Publicado pela revista Psique, e está no portal Ciência e Vida)
Que psicoterapia é essa?
Por Ruy Fernando Barboza
Eu era psicanalista lacaniano e já tinha 44 anos quando tive meu primeiro - e dramático - contato com a psicoterapia corporal. Até então eu ficava sentado numa poltrona, atrás de meus clientes, que ficavam no divã falando e olhando o teto. Já tinha clareza de que não queria mais aquela vida. A convite de um amigo engenheiro que tinha tido câncer e queria montar um grupo de apoio, fui fazer um curso de psico-oncologia e, de repente - era uma ensolarada manhã de maio de 1987, no salão de uma pousada no Embu (município de São Paulo) -, vejo assustado, muito assustado, um grupo de pacientes de câncer e psicoterapeutas batendo as pernas, gritando palavrões e esmurrando almofadas.
Que loucura, que psicoterapia é essa? De início horrorizado, mas, ao mesmo tempo, comecei a ver que aquelas técnicas - o curso era vivencial, e todos nós passávamos pelas mesmas práticas - traziam, em mim mesmo, insights que oito anos de Psicanálise não tinham propiciado. Apaixonei-me por aquilo e saí à procura de uma nova formação. Acabei descobrindo essa genial criação de Alexander Lowen, a Análise Bioenergética, que em minha opinião é a melhor síntese (diagnóstica e terapêutica) das contribuições da Psicanálise combinada com uma visão energética dos processos físicos e emocionais (detalhes nos sites www.bioenergetica.com.br e www.analisebioenergetica.com. br, onde há também um texto meu relatando sessões e conversas que tive com Lowen).
Em minha visão, um dos conceitos fundamentais da Análise Bioenergética (utilizado também em outras abordagens, como a rogeriana), é o de congruência - que vejo quase como um sinônimo de saúde emocional e que deveria ser o objetivo declarado de toda psicoterapia. A congruência é uma harmonia, uma sintonia entre o que alguém sente, percebe que sente (há muita gente que, com a veia saltada no pescoço, grita que está calmo, e acredita nisso) e expressa o sentimento da forma mais pura possível. Se curei alguma coisa em mim nesses anos de estrada, isso pode ser avaliado pelo meu grau de congruência. Foi ele que, posso dizer sem medo de errar, salvou minha vida ou, no mínimo, apressou minha recuperação em todos os riscos que já houve para minha saúde e minha vida.
No risco mais grave que já vivi, fui atingido por uma bala perdida de fuzil, dia 30 de junho de 2002, no Rio de Janeiro. Um relato de pesquisa que li na época informava que de cada 27 baleados por fuzil que chegavam ao Hospital Miguel Couto - já que muitos vão direto para o necrotério -, apenas 5 sobreviviam, e desses 5 somente 2 sem sequelas graves. Minhas sequelas são muito desagradáveis, mas não virei um "vegetal" nem fiquei sem andar, dirigir (um carro automático), dançar e namorar (tudo um pouco pior do que antes, mas com razoável desempenho e muito prazer, diga-se de passagem). E em grande parte, devo minha saúde à Análise Bioenergética, que me propiciou descobrir meu direito ao protesto, à raiva, ao choro, à fragilidade, à expressão da impotência, do desespero e do medo, enfim, meu direito ao desbloqueio da minha energia e à harmonia do meu corpo.
RUY FERNANDO BARBOZA é psicólogo clínico e analista bioenergético certificado pelo International Institute for Bioenergetic Analisys (IIBA). Foi diretor do Centro Oncológico de Recuperação e Apoio (CORA). Assina a coluna Pergunte ao Psicólogo, no site da revista Claudia, (Editora Abril www.claudia.com.br) e apresenta o quadro Saúde & Tal no Canal Futura (Fundação Roberto Marinho)
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
sábado, 3 de outubro de 2009
ANIVERSARIO DO EDUARDO
Graças ao estímulo do Pituco (no comentário abaixo), consegui, embora mal e porcamente, botar a foto do jardinzinho que dei de presente aos meus netos. É a primeira foto, à esquerda, evidentemente, pô. A segunda, também à esquerda, é do Eduardo, no dia do aniversário de 3 anos, agora, dia 25 de setembro, em Taquaritinga. Ele, como você sabe, é meu primeiro neto. O segundo nascerá no final deste mês de outubro, e você o vê, no mesmo dia, à direita, na barriga da mãe, minha bela nora Daniele.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
AGUINALDO E AS MENTIRAS
Como já contei certa vez, Fernando Alexandre e outros amigos da praia do Saquinho, Ilha de Florianópolis, criaram o 25.o Concurso de Mentiras da Praia so Saquinho (começaram com o 25.o, e, entre outras sacadas, deram entrevista à imprensa revelando que os Amin e os Bornhausen tinham vencido vários dos concursos anteriores. Como estímulo aos novos concorrentes, transcrevo abaixo crônica do grande percussionista, poeta, escritor, e, melhor que tudo, meu bom amigo Aguinaldo Loyo Bechelli, que também se assina O Zingamocho. Ele fala por si...
MENTIRA É VERDADE QUE NÃO TEVE SUCESSO
- Se falando a verdade a gente já impressiona, imagine mentindo ! -
AGUINALDO LOYO BECHELLI
Dexameapresentá: sou Presidente de Honra do Clube dos Mentirosos de Santos. A sede é no Bar do Beto, no Marapé. Mereci livro de ata, diploma, troféu e carteirinha com fotografia. O presidente que me deu posse e condecorou foi o bom Celestino Perez Rufo, bem-humorado e sério. Mas como dizia Tio Catita, “sério é cu de porco e pisca”.
Elaborei os Estatutos do Clube, rascunhei uma crônica, a coisa foi tomando vulto, virou ensaio. Está na gaveta. Que nem maracujá, só depois de enrugadinho é que fica bom.
Enquanto isso, recolho subsídios. Por exemplo, recém inaugurou um bar aqui em São Paulo, com cabine telefônica equipada para emitir ruídos que simulam barulhos, a escolher: trânsito caótico, aeroporto congestionado, tiroteio, tempestade, raios, trovões, e sabe-se lá que mais fuzuês! Assim, graças a sonoplastia, a mentira fica vestida. Basta acionar o botão que mais convém ao mentiroso: “Olha benzinho, to aqui preso no trânsito, Engarrafou de vez. Tudo parado”. E tome buzina! Ao fundo, sirene compõe a trilha sonora. Dramatiza. Para maior autenticidade, voz grossa vocifera: “Vai pegá um tanque, dona Maria!”. Tipo de mentira com certa conotação de verdade quando o nêgo afirma que “engarrafou”.
Diz o psiquiatra que a massa branca do cérebro, mais densa, comanda a mentira. Já a cinzenta, da verdade, é ínfima. Será que é verdade ? Sabe como é psiquiatra!
Nêgo Lando, lá do cais do porto, não ia pra grupo. Rechaçava discurso de político: “Tenho pra mim que é bafo”.
Celestino conta: “Num domingo à tarde, plúmbeo (Que tal “plúmbeo?”) chuvinha pó-de-arroz, daquela triste, sem um tostão, deitado na cama patente, quis fumar. Acabaram os cigarros. Amassou o maço (Deixa assim, revisor), fez uma pelota, atirou numa aranha estacionada no alto, lá no cantinho do quarto. A aranha aparou a bolinha, devolveu pra ele. E como os dois nada tinham pra fazer, ficaram brincando, pinguepongueando”. Justíssimo, Celestino Presidente do Clube.
Já outro membro do Clube, o boa pessoa Quin, convicto, convence: “Vésperas de Natal, fui fazer retiro, amargurado com certas coisas. Enfiei-me num casebre no meio do mato, onde não tinha luz elétrica, nem vaga-lume. Quando o sol se pôs de cócoras trás-os-montes, peguei uma varinha, umas minhocas virgens, fui pescar num rio, logo ali. De repente, ouvi música alusiva – “Noite Feliz”. Ué! De onde vinha? Não tinha levado radinho de pilha e nas redondezas ninguém. Reparei que o som irrompia do meio do rio. Curioso, espetei a vara na terra, mergulhei. Sabe o que era? Alguém jogou um disco alhures (“Alhures!” - Quem aplica?), que lá encaixou e girava num rodamoinho. O anzol pegou bem em baixo do disco, tocava em alta fidelidade”.
Zé Faísca, sócio vitalício do Clube, gosta de contar: “Meu pai tinha uma loja de máquinas de costura. Os donos de máquinas antigas, “Singer”, daquele material de antes da guerra, pedal com base de chumbo, podiam dar de entrada pra compra de uma nova. As máquinas velhas, pesadonas, acumulavam no quintal. Para se livrar delas, nas festas juninas, o velho, popular Faiscão, fazia enorme balão de papel manilha, bocas com vergalhão de aço e mechas montadas em sacos de sessenta quilos. Pendurava as máquinas emprestáveis no lugar das lanternas. Tacava fogo no querosene até pegar no breu. No primeiro pingo, soltava. Pronto! Tchau ferro-velho. Tem mais. Papai calculava os ventos para o balão cair em alto mar”.
<>
Não me importo com a mentira. O que detesto é a imprecisão.
Samuel Butier
Não acredite em quem diz sempre a verdade.
Elias Canetti.
O meio de ser acreditado é tornar a verdade inacreditável.
Napoleão Bonaparte.
Em dúvida, diga a verdade.
Mark Twain.
Diga a verdade e saia correndo.
Provérbio Iuguslavo.
Cinema verdade ? Prefiro o cinema mentira.
A mentira é sempre mais interessante que a verdade.
Federico Fellini.
Que hei de fazer em Brasília ? Não sei mentir
Plagiando o poeta romano Juvenal. Sátiras I.3
“Quid Romae faciam? Mentiri nescio”
(Crônica publicada na Revista ELITE LUXURY – Nº 52)
MENTIRA É VERDADE QUE NÃO TEVE SUCESSO
- Se falando a verdade a gente já impressiona, imagine mentindo ! -
AGUINALDO LOYO BECHELLI
Dexameapresentá: sou Presidente de Honra do Clube dos Mentirosos de Santos. A sede é no Bar do Beto, no Marapé. Mereci livro de ata, diploma, troféu e carteirinha com fotografia. O presidente que me deu posse e condecorou foi o bom Celestino Perez Rufo, bem-humorado e sério. Mas como dizia Tio Catita, “sério é cu de porco e pisca”.
Elaborei os Estatutos do Clube, rascunhei uma crônica, a coisa foi tomando vulto, virou ensaio. Está na gaveta. Que nem maracujá, só depois de enrugadinho é que fica bom.
Enquanto isso, recolho subsídios. Por exemplo, recém inaugurou um bar aqui em São Paulo, com cabine telefônica equipada para emitir ruídos que simulam barulhos, a escolher: trânsito caótico, aeroporto congestionado, tiroteio, tempestade, raios, trovões, e sabe-se lá que mais fuzuês! Assim, graças a sonoplastia, a mentira fica vestida. Basta acionar o botão que mais convém ao mentiroso: “Olha benzinho, to aqui preso no trânsito, Engarrafou de vez. Tudo parado”. E tome buzina! Ao fundo, sirene compõe a trilha sonora. Dramatiza. Para maior autenticidade, voz grossa vocifera: “Vai pegá um tanque, dona Maria!”. Tipo de mentira com certa conotação de verdade quando o nêgo afirma que “engarrafou”.
Diz o psiquiatra que a massa branca do cérebro, mais densa, comanda a mentira. Já a cinzenta, da verdade, é ínfima. Será que é verdade ? Sabe como é psiquiatra!
Nêgo Lando, lá do cais do porto, não ia pra grupo. Rechaçava discurso de político: “Tenho pra mim que é bafo”.
Celestino conta: “Num domingo à tarde, plúmbeo (Que tal “plúmbeo?”) chuvinha pó-de-arroz, daquela triste, sem um tostão, deitado na cama patente, quis fumar. Acabaram os cigarros. Amassou o maço (Deixa assim, revisor), fez uma pelota, atirou numa aranha estacionada no alto, lá no cantinho do quarto. A aranha aparou a bolinha, devolveu pra ele. E como os dois nada tinham pra fazer, ficaram brincando, pinguepongueando”. Justíssimo, Celestino Presidente do Clube.
Já outro membro do Clube, o boa pessoa Quin, convicto, convence: “Vésperas de Natal, fui fazer retiro, amargurado com certas coisas. Enfiei-me num casebre no meio do mato, onde não tinha luz elétrica, nem vaga-lume. Quando o sol se pôs de cócoras trás-os-montes, peguei uma varinha, umas minhocas virgens, fui pescar num rio, logo ali. De repente, ouvi música alusiva – “Noite Feliz”. Ué! De onde vinha? Não tinha levado radinho de pilha e nas redondezas ninguém. Reparei que o som irrompia do meio do rio. Curioso, espetei a vara na terra, mergulhei. Sabe o que era? Alguém jogou um disco alhures (“Alhures!” - Quem aplica?), que lá encaixou e girava num rodamoinho. O anzol pegou bem em baixo do disco, tocava em alta fidelidade”.
Zé Faísca, sócio vitalício do Clube, gosta de contar: “Meu pai tinha uma loja de máquinas de costura. Os donos de máquinas antigas, “Singer”, daquele material de antes da guerra, pedal com base de chumbo, podiam dar de entrada pra compra de uma nova. As máquinas velhas, pesadonas, acumulavam no quintal. Para se livrar delas, nas festas juninas, o velho, popular Faiscão, fazia enorme balão de papel manilha, bocas com vergalhão de aço e mechas montadas em sacos de sessenta quilos. Pendurava as máquinas emprestáveis no lugar das lanternas. Tacava fogo no querosene até pegar no breu. No primeiro pingo, soltava. Pronto! Tchau ferro-velho. Tem mais. Papai calculava os ventos para o balão cair em alto mar”.
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Não me importo com a mentira. O que detesto é a imprecisão.
Samuel Butier
Não acredite em quem diz sempre a verdade.
Elias Canetti.
O meio de ser acreditado é tornar a verdade inacreditável.
Napoleão Bonaparte.
Em dúvida, diga a verdade.
Mark Twain.
Diga a verdade e saia correndo.
Provérbio Iuguslavo.
Cinema verdade ? Prefiro o cinema mentira.
A mentira é sempre mais interessante que a verdade.
Federico Fellini.
Que hei de fazer em Brasília ? Não sei mentir
Plagiando o poeta romano Juvenal. Sátiras I.3
“Quid Romae faciam? Mentiri nescio”
(Crônica publicada na Revista ELITE LUXURY – Nº 52)
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