Recebo do Sindicato uma edição especial comemorativa dos 30 anos da greve dos jornalistas de 1979. Na época eu era Redator Chefe da Playboy. Muita, muita coisa pra contar, mas agora só dois comentarinhos. A edição é uma coleção de depoimentos. A maioria bate na tecla de que os jornalistas queriam porque queriam fazer sua greve, já que todo mundo fazia greve. Tão simples quanto isso! Se fosse assim, eu digo, os dois terços estabelecidos pela primeira assembléia teriam sido conseguidos facilmente, e não foram. Eu votei contra a greve na primeira assembléia, porque tinha certeza, como boa parte da categoria, de que a greve seria um fracasso. Não deu outra. Acho que na segunda assembléia votei a favor, não me lembro. A principal razão porque a maioria das pessoas - pelo menos nós, que não éramos do comando da greve nem da direção do Sindicato - mudou de opinião foi o total desprezo dos donos de jornais pelas reivindicações dos jornalistas. Foi algo assim: a assembléia aprovou uma reinvindicação de 25% de reajuste, e a contraproposta falava em 1 (um)%! A revolta foi geral e foi o que motivou a mim e a muitos a mudar de posição. Aprovou-se também um item dispensando quem tivesse cargo de chefia de fazer greve, mas eu não me sentiria bem em furar a greve, mesmo porque era evidente que seria possível fechar qualquer publicação só com chefes - o que aconteceu de fato, apesar de terem feito umas porcarias de jornais e revista semanal - acho que a Veja era a única. Madrugada seguinte, e eu, Redator Chefe da Playboy, estava fazendo piquete na porta do Estadão. O jornal mandava buscar os fura-greves de ônibus, em casa, mas nós não só não deixávamos os ônibus entrarem, como também não deixamos os ônibus abrirem as portas. Não liguei para a Abril nem apareci lá durante toda a semana de greve.
FERNANDO HENRIQUE NÃO ERA SENADOR, NÃO
Nos depoimentos do Boris Kasoy (então diretor da Folha) e do Eduardo Suplicy (então jornalista registrado na FSP e deputado estadual pelo MDB, embora o Boris, erroneamente, diga que ele era federal) , um erro histórico: dizem que Fernando Henrique, que foi visitar o Frias junto com o Suplicy, tentando convencer o patrão a não imprimir a Folha, era senador pelo MDB. Fernando Henrique não era senador, e sim suplente. Quem se elegeu senador em 1978 foi o Franco Montoro. Fernando Henrique só assumiu a vaga no Senado em 1983, porque Montoro tinha sido eleito governador de São Paulo, e deixou o Senado. Lula havia apoiado a candidatura de Fernando Henrique. Lembro dele falando no último comício da campanha, em São Bernardo, e me lembro bem de Fernando Henrique abraçado a ele e dizendo que sonhava com o dia em que o operário não fosse o apoiador do candidato, mas pudesse ele, o operário, ser o candidato. O sonho se realizou, não é mesmo?
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