sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

AS MÃES E A REVOLUÇÃO

o e-mail que voce lerá linhas abaixo fala do fundamental apoio que muitas mães deram a seus filhos e amigos dos filhos na luta contra a ditadura militar. eu fui um lutadorzinho mixuruca - e por isso mesmo tive uma prisãozinha michuruca, de um dia só, e fiquei só assinando ménage na operação bandeirantes e respondendo a interrogatórios em que o máximo que queriam era saber se eu tinha noticia dos meus amigos que estavam na clandestinidade. nenhuma tortura, a não ser psicológica, nenhbuma pressão maior, a não ser uns inqueritos e sindicancias mixurucas também e perseguições no trabalho. logo, não dei muito trabalho à minha mãe, na área politica. é verdade que ela se apavorou e, sem me consultar, queimou, desnecessariamente e contra minha vontade, boa parte dos meu livros. mas só pensava no meu bem. como toda mãe.
já o meu amigo Neto deu mais preocupações à mãe. reunia em sua casa seus companheiros do partidão e ficava trancados, dias e dias, fumando como loucos e redigindo documentos politicos. dona maria era um genio culinário e amava os filhos e os amigos dos filhos. bom exemplo disso foi o dia em que viu um bando de policiais pregando numa parede cartazes com a foto do hoje senador aluisio nunes ferreira filho. os cartazes diziam "bandidos, subversivos, terroristas: assaltaram e mataram pais de familias!". dona maria não hesitou. foi rasgando os cartazes e dizendo "esswe moço é amigo dos meus filhos, frequenta minha casa, não é subversivo nem assaltante!". dona maria foi presa e só escapou de males maiores porque pessoa muito proxima era delegado do dops, e garantiu sua ingenuidade. bem, mas voltando às reeuniões politicas em sua casa. ela resiswtia e resistiqa a intervir, mas, quando não suportqava mais, batia forte na porta. é claro que eles abriam. e então ela introduzia no quarto dos meninos bandejas e bandejas cheias de fantásticas comidas e sobremesas, intimando: "não sei se voces vão derrubar o governo, não sei se vao fazer revolução, mas uma coisa eu sei: VOCES TÊM DE COMER!".


DONA PASQUALINA, MÃE DE FRANCISCO MARSIGLIA
segue-se agora o e-mail de duarte pereira:
Prezad@s amig@s:

Dona Pasqualina, mãe de Francisco Marsiglia, antigo diretor do semanário alternativo “Movimento”, faleceu anteontem e foi enterrada ontem no Cemitério São Paulo, na capital paulista..

Poucos sabem que Francisco Marsiglia foi o primeiro diretor administrativo do “Movimento”. E que foi graças a seu apoio que cheguei ao valoroso semanário oposicionista.

Em 1976, eu já me encontrava sem vínculos partidários há três anos, embora continuasse clandestino e perseguido, sobrevivendo e atuando em meio a grandes dificuldades. No esforço para retomar os laços de amizade e colaboração com antigos companheiros e companheiras de militância, reencontrei Célio Fujiwara, que me levou a Francisco Marsiglia, que por sua vez me repôs em contacto com Sérgio Motta, já então um dos sócios da empresa de consultoria Hidrobrasileira.. Discutindo alternativas de trabalho e atuação com Sérgio, ele me apresentou ao jornalista Raimundo Rodrigues Pereira, que estava articulando, com um grupo de intelectuais e jornalistas, um novo jornal de oposição à ditadura, que viria a chamar-se “Movimento” ( nome, aliás, da revista da UNE antes de a entidade ter sido forçada à atuar na clandestinidade). De meu encontro com Sérgio e Raimundo, durante jantar na casa de Sérgio, nasceria minha colaboração remunerada com o novo semanário como jornalista autônomo e perseguido, e dessa colaboração resultaria a seção “Ensaios Populares”, além da sugestão de pré-pautas para reportagens e edições especiais que o semanário realizou.

Para discutir as pautas dos “Ensaios Populares” e as pré-pautas referidas, eu me encontrava com Raimundo e Marsiglia semanalmente, durante algum tempo, na casa dos pais de Marsiglia , onde sempre éramos acolhidos com muita solidariedade e carinho por dona Pasqualina, que fazia questão, inclusive, de nos receber com lanches e, às vezes, até com jantares deliciosos, apesar de nossos protestos para não aumentar seus trabalhos.

Dona Pasqualina fez parte, portanto, daquele grupo de mães e avós destemidas que ajudaram seus filhos e netos, assim como organizações partidárias, sindicais, estudantis e culturais na resistência à ditadura militar. Não tenho notícia de que alguma dessas “mamas” e “nonas” anônimas, hoje esquecidas, tenha recebido alguma medalha ou condecoração por sua contribuição generosa e arriscada.

Compareci, assim, ao enterro de dona Pasqualina não somente por amizade à família Marsiglia, mas também pelo dever político de prestar uma modesta e derradeira homenagem de gratidão e saudade a dona Pasqualina.

Duarte Pacheco Pereira
11/2/2011