saí do hospital domingo, e começaram os meus cinco meses de home care - quase escrevi "home care em casa", como se home care pudesse ser em outro lugar. aqui tenho os antibióticos de 12 em 12 horas, e logo começa também a fisioterapia. melhor do que no hospital, sobretudo porque tenho mais liberdade de movimentos. estou me sentindo bem, fora o fato de que me canso mais rápido, me dá uma leve sonolência para muita atividade e muita conversa, e uma certa irritabilidade, que também me parece um pouco acima da minha irritabilidade natural e habitual. mas saí pelo menos para almoçar todos os dias, fazendo um roteiro gastronômico gostoso, nessa vida de regime semiaberto, como classificou a silvia. domingo comida tailandesa, segunda nordestina com fundo musical de carnaval na vila madalena, terça mineira de nopvo na vila madá, quarta árabe no almoço e italiana no jantar. tudo funcionando muito bem, dos intestinos aos rins. os antibióticos ainda não mataram as coisas boas, só as ruins, que é pra isso que eles estão aqui.
ORTOGRAFIA
tenho vontade de escrever sem acento, sem hifen, sem maiúsculas e numa linguagem simplificada. um pouco o que o monteiro lobato fazia. desde que veio essa nova ortografia, que me deixou com raiva. tem umas coisas ridículas, como todas as reformas feitas por esses luminares de academia. desta vez, eles não tiveram coragem de acabar com o hifen, e não acabaram com o trema de forma digna. que coisa ridícula a exceção para palavras estrangeiras aportuguesadas! que sentido tem voce aportuguesar uma palavra alemã - como em mulleriano, exemplo que eles sempre dão - e deixar o trema? é a subserviência, a coluna curvada diante da europa. ridículo. não vou botar nem esse trema. também vou deixar antiinflacionario sem o hifen. e tentar vencer minha tendencia de por os acentos - é que antes, quando garotão, eu me orgulhava de não errar em acentos. agora acho que eles são é atraso de vida - como achava lobato. por falar nisso, os moços acabam com o acento diferencial, a não ser... em pode pra nao confundir com pode... por que nao acabam de uma vez? e vou procurar alternativas para o hifen. acho que temos de telas - puxa, ficou meio estranho mais simpático... é uma questao de tempo e a gente acostuma.
monteiro lobato dava um exemplo interessante, para mostrar que o caipira, em matéria de conjugação de verbos e em outras, era mais sábio que os eruditos: o caipira conjugava, segundo ele, os verbvos como se faz em inglês, simplificando a lingua. veja só: em ingles, I like, you like, he/she/it likes, we like, you like, they like; em caipirês, eu gosto, vancê gosta, ele gosta, nóis gosta, vancês gosta, eles gosta. economia e clareza. temos de aprender com a sábia caipirada. e com o sábio lobato.
PRESIDENTE NEGRO
por falar em lobato, não sei como n inguém se lembrou, a propósito da eleição de obama, do romance lobatiano o presidente negro. o presidente negro narra a campanha numa america sdividida entre homens brancos e seu candidato, mulheres brancas e sua candidata, e negros e seu candidato - que se elege. nesses estados unidos lobatianos, os negros já haviam despigmentado sua pele - como o michael jackson -, mas não tinham conseguido despichainizar o cabelo. e então os brancos lançam um produto para alisar cabelo perfeitamente eficiente que logo é utilizado em massa pelos negros - que estão buscando se igualar aos brancos. mas o produto tem um veneno fatal, e mata os negros em massa - inclusive o presidente. o livro foi profético, pelo menos em certos aspectos - pois obama teve de disputar primeiro com uma mulher branca. esperemos que a profecia fique só por aí.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
quase fiquei rico
e então está praticamente - embora minha vida ultimamente tenha tido muitas reviravoltas de ultima hora - decidido que domingo vou pra casa, onde ficarei, durante mais 5 meses, tomando antibióticos de 12 em 12 horas - ministrados pelo home care do meu plano de saúde. o home care exige que haja alguém comigo, durante as visitas deles, os tecnicos de enfermagem. estava dificil de conseguir alguem para dois horários assim distantes um do outro - tipo duas ou tres horas de manhã, mais duas ou tres à noite. pensei primeiro em baby sitters - afinal, a constituição de 88 acabou com as restrições e limites de idade para um monte de coisas, acho que tenho direito a uma baby sitter tanto quanto uma criança. e vê se não começa a por essa mente maliciosa pra funcionar, imaginando coisas. eu não queria nada demais das baby sitters. só quero ter o mesmo direito que as crianças têm: ver um dvd comigo, me dar de mamar, me dar um banhinho e me por pra dormir. não está bom? mas acabei conseguindo uma pessoa ótima, acostumada a cuidar de moribundos - como nao esou moribundo, melhor ainda, não é mesmo? mas, antes de conseguir, cheguei a pensar em outra solução: como muita gente com grana frequenta o hospital onde estou, eu podia trocar de lugar com um deles que estivesse morrendo - seria simples, eu dependeria apenas da boa vontade de um dos técnicos aqui, que podia trocar minha pulseirinha de identificação com um deles. aí o ricaço morria e pensavam que era eu, e enquanto isso eu iria para a casa dele, aproveitar as boas instalações e o bem estar que ele construíra ao longo da vida. no começo a familia podia estranhar um pouco, ele (eu) chegar, bem nutrido, feliz, em boa forma fisica, sorridente, apesar de mancando da perna esquerda. é claro que eu ia atribuir as mudanças físicas à uteí, aos tratamento, às cirurgias, enfim, ninguém passa perto da morte e sai com a mesma cara. em pouco tempo, porém, eles iriam me adorar, e louvar a deus por ter me dado essa segunda chance. tenho certeza de que eu faria excelente uso da fortuna dele, alem disso com acentuada preocupação ecológica e responsabilidade social. o quê? voce acha isso antiético? nem pensar. afinal, quem morre e doa fígado, coração, rim etc., não está prestando um nobre serviço à humanidade, salvando uma vida? eu estaria fazendo muito mais: estaria doando meu corpo inteiro - apesar das sequelas da bala e da bactéria, que iria junto -, e ainda por cima com vida! quer coisa mais linda, mais nobre, mais generosa e solidária?
bem, mas como consegui uma pessoa bacana pra dar plantao lá em casa, minha segunda chance - de enriquecer com ética - fica pra outra vez.
VAI VAI
pra quem acreditou que eu iria mesmo sair na vai vai, corrijo: só vou torcer pela escola do bairro. é que eles não precisavam de nenhum destaque com a minha fantasia, de pirata da perna de pau e facão, gritando do alto da popa, opa, homem não.
bem, mas como consegui uma pessoa bacana pra dar plantao lá em casa, minha segunda chance - de enriquecer com ética - fica pra outra vez.
VAI VAI
pra quem acreditou que eu iria mesmo sair na vai vai, corrijo: só vou torcer pela escola do bairro. é que eles não precisavam de nenhum destaque com a minha fantasia, de pirata da perna de pau e facão, gritando do alto da popa, opa, homem não.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Foi-se o Dupas
eu aqui falando de morte, ontem, sem saber - só soube a noite - que o amigo gilberto dupas se tinha ido, de madrugada. a nuvem ficou no ar, aqui pelo quarto, e só agora começa a se dissipar. fomos companheiros na ação popular, década de 60, eu estudando direito e ele engenharia na usp. depois nossos encontros foram episódicos. comemorações, reuniões sociais em casas de amigos comuns, antigos companheiros, palestra minha sobre redução de stress no banco safra, do qual ele era diretor ou conselheiro, palestra dele no instituto sergio motta. eu levando minhas ideiazinhas, ele levando as idéiazonas dele. quem nao leu leia, pra se situar melhor nos emaranhados da era da informação e da globalização. tudo que li dele, li bebendo cada palavra. nao tinha papas na lingua. aquele italiano que fala em lazer o tempo todo, por exemplo, ele chamava simplesmente de imbecil, com todas as letras. foi uma das melhores cabeças da nossa geração.
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PAULA NUA
e me diga: em que edição da playboy vai sair a paula de oliveira nua? nessa história, o sensacionalismo da globo, que tanto chocou alguns coleguinhas, me impressionou menos do que o açodamento do amorim e do lula. quando vi o lula dizendo, logo de cara, que a suiça tinha de tratar os turistas tão bem quanto nós tratamos os estrangeiros aqui (momentaneamente ele deve ter esquecido dos turistas que morrem em assaltos no rio, por exemplo), fiquei um tanto constrangido, achando que ele devia esperar um pouco para sair falando. e devia mesmo.
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PAULA NUA
e me diga: em que edição da playboy vai sair a paula de oliveira nua? nessa história, o sensacionalismo da globo, que tanto chocou alguns coleguinhas, me impressionou menos do que o açodamento do amorim e do lula. quando vi o lula dizendo, logo de cara, que a suiça tinha de tratar os turistas tão bem quanto nós tratamos os estrangeiros aqui (momentaneamente ele deve ter esquecido dos turistas que morrem em assaltos no rio, por exemplo), fiquei um tanto constrangido, achando que ele devia esperar um pouco para sair falando. e devia mesmo.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
vou pra casa (torçamos)
torcida amiga, preparem seus axés. devo sair do hospital na proxima sexta, a tempo de desfilar no vai vai, que fica a poucos quarteirões de minha residencia paulistana - como muitos de vocês sabem, moro (em circunstâncias normais, o que tem ocorrido pouco ultimamente) metade do mêm em floripa, metade em sampa. pra quem como eu as vezes se sente assim meio vai não vai, é bom ter tão pertinho a torcida que grita vai vai, que agora tem o sentido de vai pra casa, ruyzinho. em casa, só vou precisar das aplicações de antibioticos de doze em doze horas, via home care. assim que eu me sentir mais fortinho, pois, já poderei dar umas voltinhas por aí, ir ao cinema etc.. isso, durante cinco meses mais. é o tempo necessário para vencermos a bactéria. eliminada a própria, volta à vida quase normal. e aí você me perguntará: e se ela resistir? se a bichinha ganhar a parada? então estarei realmente ferrado, mas, pô, bem que você podia não ter perguntado. não sei o que significa, no caso, estar ferrado, mas a medicina é assim, tem as vezes expressões um tanto genéricas. por precaução, vou ver a nova lei de falências pra ver se há alguma alternativa para a falencia multipla de orgãos. quem sabe é possível convocar as bactérias e propor algo como uma concordata.
bem, falemos a palavra mágica. morrer. não, não gosto dela. sempre fui contra a morte. mas já gostei bem menos do que agora. afinal, de uns anos pra cá, percebo que meu corpo vem, aos pouquinhos, caminhando para a morte. percebo que estou, aos pouquinhos, me afastando daquela imortalidade que era tão presente. era simplesmente inconcebível que eu morresse. mesmo quando meus amigos começaram a morrer (como os da minha turma da faculdade de direito da usp, a de 1965, que se reune a cada cinco anos, e foi ficando cada vez menor), eu me sentia imune a essa vulgaridade. de uns tempos pra cá, a cada grupo de células que se enfraquece ou se deteriora de vez, em cada tecido, em cada trecho do meu corpo, foi ficando claro que um dia todas vão estar nesse lamentável estado. mas não é tão lamentável assim. é cada vez menos lamentável. claro, preferia ficar muitos anos mais - e talvez fique - curtindo meu neto - ou meus netos, se mais vierem, e que venham! - e meus filhos, aproveitando a aposentadoria, namorando, falando bobagens - de preferencia - e coisas sérias com os amigos, fazendo, quando não resisto, trocadilhos infames - mas também alguns que, de tão infames, são ótimos -, indo ao cinema, cantando, compondo minhas musiquinhas mediocres, lendo. prefiro viver. mesmo quando a vida parece insuportável, prefiro viver. sei que pouco depois haverá uma comida legal, uma frase tocante, uma música, um momento agradável, uma lágrima de ternura ou de alegria. morrendo, tudo isso acaba. a morte é a volta ao nada. não há nada antes da vida, não há nada depois da morte. nadinha. logo, não há também nenhuma sensação, agradável ou desagradável. nada. e como ela é inexorável, vem mesmo, mais dia menos dia, se vier antes, nem terei como lamentar. vou apenas ter no corpo a expressão com que ela me surpreender, mas se for de choro ou de muita alegria, sempre haverá alguém para ajeitá-la para algo mais sério e digno.
bem, falemos a palavra mágica. morrer. não, não gosto dela. sempre fui contra a morte. mas já gostei bem menos do que agora. afinal, de uns anos pra cá, percebo que meu corpo vem, aos pouquinhos, caminhando para a morte. percebo que estou, aos pouquinhos, me afastando daquela imortalidade que era tão presente. era simplesmente inconcebível que eu morresse. mesmo quando meus amigos começaram a morrer (como os da minha turma da faculdade de direito da usp, a de 1965, que se reune a cada cinco anos, e foi ficando cada vez menor), eu me sentia imune a essa vulgaridade. de uns tempos pra cá, a cada grupo de células que se enfraquece ou se deteriora de vez, em cada tecido, em cada trecho do meu corpo, foi ficando claro que um dia todas vão estar nesse lamentável estado. mas não é tão lamentável assim. é cada vez menos lamentável. claro, preferia ficar muitos anos mais - e talvez fique - curtindo meu neto - ou meus netos, se mais vierem, e que venham! - e meus filhos, aproveitando a aposentadoria, namorando, falando bobagens - de preferencia - e coisas sérias com os amigos, fazendo, quando não resisto, trocadilhos infames - mas também alguns que, de tão infames, são ótimos -, indo ao cinema, cantando, compondo minhas musiquinhas mediocres, lendo. prefiro viver. mesmo quando a vida parece insuportável, prefiro viver. sei que pouco depois haverá uma comida legal, uma frase tocante, uma música, um momento agradável, uma lágrima de ternura ou de alegria. morrendo, tudo isso acaba. a morte é a volta ao nada. não há nada antes da vida, não há nada depois da morte. nadinha. logo, não há também nenhuma sensação, agradável ou desagradável. nada. e como ela é inexorável, vem mesmo, mais dia menos dia, se vier antes, nem terei como lamentar. vou apenas ter no corpo a expressão com que ela me surpreender, mas se for de choro ou de muita alegria, sempre haverá alguém para ajeitá-la para algo mais sério e digno.
sábado, 14 de fevereiro de 2009
vezes e repetições
depois do fuzilamento e das primeiras cirurgias, lá em 2002, havia muitas dúvidas sobre o que eu seria capaz de fazer. no hospital do rio, por exemplo, o urologista disse ao meu irmão que eu ficaria sexualmente impotente. não aconteceu. não sou o rei dos garanhões, mas talvez merecesse o título de conde - vá lá, marquês - dos não garanhões, o que já é alguma coisa. amigos meus, na época, acreditando na versão da impotência, começaram a dizer às amigas e amigas das amigas que eu estava impotente. impressionante como, algum tempo depois, comecei a ser assediado. as mulheres são realmente maravilhosas. sexualmente, estão séculos à frente dos homens (honrosas e desonrosas exceções, para ambos os sexos, OK?). primeiro, porque têm esse interesse, essa curiosidade, essa generosidade de procurar os homens que sabem (ou pensam) que tem problemas na área sexual. segundo, porque para elas, em geral, o que realmente interessa - muito mais do que o prazer especificamente sexual - é o afeto, o carinho, as trocas, os toques, a suavidade. temos muito a aprender com elas. e que bela escola.
a outradúvida, essa menos falada, é se eu voltaria a andar. claro, esse medo era maior, porque sem transar voce perde muita coisa, mas sem andar voce pode até perder as transas. e nisso a fisioterapia foi fantástica. grande parte de meu retorno a uma vida quase normal se graças a um dedicado e amigo fisioterapeuta, que cuidou de mim nos primeiros tempos, creio que durante quase um ano. paciente e eficientemente, ele foi propiciando desde movimentos muito pequenos, chatinhos, bobos, até o dia em que passei a acreditar que andaria. foi na primeira vez em que, estando só em casa, sentado, levantei-me e me sustentei nas duas pernas. alguns dias depois, eu consegui dar os primeiros passos, sem o andador. no dia seguinte exibi a façanha para o meu irmão, ele caiu no choro e me confessou que achava que eu não andaria mais. lembro-me também de um momento crucial, no corredor de um hospital, em que a fisio me disse que eu poderia andar mais, e sem apoio nenhum (eu consigo mesmo, mas depois de um tempo preciso da bengala). dito e feito. grande emoção. tenho, portanto, uma grande gratidão pelos fisioterapeutas. agora mesmo, depois de tirar a placa e os pinos, tive de ir fortalecendo novamente a musculatura (e também o osso "desemplacado") da coxa esquerda. e o progresso é muito rápido, eu quase já me sinto um ser humano quase normal de novo. mas tenho o orgulho de estar também ensinando uma coisinha aos fisioterapeutas. sempre que eles nos dão um exercício (por exemplo, levantar a perna, respirar e abaixar a perna), eles nos dizem o numero de vezes que temos de fazê-lo, enunciando: "quinze repetições". entao eu pergunto: faço 16 vezes? eles respondem: não, são quinze. então eu, orgulhosamente, corrijo: portanto, é uma vez e catorze repetições, pois a primeira vez não é uma repetição. todos concordam. mas o forte das faculdades de fisioterapia não é nem deve ser a precisão das palavras, e sim a precisão dos exercícios. implicância com palavrinhas é a especialidade de velhos chatos, alguns até paralíticos, daqueles que escrevem cartas para os jornais, como eu, saudosos do tempo em que os professores falavam a lingua portuguesa, e assim tinham como ensiná-la aos alunos.
a outradúvida, essa menos falada, é se eu voltaria a andar. claro, esse medo era maior, porque sem transar voce perde muita coisa, mas sem andar voce pode até perder as transas. e nisso a fisioterapia foi fantástica. grande parte de meu retorno a uma vida quase normal se graças a um dedicado e amigo fisioterapeuta, que cuidou de mim nos primeiros tempos, creio que durante quase um ano. paciente e eficientemente, ele foi propiciando desde movimentos muito pequenos, chatinhos, bobos, até o dia em que passei a acreditar que andaria. foi na primeira vez em que, estando só em casa, sentado, levantei-me e me sustentei nas duas pernas. alguns dias depois, eu consegui dar os primeiros passos, sem o andador. no dia seguinte exibi a façanha para o meu irmão, ele caiu no choro e me confessou que achava que eu não andaria mais. lembro-me também de um momento crucial, no corredor de um hospital, em que a fisio me disse que eu poderia andar mais, e sem apoio nenhum (eu consigo mesmo, mas depois de um tempo preciso da bengala). dito e feito. grande emoção. tenho, portanto, uma grande gratidão pelos fisioterapeutas. agora mesmo, depois de tirar a placa e os pinos, tive de ir fortalecendo novamente a musculatura (e também o osso "desemplacado") da coxa esquerda. e o progresso é muito rápido, eu quase já me sinto um ser humano quase normal de novo. mas tenho o orgulho de estar também ensinando uma coisinha aos fisioterapeutas. sempre que eles nos dão um exercício (por exemplo, levantar a perna, respirar e abaixar a perna), eles nos dizem o numero de vezes que temos de fazê-lo, enunciando: "quinze repetições". entao eu pergunto: faço 16 vezes? eles respondem: não, são quinze. então eu, orgulhosamente, corrijo: portanto, é uma vez e catorze repetições, pois a primeira vez não é uma repetição. todos concordam. mas o forte das faculdades de fisioterapia não é nem deve ser a precisão das palavras, e sim a precisão dos exercícios. implicância com palavrinhas é a especialidade de velhos chatos, alguns até paralíticos, daqueles que escrevem cartas para os jornais, como eu, saudosos do tempo em que os professores falavam a lingua portuguesa, e assim tinham como ensiná-la aos alunos.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Saudosa bengala
emocionante, hoje, meu reencontro com minha bengala. há doze dias no escuro armário fechado do hospital, talvez ela até pensasse que não me veria mais. mas ao final da sessão de fisioterapia de hoje, sentindo-me mais equilibrado depois de meu passeio de andador pelo quarto e corredor, pedi à fisio que a trouxesse. resoluto, empunhei-a como se fora uma arma e acariciei-a como a um cão amigo, e lá me fui, confiante e feliz, para mais uns cinco ou seis passos, digamos, quase rápidos, ante o olhar ansioso da fisio. mais uma etapinha vencida, pô. já estou sabendo que essa briga contra a bactéria vai durar uns seis meses, e também que começaram a surgir, nos exames, alguns resultados um pouco melhores - pra ser específico, se é que isso significa alguma coisa pra você, um tal de pcr, que estava, parece, em seis, baixou para três. bem, voce pode não saber o que é pcr, nem eu, mas ambos sabemos o que são seis e três. logo, temos alvíssaras, inda que alvissarinhas. e, como se sabe, as grandes mudanças começam com o primeiro passinho, e as grandes revoadas com o primeiro passarinho.
devo, nesta primeira etapa, ficar mais uns 15 dias no hospital. depois poderei ficar em casa, pois os antibióticos poderão espaçar-se um pouco mais, ao longo do dia. o mais chato é ficar tanto tempo sem curtir minha casa em floripa, onde, até o mês passado, eu ficava de quinze a vinte dias por mês, e pretendia ficar até mais. depois que construí, no andar térreo, lá, um quarto, um banheiro, um escritório e uma varanda privativos, e assim não precisava mais subir escada, a vida lá ficou muito melhor. por sinal, ultimamente, tudo lá estava ficando muito bom. novas amizades, novo relacionamento, tudo me enriquecendo e trazendo alegrias. pena mesmo esse abscesso - que tinha aparecido lá pra setembro de 2007 - ter sido tão insistente e ter piorado tanto. sacanagem. mas já conheço essas ironias. pois não foi logo depois de me aposentar, morando há apenas um mês em floripa, e estando de passagem pelo rio a caminho de olinda, que levei o tal tiro? pois é isso mesmo, se eu passasse um minuto depois ou um minuto antes, podia, ora bolas, ser muito melhor ou também muito pior. qualquer sabedoria maior aqui pode ser burrice. aprenda.
devo, nesta primeira etapa, ficar mais uns 15 dias no hospital. depois poderei ficar em casa, pois os antibióticos poderão espaçar-se um pouco mais, ao longo do dia. o mais chato é ficar tanto tempo sem curtir minha casa em floripa, onde, até o mês passado, eu ficava de quinze a vinte dias por mês, e pretendia ficar até mais. depois que construí, no andar térreo, lá, um quarto, um banheiro, um escritório e uma varanda privativos, e assim não precisava mais subir escada, a vida lá ficou muito melhor. por sinal, ultimamente, tudo lá estava ficando muito bom. novas amizades, novo relacionamento, tudo me enriquecendo e trazendo alegrias. pena mesmo esse abscesso - que tinha aparecido lá pra setembro de 2007 - ter sido tão insistente e ter piorado tanto. sacanagem. mas já conheço essas ironias. pois não foi logo depois de me aposentar, morando há apenas um mês em floripa, e estando de passagem pelo rio a caminho de olinda, que levei o tal tiro? pois é isso mesmo, se eu passasse um minuto depois ou um minuto antes, podia, ora bolas, ser muito melhor ou também muito pior. qualquer sabedoria maior aqui pode ser burrice. aprenda.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
escrever grogue
é gozado escrever aqui do quarto do hospital, grogue como estou agora. no meio de uma palavra, as vezes durmo. no texto - talvez - o branco nao fica claro, mas o branco vem e vai. nestas condições não posso fazer nada profissional, nenhum texto mais responsável, mas blog sim - inda mais que volta e meia sou interrompido, para olharem temperatura, pressão, observar a pele, os tres drenos (já está saindo menos sangue, talvez eu me livre dos drenos hoje), os curativos, a entrada do catéter, que ameaça irritar a pele em volta, ou pra falar sobre os exames, ou visitas, ou minhas vontades de fazer xixi e outras vergonhas. vergonha. lembro que a primeira vez que vi meu pai nu foi após a primeira cirurgia dele de cancer. ele já tinha 78 anos e fui ficar com ele no hospital. foi em 1988, logo eu tinha 45 anos- e nunca tinha visto meu pai nu. chorei (ainda choro, lembrando) de ver a vergonha dele - não de mim, que afinal de contas era seu filho, mas da enfermeira que jogava agua nele, para que tomasse banho. ele nu, totalmente desprotegido, constrangido, tentando esconder a chamada genitália, que na verdade consiste em pau e testículos, nao tem genitália nenhuma. no hospital nao podemos esconder nada, nem a genitália nem a bundália, que fica exposta aos cuidados de mulheres e homens que nunca vimos, e que pouco veremos - espera-se - no futuro. amigos espiritualistas, volta e meia - também em palestras de vez em quando a pergunta, de uma ou de outra forma, surge - querem saber que lição, que aprendizado eu tenho tirado dessa experiencia de levar tiro de fuzil, ficar com essa sequelada toda e ter de adaptar minha vida a esse monte de restrições. nunca sei bem o que responder sem ser muito agressivo ou desrespeitoso as crenças deles. mas estou pensando agora que expor a genitália e a bundália a desconhecidos deve mesmo conter alguma lição de vida. e em alguns momentos, sente-se uma certa elevação espiritual. como o momento em que, no rio, numa noite em que técnicos e auxiliares deviam estar totalmente ocupados, quem limpou minha bunda foi uma jovem, afetuosa, linda, culta e competentíssima enfermeira, aliás chefa da enfermagem. momentos desses quase me fazem acreditar, pelo menos em anjos.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
caminhando pelo quarto
boas noticias. já posso por o pe esquerdo no chao e por peso nele. mesmo doendo um pouco, me sinto quase no paraiso. eu andava com um medinho de nao conseguir caminhar ou ter de fazer uma nova protese, por causa das dores que estava sentindo. mas minha ortopedista me tranquilizou - e as dores também já tinham diminuido bastante, desde ontem. dai eu me sentir no paraíso. nao com doze mil virgens como quando a gente explode algum edificio do mal (segundo nossos amigos fundamentalistas), mas com uma linda fisioterapeuta que, com todo o respeito, é linda mesmo, e nao venha me perguntar se ela é virgem ou nao, pois nao sou fundamentalista nem bocó pra ficar pensando nessas bobagens sem sentido. o fato é que, do ponto de vista ortopédico, eu já poderia ter alta. mas do ponto de vista infectológico, não. temos de ter bons indicadores de que estamos ganhando da bactéria pra eu poder continuar o tratamento em casa. e isso vai levar provavelmente mais uma semana, ou mais ainda. nao tenham pressa.
esse papo sobre virgindade me lembrou um trecho do livro deus um delirio, do richard dawkins, em que ele relata que, num debate com um lider cristão e, se nao me engano, um muçulmano, ou um animista africano, o lider cristão comentou com ele, a respeito do outro: como é que alguem pode acreditar em idéias tão estranhas? e o dawkins acrescenta mais ou menos o seguinte: se alguem lhe disser que um homem é ele mesmo e é tambem o pai dele, e que nasceu de uma mulher virgem que nunca transou, e que dias depois de morrer ressuscitou e voou para o céu, o que você pensaria? pois é, cada um escolhe o mito que quiser, ou nenhum... eu, seja por que razao for, a partir de certa idade, passei a ter grande dificudade para acreditar em fadas, duendes (incluídos os gnomos!), coelho da páscoa, santa claus, santos, anjos, profetas e gurus de todos os matizes. mas isso nao elimina meu afeto pela humanidade em geral, nem minhas exigencias eticas, nem minha admiraçao pelas pessoas generosas e honestas, nem meu carinho e apoio aos que defendem a natureza e os oprimidos. deus nunca teve nem tem nada a ver com isso. ah, e gosto também de cachorros e de arroz com lentilha. e homus e babaganuche.
esse papo sobre virgindade me lembrou um trecho do livro deus um delirio, do richard dawkins, em que ele relata que, num debate com um lider cristão e, se nao me engano, um muçulmano, ou um animista africano, o lider cristão comentou com ele, a respeito do outro: como é que alguem pode acreditar em idéias tão estranhas? e o dawkins acrescenta mais ou menos o seguinte: se alguem lhe disser que um homem é ele mesmo e é tambem o pai dele, e que nasceu de uma mulher virgem que nunca transou, e que dias depois de morrer ressuscitou e voou para o céu, o que você pensaria? pois é, cada um escolhe o mito que quiser, ou nenhum... eu, seja por que razao for, a partir de certa idade, passei a ter grande dificudade para acreditar em fadas, duendes (incluídos os gnomos!), coelho da páscoa, santa claus, santos, anjos, profetas e gurus de todos os matizes. mas isso nao elimina meu afeto pela humanidade em geral, nem minhas exigencias eticas, nem minha admiraçao pelas pessoas generosas e honestas, nem meu carinho e apoio aos que defendem a natureza e os oprimidos. deus nunca teve nem tem nada a ver com isso. ah, e gosto também de cachorros e de arroz com lentilha. e homus e babaganuche.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
a luta continua
depois de um dia de muita dor, e um dia mais ou menos, desde ontem a dor nao me perturba, a nao ser em momentos especificos. nao posso mexer a perna esquerda, que dói. dói na coxa-quadril, por onde a bala entrou e onde foi a maior parte das cirurgias. também nao posso virar o corpo para o lado direito, mas isso é por causa dos tres drenos. faço bastante xixi, o que é bom. e estamos esperando que os exame digam se a bactéria está perdendo ou ganhando a briga. ainda nao sabemos.
já num sentido, digamos, mais macro, devo dizer que acredito nas boas intençoes do barak obama. e fiquei hoje sabendo pelo meu irmao que aquela moça chamada soninha, em que alguns conhecidos - e também um filho meu - votaram para prefeita (eu votei no kassab, e vou votar no serra pra presidente, podem me prender, podem me bater, podem até deixar-me sem comer), é a subprefeita do bairro da lapa. gostei de saber. lembrei-me de uma entrevista que fiz anos atrás, quando o serra era ministro da saude, com o gonzalo messina - que por sinal hoje dirige o hospital em que estou internado. messina acabara de assumir a anvisa, agencia nacional de vigilancia sanitária, que na verdade foi implantada por ele. contou-me como foi parar lá. serra primeiro o chamou e perguntou se messina trabalharia com ele. mesina disse que dependia depra quê. serra insistiu se ele teria alguma restriçao a trabalhar com ele, mas sem dizer pra quê. messina disse que nao. serra entao criou as condições para a existencia da agencia, e chamou messina de novo. o belo trabalho que fez levou martha a chama-lo pra ser secretario municipal da saude, quando ela se elegeu prefeita de sampa. mais uma razao pra eu votar no serra. em 1962/63, quando serra foi presidente da uniao estadual dos estudantes de sao paulo, tive um carguinho de suplente de representante no dce da usp e fui artista-agitador do centro popular de cultura da uee. confio (podem me prender etc.) no serra desde aquela época. quem trabalha muito proximo dele diz que ele é insuportável. me lembro que como presidente da uee ele era as vezes um tanto rispido com as pessoas. mas nao sei se isso pode ser considerado um defeito. e assim vai.
já num sentido, digamos, mais macro, devo dizer que acredito nas boas intençoes do barak obama. e fiquei hoje sabendo pelo meu irmao que aquela moça chamada soninha, em que alguns conhecidos - e também um filho meu - votaram para prefeita (eu votei no kassab, e vou votar no serra pra presidente, podem me prender, podem me bater, podem até deixar-me sem comer), é a subprefeita do bairro da lapa. gostei de saber. lembrei-me de uma entrevista que fiz anos atrás, quando o serra era ministro da saude, com o gonzalo messina - que por sinal hoje dirige o hospital em que estou internado. messina acabara de assumir a anvisa, agencia nacional de vigilancia sanitária, que na verdade foi implantada por ele. contou-me como foi parar lá. serra primeiro o chamou e perguntou se messina trabalharia com ele. mesina disse que dependia depra quê. serra insistiu se ele teria alguma restriçao a trabalhar com ele, mas sem dizer pra quê. messina disse que nao. serra entao criou as condições para a existencia da agencia, e chamou messina de novo. o belo trabalho que fez levou martha a chama-lo pra ser secretario municipal da saude, quando ela se elegeu prefeita de sampa. mais uma razao pra eu votar no serra. em 1962/63, quando serra foi presidente da uniao estadual dos estudantes de sao paulo, tive um carguinho de suplente de representante no dce da usp e fui artista-agitador do centro popular de cultura da uee. confio (podem me prender etc.) no serra desde aquela época. quem trabalha muito proximo dele diz que ele é insuportável. me lembro que como presidente da uee ele era as vezes um tanto rispido com as pessoas. mas nao sei se isso pode ser considerado um defeito. e assim vai.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
LETRAS MAIUSCULAS
DESCULPEM O MAU JEITO, POIS TAMBEM ACHO QUE TEXTO EM LETRA MAIÚSCULA PARECE GRITO. MAS FIZ ALGUMA BESTEIRA QUE MAIUSCULOU TUDO AQUI NESTE LAPTOP QUE A JULIA E O PAULO CARUSO ME EMPRESTARAM, ALEGRANDO ESTES MEUS DIAS DE HOSPITAL. ESTOU AGORA NA VESPERA DA 15.A CIRURGIA, QUE SERÁ LOGO MAIS AS 7 DA MANHÃ. MAIS UMA DRENAGEM, POIS ESTES ABSCESSOS TEIMAM, RESISTEM, INSISTEM. TIRAMOS A PLACA, OS PINOS E PARAFUSOS - QUEM VIER ME VISITAR NO HOSPITAL PODERÁ VÊ-LOS E EXAMINÁ-LOS, GRATUITAMENTE. UNS DIAS DEPOIS FIZ UMA OUTRA, A 14.A, PARA POR UM CATÉTER NUMA VEIA BASÍLICA, O QUE FACILITARÁ O CAMINHO PARA OS ANTIBIÓTICOS ATÉ O FÊMUR, ONDE, PARA NOSSA SURPRESA, AS BACTÉRIAS TAMBÉM ESTÃO FAZEDO SUA PROLONGADA FESTINHA BESTA. O PROCEDIMENTO FOI BEM INTERESSANTE. DOIS CORTEZINHOS NO ANTEBRAÇO ESQUERDO, PERTINHO DO COTOVELO, E POR UM DELES SE INTRODUZ O CATÉTER E VAI-SE EMPURRANDO-O. ELE SOBE PELO BRAÇO, PASSA PELA CLAVÍCULA E VAI ATÉ O CORAÇÃO. E A GENTE VAI ACOMPANHANDO (A CIRURGIA FOI LOCAL) PELO RAIO X. VAI VENDO O CATETER CAMINHAR. AO CHEGAR AO CORAÇÃO, ACIMA DO ÁTRIO, ELE FAZ UM ELEGANTE DESVIO PARA A ESQUERDA. É DALI QUE ELE JORRARÁ OS ANTIBIÓTICOS NO SANGUE. FIQUEI REALMENTE IMPRESSIONADO COM A TÉCNICA. PARECE QUE ESSE COMBATE VAI LEVAR MAIS DE UM TRIMESTRE. ESPERAMOS VENCÊ-LO. ESPERO TAMBÉM QUE AINDA NÃO SE TENHA FORMADO NENHUMA ONG QUE DEFENDA A VIDA DAS BACTÉRIAS. EU TERIA DE DISCORDAR FRONTALMENTE DESSA DEFESA, POR PURO INTERESSE PESSSOAL, CONFESSO. NA 14.A, FIQUEI 10 HORAS DE JEJUM. NESTA, AINDA BEM QUE O JEJUM, EMBORA COMECE AGORA À MEIA NOITE, COINCIDE COM HORAS DE SONO.
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