quarta-feira, 11 de março de 2009

BRUTALIDADE DO PRODUTO

Como você já sabe, a cuidadora profissional (que contratei por exigência do home care) folga em fins de semana. Daí eu ter pedido a amigos queridos – são muitos – que venham ficar comigo das 8 às 10 e das 20 às 22 horas, sábado e domingo, horários de aplicação do antibiótico. O último fim de semana foi o primeiro dos plantões. Só alegria. Além de ter netos (e vou ter mais um, notícia fresca!), ser feliz é rever amigos (não, apressadinhos, não estou excluindo a comida árabe nem ser amado pela Audrey Hepburn e pela Meg Ryan, mas ainda hoje quero falar de felicidade, e tem tudo a ver). E amigos queridos tenho muitos. Não vou citar e descrever os quatro que revi agora pra não matar você de inveja, mas quase que garanto que só a presença deles já me livraria dos efeitos colaterais dos antibióticos.
E um desses amigos me trouxe mais um livro – até isso está sendo bom, pois eu acabei de ler dois, e sempre estou lendo três ou quatro ao mesmo tempo. É A Arte da Vida, do Zygmunt Bauman. O moço se chamar zygmunt já é motivo suficiente pra eu querer lê-lo. Estou nos primeiros parágrafos. Ele escreve um pouco profundamente para a minha atual capacidade de concentração e sonolência, mas já vi que vou gostar. De cara, desmente – citando Robert Kennedy, pouco antes de ser morto – o Produto Nacional Bruto como critério para felicidade (talvez, pensando bem, como diria meu amigo recém falecido Gilberto Dupas, o PNB não servisse nem mesmo como índice de progresso real). Lembra que o PNB cresce na medida em que o dinheiro troca de mãos – ou seja, se foram comprados e vendidos mais produtos do trabalho humano, físico ou mental. Isso inclui, portanto, os gastos com antidepressivos, conserto de veículos, internações hospitalares, tratamento médico, água mineral e muitas outras coisas que as pessoas procuram tentando melhorar a qualidade de sua vida deteriorada. O discurso de Robert Kennedy – do dia 18 de março de 1968 acrescentava que o PNB é também produto da poluição, do ar, da publicidade de cigarros, dos sistemas de segurança instalados em casas e edifícios e as prisões, da destruição das florestas, da urbanização “descontrolada e caótica”, da produção de napalm, das armas nucleares e de tudo com que a policia tem de se equipar para enfrentar a criminalidade crescente – e até dos filmes violentos criados para estimular as crianças a quererem brinquedos de guerra... que não são mesmo, convenhamos nós, conversando só quarenta e um anos depois, indicadores de felicidade. Bom indicador de felicidade seria a alegria de rever amigos – e de ter netos. Mas não está no PNB.

Um comentário:

  1. Amado, li há relativamente pouco tempo, em conjunto com a turma super boa lá da Formação Freudiana, outro do moço de nome difícil. Amor Líquido. Acho que tem tudo a ver com você. Tem um resumo bacana aqui, ó:
    http://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=3&url=http%3A%2F%2Fwww.marciaavila.com.br%2Frepositorio%2Flivro4.pdf&ei=56m6Sa7QIdWDtwfIhqTiDw&usg=AFQjCNGP5JFoWkBMM85LwLT9gCxNMDW1Hw&sig2=wh2_LBq5tLZoLd37lm_2xQ

    Vou te mandar um e-mail. Pra visitar também tem horário certo?

    Beijoca,

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