e coragem física, além de grande marceneiro. Tinha feito todos os móveis da casa, simples, mas fortes e bem lustrados, de camas a penteadeiras, cadeiras, cadeira de balanço, mesas e guarda-comidas, tinham sido feitos por eles (o que eu não daria para ter hoje um daqueles móveis comigo...). E ela concluía, séria e convicta, me olhando docemente (e o que eu não daria para ter hoje aqueles olhos comigo!): "É, ele tem seus préstimos!"
Teu texto sobre a utilidade (?) masculina lembrou-me Vovó Engrácia.
Obrigado, amigo.
beijão
ruy

DIA FRIO EM SAMPA

Esta noite esfriou um pouco em Sampa. E os antibióticos continuam funcionando bem. O indicador chamado Proteína C Reativa (também conhecido como PCR ultra sensível), nas duas últimas semanas, deu, respectivamente, 0,33 e 0,44. O normal é de 0 a 0,5. Pode comemorar, torcida amiga!

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