terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

vou pra casa (torçamos)

torcida amiga, preparem seus axés. devo sair do hospital na proxima sexta, a tempo de desfilar no vai vai, que fica a poucos quarteirões de minha residencia paulistana - como muitos de vocês sabem, moro (em circunstâncias normais, o que tem ocorrido pouco ultimamente) metade do mêm em floripa, metade em sampa. pra quem como eu as vezes se sente assim meio vai não vai, é bom ter tão pertinho a torcida que grita vai vai, que agora tem o sentido de vai pra casa, ruyzinho. em casa, só vou precisar das aplicações de antibioticos de doze em doze horas, via home care. assim que eu me sentir mais fortinho, pois, já poderei dar umas voltinhas por aí, ir ao cinema etc.. isso, durante cinco meses mais. é o tempo necessário para vencermos a bactéria. eliminada a própria, volta à vida quase normal. e aí você me perguntará: e se ela resistir? se a bichinha ganhar a parada? então estarei realmente ferrado, mas, pô, bem que você podia não ter perguntado. não sei o que significa, no caso, estar ferrado, mas a medicina é assim, tem as vezes expressões um tanto genéricas. por precaução, vou ver a nova lei de falências pra ver se há alguma alternativa para a falencia multipla de orgãos. quem sabe é possível convocar as bactérias e propor algo como uma concordata.
bem, falemos a palavra mágica. morrer. não, não gosto dela. sempre fui contra a morte. mas já gostei bem menos do que agora. afinal, de uns anos pra cá, percebo que meu corpo vem, aos pouquinhos, caminhando para a morte. percebo que estou, aos pouquinhos, me afastando daquela imortalidade que era tão presente. era simplesmente inconcebível que eu morresse. mesmo quando meus amigos começaram a morrer (como os da minha turma da faculdade de direito da usp, a de 1965, que se reune a cada cinco anos, e foi ficando cada vez menor), eu me sentia imune a essa vulgaridade. de uns tempos pra cá, a cada grupo de células que se enfraquece ou se deteriora de vez, em cada tecido, em cada trecho do meu corpo, foi ficando claro que um dia todas vão estar nesse lamentável estado. mas não é tão lamentável assim. é cada vez menos lamentável. claro, preferia ficar muitos anos mais - e talvez fique - curtindo meu neto - ou meus netos, se mais vierem, e que venham! - e meus filhos, aproveitando a aposentadoria, namorando, falando bobagens - de preferencia - e coisas sérias com os amigos, fazendo, quando não resisto, trocadilhos infames - mas também alguns que, de tão infames, são ótimos -, indo ao cinema, cantando, compondo minhas musiquinhas mediocres, lendo. prefiro viver. mesmo quando a vida parece insuportável, prefiro viver. sei que pouco depois haverá uma comida legal, uma frase tocante, uma música, um momento agradável, uma lágrima de ternura ou de alegria. morrendo, tudo isso acaba. a morte é a volta ao nada. não há nada antes da vida, não há nada depois da morte. nadinha. logo, não há também nenhuma sensação, agradável ou desagradável. nada. e como ela é inexorável, vem mesmo, mais dia menos dia, se vier antes, nem terei como lamentar. vou apenas ter no corpo a expressão com que ela me surpreender, mas se for de choro ou de muita alegria, sempre haverá alguém para ajeitá-la para algo mais sério e digno.

8 comentários:

  1. vai. vai, vai. se fizer bom tempo. mas, se de repente chover, vai, vai, vai.
    beijo

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  2. Ah, querido amigo, claro que vai! Vai sim! E vai é ficar com a gente. Duvido que as bactérias possam conosco.

    Na torcida para partida (goleada do Rui nas bactérias) durar menos até do que 5 meses do tempo regulamentar.

    Todo o axé possível daqui.

    Beijos!

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  3. Oi Ruy, lastimo só saber agora o que aconteceu com você. Pelo jeito você não perdeu o bom humor. Um grande abraço e boa recuperação.

    Jean Solari.

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  4. Ruy, meu caro.

    Precisaria te dar muitos abraços, por estes anos todos em que não mais nos vimos, desde uma tarde -- lembra? não lembra? -- na São João com Duque de Caxias, em que você me disse que ia partir para transas outras que não as jornalísticas. Ou já tinha partido, e quem não lembra sou eu? Não importa. Por alguma razão, quando soube de você e dessa virada terrível na sua vida, meses atrás, a primeira imagem que me veio à mente foi a daquele encontro, nós dois muito moçoilos, acho que quarenta anos atrás, ou mais.Fui procurar coisas escritas por você. Gostei.Você é bom nesse assunto de juntar letras. É um dom, sabia?

    Um dia, quem sabe, ainda nos veremos.

    Cyro - aquele da Folha, no começo dos anos 60.

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  5. ruy, você tem um compromisso, o de comparecer a uma reunião de seus ex-colegas da revista playboy. tome logo os antibióticos, descanse o fígado, senão você não vai aguentar nos acompanhar nas biritas.
    abração,
    cacalo

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  6. pois então.
    não sei com que roupa fico agora...melhor dizendo, pra que nunca me reinterpretem bem, eu não sei fazer cada de paisagem senhor Ruy. como faço agora? tipo assim, como dizem minhas duas adolescentes: você fica doente de novo, trava batalhas infames com as tais bac bac e eu, amiga legítima, mesmo que não dos tempos da Folha e tal, mas ainda assim, legítima porque fui conquistada ao longo desses anos incríveis com que você me presenteou com as chamadas leituras inquietantes, a voz da deliciosa senhora sua mãe aos 80 anos, me cativando ouvidos exigentes e mais, muito mais. foi um pouco por vossa sagrada causa que me despenquei de Brasília até Floripa, só pra mergulhar naquela lagoa da Conceição e ficar que nem boto, olhando a terra de longe, de dentro d'água. é assim que você me destrata? fazendo um post que fala da tal partida inexorável e cheia de uns mistérios meio a la Christie? pois bem, daqui vai uma ordem. trate de se recompor. vista-se. arrume-se e programe-se para muitas visitas. dessa feita, você não passa por mim de barquinho dizendo "fui alí, até breve, nos lemos."
    tenha juízo, Ruy. trate de exercitar já, o seu direito de me ver envelhecer ou amadurecer, ou seja lá o que quer que digam...

    [carregada de carinho eu choro no meu banquinho. foi também por sua causa que abdiquei do jornalismo, virei uma artista prática e agora ando assim, tentando ser gauche de vez. e feliz. de qq forma ainda me falta um amor. vou escrever pra Casa Claudia. isso, farei isto.]

    beijo de mim,

    Val Freitas

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  7. Ruy querido
    faz tempo que não passo por aqui....e....bom adorei ser lembrada o que me permitiu recordar a saudade que tenho de você....que bom que já te encontro em casa bulindo as cadeiras e Vai Vai!!
    voltando pra estes nossos mares dá um alô...ia ser bom te olhar nos olhos...cantarolar e nos contarear
    beijares de criola
    tatiana

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