terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Costa e Silva
O Marechal Costa e Silva foi o segundo marechal a presidir a República depois do golpe militar de 1964. Naquela época, quando um general de Exército passava para a reserva, era promovido a marechal. Castelo branco também era marechal - ele foi o primeiro escolhido pelos militares para presidente, logo após o golpe. Eram de grupos diferentes, e Castelo não queria que Costa o sucedesse. Castelo era da Sorbonne - um grupo considerado de intelectuais, da Escola Superior de Guerra, que tinha, dizia-se, um projeto para o Brasil. Mas Costa e Silva se impôs - afinal, ele era o ministro da Guerra, quem podia impedi-lo? - e o Alto Comando acabou nomeando-o presidente. Numa viagem a Sampa - que na época se chamava São Paulo -, de cuja cobertura eu participei, como repórter político da Folha - deve ter sido em 1967, mas não confie muito nas minhas datas - um dos membros da comitiva, jornalista, conversando comigo no hotel em que estavam hospedados - o Jaraguá -, me disse que alguém devia perguntar a Costa e Silva qual seria o papel de Castelo em seu governo. A pergunta era uma evidente provocação, mas resolvi fazê-la. No dia seguinte, cedinho, quando Costa e Silva embarcou em Congonhas, evidentemente cercado de seguranças e puxa-sacos, eu me aproximei dele, pedi que me permitisse uma pergunta e fiz, do jeitinho que está aqui: "Qualk será o papel do Marechal Castelo Branco em seu governo?". Ele levou um susto com a ousadia daquele meninão - eu era mesmo um meninão -, depois começou a rir, passou a mão na minha cabeça, dizendo - "Mas que cabecinha é essa para ter essa idéia, não?" - e acabou respondendo: "Mas acho que ele não quer ter nenhum papel mais, está é querendo descansar depois de todo o trabalho que teve na Presidência". Na Folha do dia seguinte, aparecemos eu e Costa e Silva, mais seguranças, assessores e puxa-sacos, todos rindo muito. Que lição podemos tirar desse episódio? Mas que mania de querer tirar lição de tudo agora, pô. Só estou querendo contar uma certa vantagenzinha para quem não leu a Folha naquele dia e se impressiona com a vida fascinante dos jornalistas, tão próximos do poder e sem poder pessoal nenhum.
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