Faz nove anos, uma menina me entrevistou para um trabalho escolar. Achei hoje a entrevista, num canto deste laptop. Vamos ler juntos?
ENTREVISTA COM PSICÓLOGO
1) Iniciais do nome.
Ruy Fernando Barboza
2) Idade.
57 anos
3) Sexo.
Masculino
4) Estado civil.
diviorciado
5) Onde se formou?
Psicologia na Universidade São Marcos, 1987, Direito na USP, 1965
6) Fez especialização? Onde?
Psicanálise na Escola Freudiana de São Paulo, de abordagem lacaniana, filiada à Escola Freudiana de Paris, fundada por Jacques Lacan; Análise Bioenergética (CBT - Certified Bioenergetic Therapist) pelo International Institute for Bioenergetic Analysis, de Nova York, EUA, fundado por Alexander Lowen.
7) Fez pós-graduação? Onde?
Mestrado em Ciências da Comunicação, na USP
8) Qual a sua base teórica?
Dentro da corrente Reichiana, a abordagem a que me filio na Análise Bioenergética, que obviamente é uma Psicoterapia Corporal, inclui, além da pensamento de Wilhelm Reich revisto por Alexander Lowen, as referências mais atuais dentro da Psicanálise, segundo as pesquisas e o pensamento de John Bowlby.
9) Quantos anos tem de formação?
Formei-me em Psicanálise em 1980 (antes de me graduar em Psicologia), e em Análise Bioenergética em 1995.
10) Há quantos anos atua na área?
Desde 1987.
11) Fez ou faz psicoterapia? Quanto tempo?
De 1968 até hoje.
12) Qual sua melhor qualidade?
Como psicoterapeuta, certamente é a empatia em relação às questões do paciente - a capacidade de permitir "ressoar" em mim e de, ao mesmo tempo, discriminar, lidando com a contra-transferência.
13) Qual o seu pior defeito?
Ainda como psicoterapeuta, uma certa ansiedade para ver o paciente progredir. Muitas vezes me pego querendo que ele cresça antes do seu tempo.
14) O que você considera mais fascinante em seu trabalho?
A possibilidade, que somente este trabalho oferece, de uma relação tão profunda com o sofrimento emocional, e de ver as pessoas desfazendo os bloqueios e nós de sua existência.
15) O que você considera mais importante em seu trabalho?
A contribuição que dou para que as pessoas superem os nós de que falei na resposta anterior, criando esse espaço único, exclusivo, para o seu crescimento.
16) Algum paciente te deixa com tédio? (Se sim) O que você faz?
Sim, muitas vezes. Não há um procedimento padrão. Procuro perceber onde seus problemas estão me "pegando", e geralmente identifico, como razão básica, a minha impotência subjacente. Isso me ajuda a poder de novo voltar a estar atento, e a acompanhar sua jornada. Fico mais "ativo", mais diretivo, mais produtivo como terapeuta, nesses momentos. E o resultado geralmente é saudável, para mim e para o paciente. Muitas vezes incluo meus sentimentos na sessão, assumindo-os. Isso é de grande valia para o paciente, que assim pode se sentir autorizado a também ter sentimentos e assumi-los, na sessão ou diante de outras pessoas, na vida, caminhando para a "congruência" de que nos falam Carl Rogers, Alexander Lowen e outros.
17) Algum paciente já te despertou raiva? (Se sim) O que você fez?
Sim, muitas vezes. Não há um procedimento padrão. Procuro perceber onde seus problemas estão me "pegando", e geralmente identifico, como razão básica, a minha impotência subjacente. Isso me ajuda a poder de novo voltar a estar atento, e a acompanhar sua jornada. Fico mais "ativo", mais diretivo, mais produtivo como terapeuta, nesses momentos. E o resultado geralmente é saudável, para mim e para o paciente. Muitas vezes incluo meus sentimentos na sessão, assumindo-os. Isso é de grande valia para o paciente, que assim pode se sentir autorizado a também ter sentimentos e assumi-los, na sessão ou diante de outras pessoas, na vida, caminhando para a "congruência" de que nos falam Carl Rogers, Alexander Lowen e outros.
18) Algum paciente já lhe provocou medo? (Se sim) O que você fez?
Sim, muitas vezes. Não há um procedimento padrão. Procuro perceber onde seus problemas estão me "pegando", e geralmente identifico, como razão básica, a minha impotência subjacente. Isso me ajuda a poder de novo voltar a estar atento, e a acompanhar sua jornada. Fico mais "ativo", mais diretivo, mais produtivo como terapeuta, nesses momentos. E o resultado geralmente é saudável, para mim e para o paciente. Muitas vezes incluo meus sentimentos na sessão, assumindo-os. Isso é de grande valia para o paciente, que assim pode se sentir autorizado a também ter sentimentos e assumi-los, na sessão ou diante de outras pessoas, na vida, caminhando para a "congruência" de que nos falam Carl Rogers, Alexander Lowen e outros.
19) Como você se sente quando é assediado por um paciente?
Ajudo-o a perceber seus sentimentos e assumi-los, tomando posse deles, mas, ao mesmo tempo, podendo analisar o quanto seria inadequado e prejudicial, ao trabalho e a ele, a atuação do sentimento, seja ele defensivo (ou seja, encobridor de uma defesa, contra a psicoterapia, por exemplo) ou não. Esta afirmação se aplica não apenas aos sentimentos sexuais, mas a todo e qualquer sentimento. A raiva, a tristeza ou os sentimentos sexuais devem ser aceitos, mas não, necessariamente, atuados. Posso sentir vontade de matar o meu chefe, ou posso sentir desejos sexuais em relação a ele, mas a atuação desses sentimentos pode trazer mais prejuizos do que benefícios. Posso sentir vontade de chorar, mas o choro, em certas ocasiões, pode trazer resultados negativos por parte do ambiente. Por isso, é preciso também que eu saiba desenvolver auto-domínio, auto-possessão.
20) Dê sua opinião sobre o relacionamento entre paciente e terapeuta.
Imagino que você esteja falando de relacionamento sexual, certo? É desastroso, é antiético, é profundamente prejudicial para o paciente. É um abuso criminoso, e deveria ser um tema importante em todos os tipos de formação em psicoterapia (infelizmente, não é quase abordado). E cabe ao psicoterapeuta cuidar disso - e não ao cliente. É responsabilidade do terapeuta lidar com os sentimentos sexuais do paciente (dos dele, então, nem se fale), para que ele possa aceitá-los e saber que pode dirigi-los na vida de maneira saudável. Os sentimentos sexuais nunca devem ser censurados, mas nunca devem ser atuados no interior da psicoterapia. A psicoterapia é precisamente o lugar em que o paciente pode, por exemplo, solucionar traumas de abusos anteriores (geralmente, nesse caso, o paciente os traz em sua história, e foi abusado por familiares, ou médicos, ou professores, ou advogados etc..).
21) Você já viveu alguma situação constrangedora? Conte.
Já vivi, sim, mas seria antiético entrar em detalhes sobre situações de consultório. No entanto, a resposta à pergunta anterior me parece suficiente. Se o terapeuta está bem preparado, tendo feito uma boa formação, uma boa terapia e boas supervisões, saberá lidar com qualquer situação constrangedora que surja durante o processo.
22) O que você considera mais interessante em seu trabalho?
Veja a resposta à pergunta 14.
23) Sobre as dependências entre o relacionamento de terapeuta e paciente. Fale algo.
Pergunta muito mal formulada, incompreensível. Mas se você quer saber se a psicoterapia provoca dependência, respondo que um terapeuta bem formado saberá conduzir o trabalho de forma que o paciente saia da dependência. Do contrário, ficará como o personagem do Woody Allen, fazendo 25 anos de análise, 5 vezes por semana, sem melhorar, e muitas vezes ficando cada vez pior...
(FINANCEIRO E EMOCIONAL):
24) Você já se emocionou com algum paciente? Conte a situação.
Emociono-me todos os dias, com todos os pacientes, pois sou um ser humano. Se você quer saber se já chorei, se já ri, se já esbravejei com pacientes, sim, sim e sim. É o dia a dia do consultório. Isso já foi dito em várias respostas anteriores, e já disse como lido com os meus sentimentos.
25) O que você acha da psicoterapia?
Já foi respondida.
26) Já sentiu vontade de rir de alguma situação que o paciente lhe trouxe? Qual?
Já foi respondida. Milhares de vezes
27) Há alguma dependência emocional entre paciente e terapeuta?
Já respondida.
28) A questão financeira do terapeuta gera insegurança em perder paciente?
Gera, é claro. E é uma das situações em que o terapeuta corre riscos de deslizes éticos. É antiético, e prejudicial para a terapia, o terapeuta tentar "segurar" pacientes, seduzindo para que ele não vá embora, assim como atuar qualquer outro tipo de desejo - mesmo o desejo de o paciente se curar.
29) Você consegue se manter totalmente neutro?
Não. Ninguém consegue. Quem diz que é terapeuta neutro, está mentindo.
30) Você acha que todas as pessoas precisam fazer terapia?
Não. Muitas pessoas conseguem elaborar sem terapia seus problemas - pessoas com o ego suficientemente "flexível", que conseguem se adaptar a situações novas sem entrar em crise.
31) Qual a maior dificuldade que teve no seu início de profissão?
Foi no trabalho com pacientes de câncer, terminais. Sobretudo os jovens. Eu tinha muita dificuldade em lidar com a minha impotência diante do sofrimento deles e da morte iminente. Foi duro aprender a aceitar esse sofrimento e poder fazer-lhes companhia nessa viagem. E ainda é.
32) O que você acha do papel do CRP?
Muito importante. O CRP deve ser o maior guardião da ética e estabelecer diretrizes sólidas para a formação de psicoterapeutas.
33) Se você tivesse certeza de que um de seus pacientes tivesse matado uma pessoa, qual seria a sua reação?
Não sei. Não é possível responder de forma genérica a uma pergunta como essa. É uma pergunta boba.
34) Quais críticas faz à sua profissão?
Minhas críticas não são à profissão. Mas a grande parte dos profissionais e aos cursos de Psicologia, que não preparam ninguém, realmente, para a psicologia clínica, nem para a organizacional, nem para a educacional. E acho também que os profissionais deveriam, de forma geral, se preocupar mais em fazer uma boa formação. Mas acho que essas questões só irão se resolver com o tempo
35) Que conselhos daria para quem está começando o curso de psicologia?
Aprofundar-se em cada uma das questões trazidas ao longo do curso, sem preconceito em relação a nenhuma abordagem. Procurar desenvolver uma empatia em relação a cada um dos autores estudados, entendendo os pressupostos de seu pensamento. Não escolher a abordagem com que quer trabalhar, a não ser depois de terminado o curso. Procurar aceitar as contribuições das diversas correntes do pensamento psicológico, de forma a fazer depois, honestamente, sua síntese pessoal. Não "conciliar", não deixar passar as coisas que não estiver entendendo, para não assimilar mal o aprendizado. Procurar discutir à exaustão todas as questões éticas que lhe surjam à mente. Não se contentar com as interpretações e explicações simplistas, tão comuns no nosso meio, do tipo "é a mãe", "é o Édipo", "é racionalização", "é projeção", "está na fase oral". Levar em conta o social, a intersubjetividade de que nos fala Felix Guatari.
36) Você gosta da profissão que escolheu?
Adoro - dá pra ver, não?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário