segunda-feira, 30 de março de 2009

EU PODERIA SER O CHICO

Quando minha namorada fala do Chico Buarque, costumo lembrar de duas pessoas: Ernest Hemingway e Eduardo Barreto. Hemingway diz que, se você quer que sua mulher tenha de você a imagem de um homem corajoso, nunca a leve para ver uma tourada. Depois que ela vê o desempenho do toureiro, passa a achar que aquilo é que é macho, o resto é conversa. E o artista gráfico Eduardo Barreto é um dos muitos homens da minha geração que, desde os primeiros anos da década de 60, vem tentando achar um defeito de caráter, uma picaretagem, uma doença grave, seja lá o que for - enfim, alguma coisa ruim no Chico Buarque, para que sobre algum espaço para nós, na admiração de nossas mulheres. “Ninguém pode ser tão maravilhoso assim - dizia Eduardo -, compor assim, escrever assim, ter aqueles olhos, estar casado com uma mulher como a Marieta Severo...aí tem coisa”. De vez em quando Eduardo nos puxava para um canto: “Parece que a coisa agora é séria. O Chico está com um tumor no cérebro”. Vã esperança. Mesmo agora, depois de anunciada a separação de Chico e Marieta, o casal, que tinha um casamento invejado, passou a ter uma separação invejadíssima...
O Caetano Veloso é outro que, embora de forma disfarçada, está tentando achar defeito no Chico. Pode ver, no trecho do livro dele, no anúncio que a Companhia das Letras vem publicando em jornais e revistas. Caetano lembra que ele e Chico ficaram nacionalmente conhecidos e começaram a enriquecer ao competir no “Esta Noite se Improvisa”, da velha TV Record. No programa, a produção dava uma palavra, e ganhava pontos quem lembrasse primeiro uma música cuja letra contivesse aquela palavra. Caetano era um concorrente poderoso, mas Chico era melhor. Pois Caetano diz que Chico só ganhava dele porque, muitas vezes, compunha músicas na hora - o que era proibido pela produção, pois não era um concurso de repentistas, e sim de memória musical. Pura inveja, evidentemente - e perfeitamente compreensível, mesmo num compositor genial como Caetano. O conhecido incidente no Florentino, em que Chico deu uma valente cusparada em Millôr Fernandes, começou, para quem não se lembra, com a infeliz frase de Millôr, publicada nos jornais da época: “Não confio em Chico Buarque nem para tomar conta do meu cachorro”...
A inveja do Caetano, como se vê, é disfarçada, ressentida, vem num aparente elogio à capacidade de improvisação de Chico. A de Millôr apareceu raivosa, direta. Despretensiosamente, quero dizer que acho que os entendo.
Talvez se eu falar da minha inveja fique mais claro.
Morro de inveja do Caetano. Lembro-me, por exemplo, de quando ouvi pela primeira vez o disco de Londres, com “Maria Bethania” e “London, London”. Ao lado da emoção cívica e da impotente dor política que o exílio de Gil e Caetano nos causavam, e da admiração pela explosão da nova etapa do talento de Caetano, morri de inveja dele. Já tive muita vontade de ser cantor e compositor, tenho minhas musiquinhas, adoro cantar. Meu sucesso já chegou a ultrapassar as fronteiras domésticas, e me recordo perfeitamente que duas pessoas - um vizinho e uma vizinha - me elogiaram. Mas estou longe de ser até mesmo, digamos, um Martinho da Vila. Caetano, então, nem pensar...
Tenho também um inveja assumidíssima do Millôr. Da erudição, da criatividade, da genialidade do Millôr. Inveja que começou na minha infância, com o Pif-Paf, em “O Cruzeiro” - “cada número é exemplar, cada exemplar é um número”. Eu lia, adorava, e quantas vezes, lembrando das frases de Millôr no meio das aulas, tinha de me conter, para não ter de explicar aos professores do que estava rindo - por exemplo: “alguns ficam na cama porque estão doentes; outros, porque se sentem muito bem”. Adolescente, tinha a fantasia de escrever coisas brilhantes como as do Millôr. Tenho aqui minhas tiradas, tão bem sucedidas quanto as minhas músicas, em casa e nas vizinhanças. Mas já sei que nunca vou escrever nem sequer como o Carlos Heitor Cony - quanto mais o Millôr Fernandes...
Muitas vezes, depois de ouvirmos o Caetano, falo da minha inveja. Minha namorada diz que cada um tem suas qualidades. Por exemplo, eu sou muito mais modesto que o Caetano, segundo ela. E a modéstia é uma qualidade importante. Quando falo da minha inveja do Millôr, ela diz que eu sou mais bonito do que ele. Não digo que não seja bom ouvir isso, mas sempre tenho uma sensação de estar sendo enganado.
Mas nunca tive inveja do Chico. Quanto ao Chico, sou tomado por um sentimento muito diferente da inveja. Nunca pensei em compor como o Chico, nem em ser bonito como o Chico, nem em escrever como o Chico.
Na verdade, eu queria mesmo é ser o Chico. É isso aí. Em vez de o Chico Buarque nascer, eu teria nascido, no lugar dele, e eu seria ele, inclusive com o nome dele, tudo direitinho. E se ele quisesse nascer também, podia nascer no meu lugar, e ele seria eu, é claro. Problema dele.Quando falo disso para a minha namorada, ela me olha com um olhar pensativo. Acho que ela me entende, pois não diz nada, nada. Fica quietinha.

AGONIAS PEGAM. VIAGENS TAMBÉM

Como será essa coisa de uma coisa pegar? De repente, todo mundo está fazendo aquela coisa daquele jeito. Não por moda, mas porque de repente está mesmo fazendo daquele jeito, todo mundo. Filme nacional, por exemplo. Sempre umas pessoas se juntam e saem pelo Brasil e as coisas vão acontecendo assim, o pessoal viajando. Central do Brasil é assim. Aquele filme com o Wagner Moura, a filha do Ninho com a irmã da Sonia Braga e mais aquele crioulo ótimo, baiano também, logo que o filme começa, não demora muito e eles pegam a lancha e se mandam. Tapete Vermelho, o do Mateus Nachtergale imitando o Mazzaropi, uma gracinha, é isso também. A familia toda sai procurando o filme do Mazzaropi, e tome pé na estrada. O filme que o Fagundes faz papel de Deus é outro, feito em cima do conto do João Ubaldo. Deus vem procurar um substituto, pega o Wagner Moura e lá se vão eles viajando pelo Brasil. E o das aspirinas e cinema e tal, então, nem tem dúvida. Já começa o alemão viajando, pega o João Miguel e pé na estrada. Não que não fique bom. Mas quando o filme é nacional, agora, já sei que aí vem viagem. Aí vem Baibai Brasil, que eu nem tinha citado, mas, bem, você já sabe.
E romance. Acho que neste caso é culpa do Paul Auster. Romance é assim: tem um sujeito de cama, pra morrer. Seja por que causa for. Está mal, agonizante, Pode ficar bom depois, mas está muito mal. E ali, na cama, ou ele começa a pensar coisas, ou começa a escrever mesmo, ou tem lembranças. E aí o romance vai acontecendo. Os últimos do Paul Auster são todos assim. O último ainda nem li, mas já sei que é um velho tomando morfina em hospital e relembrando a vida. O Terra Vermelha, do Domingos Pellegrini Junior, é assim – e como meu pai agonizou no mesmo hospital do personagem, até o cantar dos pneus dos carros lá fora eu reconheci. Bem, eu também passei uma noite muito mal no mesmo hospital. Acho que foi quando a bactéria começou a agressão que dura até hoje ( e foi em 2003). E agonizei em alguns hospitais.Bem, o Leite Derramado, do Chico, que ainda não comprei (saiu ontem, não deu tempo, hoje fiquei tirando radiografias e comecei uma fisioterapia fora de casa, depois caí no sono, pois a fisio foi muito pesada) é assim. Comprei todos os livros do Chico. Fazenda Modelo. Estorvo. Tinha medo de ler e achar algum defeito no Chico. Aí saiu Budapest e o Saramago disse que acontecia uma coisa na língua portuguesa. Comprei, li e vi que o Chico não tem defeito mesmo, nenhum. Leite Derramado, aí vou eu, mas estou cismado com esse negócio de os caras terem de agonizar pra sair um romance. Eu agonizo, agonizo e não sai nada. Nem morro, nem sai romance. Talvez não seja uma questão de agonizar, mas de ter talento mesmo.

SER PAI

Desde criança eu queria ser pai. De muitos filhos. Admirava famílias grandes, casas cheias de quartos com quatro beliches cada, monte de gente falando na hora do jantar, bandejas correndo de mão em mão pela mesa imensa. Olhava para cada menina como uma potencial mãe dos meus filhos.
Depois descobri o sexo, atividade que sempre me deu muito prazer, e centrei-me nesse prazer. Nada podia ser melhor do que fazer sexo, sobretudo com a mulher por quem eu estivesse apaixonado. Era tão bom que desviava minha atenção do fato de que todo aquele prazer era exatamente o que fazia com que homens e mulheres se tornassem pais e mães. Até que minha namorada ficou grávida. E a relação entre um e outro desejo se estabeleceu com uma clareza contundente!
Grana pouca, 23 anos eu e ela 22. Em nenhum momento duvidamos de que a notícia era maravilhosa e casamos praticamente sem pensar, em abril de 1967. No dia do casamento, três meses de gravidez, o vestido dela, na altura dos seios, apresentava pinguinhos de leite. Foi para mim um bom sinal. Certamente teríamos uma substanciosa família, grande, feliz e bem alimentada. Paramos em dois casais de filhos (por ordem cronológica Juliana, Saulo, André e Carolina, respectivamente atriz, psicólogo, advogado e psicóloga), nascidos de dois em dois anos, em média. Não era a família grandona que eu imaginara antes, mas estava de bom tamanho para os tempos que corriam.
Nunca nos sentimos preparados para a paternidade ou para a vida (ainda não me sinto, e apesar de carreiras bem sucedidas no jornalismo, no direito e na psicologia, às vezes penso que minha verdadeira vocação seria tocar harpa paraguaia e cantar guarânias em bares noturnos pesadamente boêmios). Entre culpas, medos e alegrias (com predomínio absoluto das alegrias), porém, acho que me saí razoavelmente bem.
No fundo, ninguém ensina ninguém a ser pai. Aprendizado de pai é transferência, com saltos de qualidade, de uma situação para outra.Vamos aprendendo aos poucos, com a experiência, quando pensamos e repensamos a experiência. E imitamos, mesmo sem querer, a referência de pai que tivemos. Olhando pra trás, vejo quanto imitei o meu pai, de quem de cara herdei o nome, Ruy, e de quem recebi, mais que tudo, um afeto sem limites.
De escola meu pai só teve o primeiro ano primário. Paulista de Jaú, filho de colono de fazenda, cresceu sendo peão para tudo, lavrador, cozinheiro, mecânico, motorista, marceneiro e lenhador, serrando troncos, produzindo e carregando dormentes para a construção da ferrovia Araraquarense. À noite, à luz de velas, aprendia solitariamente em quartos de pensão, lendo livros de matemática, português (o velho e excelente Dicionário de Cândido de Figueiredo, encadernado por meu pai, até hoje está comigo) e inglês (“O Inglês Tal Qual se Fala no Presente, Sem Auxílio de Professor”, que também herdei). Aprendeu tudo sobre café e foi, já jovem, ser provador e classificador, e mais tarde, final da década de 40, casado e com três filhos, gerente de empresas exportadoras, no Norte do Paraná. Então, suas belas mãos já não eram calosas. Conheci as mãos de meu pai já delicadas, quentes e macias. Depois do jantar, eu colava o ouvido ao violão para ouvi-lo dedilhar, doce e suavemente, velhas valsas e sambas. Não havia calos na mão que tocava meu peito, enquanto ele me contava histórias e me cobria nas noites de frio. Meu pai já se foi há quinze anos, mas ainda sinto sua mão. É ela que me acalma, protege e conforta nos momentos de angústia, tristeza e desamparo.
A certeza desse afeto é que me deu força para, aos 17 anos, quando entrei na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, sair de casa e vir morar sozinho em São Paulo, onde não conhecia ninguém.
Quando me tornei pai, em 1967, aos 24 anos, tudo o que queria, e ainda quero, é poder tocar meus filhos com aquela mesma mão. Garanto: se você quer ser um bom pai ou uma boa mãe e ter filhos felizes, só precisa tocá-los dessa forma. O resto é detalhe.
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Acho engraçado dizerem que pai não pode ser amigo. Pode, sim. Meu pai foi, e eu nunca tive dúvidas em querer ser grande amigo dos meus filhos. Amigo de verdade não é o que é conivente com erros e deixa o outro fazer bobagem e caminhar torto. Amigo briga, até rompe a amizade quando vê o amigo estragando a própria vida. Um dia o amigo volta e agradece. Pai tem de ser amigo assim.

Muitas vezes me perguntei se gostava mais de um filho que de outro. Pergunta que todo mundo faz aos pais, achando que preferência é inevitável. Não vejo diferença entre os meus amores por eles. Vejo, sim, que em cada tempo estou mais próximo de um. Ou porque estou me identificando mais com o que ele está vivendo, ou porque acho que naquele momento precisa mais de mim - ou eu dele.

E sempre confiei neles. Sem nenhum esforço. Nunca acreditei ser saudável o comportamento do pai que desconfia, inquire, vigia e investiga. Isso não é cuidar. Cuidar é dar opinião, é defender de todo e qualquer ataque, é estar solidário, pronto para ajudar, mas respeitando a autonomia do outro e o pensamento diferente.
Culpa, só sinto pelos momentos em que fui pouco atento, ou interferi indevidamente na vida deles. Momentos em que não percebi ou não valorizei o sofrimento por que passavam, ou impus decisões contra a vontade deles. Momentos em que agi intempestiva ou agressivamente, perdi a cabeça. Momentos em que descarreguei neles raivas que trazia da rua ou de outras pessoas. Mas também aprendi que se esses erros não são o nosso padrão de comportamento, não têm conseqüências a longo prazo. Diluem-se em meio às situações em que predominou a compreensão, a confiança e o afeto.

Menino, reconheço, dá muito mais trabalho que menina. Menino briga em festa, bebe de cair, experimenta droga, picha muros, anda de moto, faz besteira, faz bagunça, vai preso. Deixa você bravo, preocupado, com a pulga atrás da orelha. Menina tem juízo. Nunca perguntei a nenhuma das meninas onde iam, com quem iam, que hora voltariam. Sempre soube que elas tinham mais juízo que eu, que sou menino. Aos meninos eu também não perguntava, mas com eles o resultado nem sempre foi bom. Devia ter perguntado. Errei.
Nosso maior sofrimento, no entanto, foi quando, depois de 21 anos, eu e minha mulher nos separamos. Não avaliei o quanto seria difícil. E não havia nada a fazer. Foi quando descobri que sempre há algo a fazer, sim. No caso, era chorar. Não esconder o que eu sentia, nem julgar a raiva ou a tristeza de cada um deles. Sofrer e chorar juntos, pelo inevitável, pela impotência, pelo caminho que a vida tomava. Dessa crise, acredito, saímos todos fortalecidos. Em diferentes momentos, morei sozinho, morei com os quatro, com dois, com uma das meninas e, finalmente, moro sozinho de novo. Divido meu tempo entre Florianópolis e São Paulo, aproveitando o que há de melhor nas duas cidades. Em Floripa, o que há de melhor é minha namorada, apesar de todo o respeito que eu tenho pela linda paisagem natural da ilha. Em São Paulo, o que há de melhor é meu neto Eduardo, apesar do meu amor por meus filhos e da minha profunda ligação com a vida da cidade.


Eduardo, meu primeiro neto, fez nove meses em junho. Ainda tenho comigo a grandiosa sensação do dia em que ele nasceu, e dirigi 700 quilômetros para vê-lo. Se ser pai nos traz a ilusão de sermos pequenos deuses, pelo milagre que é ver surgir de nós uma vida, ser avô faz de nós deuses maiores, pois nos traz a sensação de que geramos nada menos do que um deus! Finalmente, um alerta: quando você ouvir um avô dizendo que seu neto é a coisa mais linda do mundo, não acredite. Ele está sendo parcial, muito pouco objetivo, influenciado por essa falsa idéia de que produziu milagres. Nenhum deles pode ter originado a coisa mais linda do mundo, pois a verdadeira coisa mais linda do mundo é o meu neto, o Eduardo.

sábado, 28 de março de 2009

SOL E DALVA DE OLIVEIRA

Geralmente durmo de janela aberta. Hoje acordei com sol em Sampa, mas parece que ele não vai ficar, já se está indo. Com sol e com a letra de abajur lilás e a voz de dalva de oliveira na lembrança. bem, segue a letra para quem não se lembra: que será da minha vida sem o teu amor, da minha boca sem os beijos teus, da minha alma sem o teu calor, que será da luz difusa do abajur lilás se nunca mais vier a iluminar outras noites iguais? procurar uma nova ilusao não sei, outro lar não quero ter além daquele que sonhei, meu amor, ninguém seria mais feliz que eu se tu voltasses a gostar de mim, se o teu carinho se juntasse ao meu, eu errei, mas se me ouvires me darás razão, foi o ciúme que se debruçou sobre o meu coração!

sexta-feira, 27 de março de 2009

A GREVE DOS JORNALISTAS DE 1979

Recebo do Sindicato uma edição especial comemorativa dos 30 anos da greve dos jornalistas de 1979. Na época eu era Redator Chefe da Playboy. Muita, muita coisa pra contar, mas agora só dois comentarinhos. A edição é uma coleção de depoimentos. A maioria bate na tecla de que os jornalistas queriam porque queriam fazer sua greve, já que todo mundo fazia greve. Tão simples quanto isso! Se fosse assim, eu digo, os dois terços estabelecidos pela primeira assembléia teriam sido conseguidos facilmente, e não foram. Eu votei contra a greve na primeira assembléia, porque tinha certeza, como boa parte da categoria, de que a greve seria um fracasso. Não deu outra. Acho que na segunda assembléia votei a favor, não me lembro. A principal razão porque a maioria das pessoas - pelo menos nós, que não éramos do comando da greve nem da direção do Sindicato - mudou de opinião foi o total desprezo dos donos de jornais pelas reivindicações dos jornalistas. Foi algo assim: a assembléia aprovou uma reinvindicação de 25% de reajuste, e a contraproposta falava em 1 (um)%! A revolta foi geral e foi o que motivou a mim e a muitos a mudar de posição. Aprovou-se também um item dispensando quem tivesse cargo de chefia de fazer greve, mas eu não me sentiria bem em furar a greve, mesmo porque era evidente que seria possível fechar qualquer publicação só com chefes - o que aconteceu de fato, apesar de terem feito umas porcarias de jornais e revista semanal - acho que a Veja era a única. Madrugada seguinte, e eu, Redator Chefe da Playboy, estava fazendo piquete na porta do Estadão. O jornal mandava buscar os fura-greves de ônibus, em casa, mas nós não só não deixávamos os ônibus entrarem, como também não deixamos os ônibus abrirem as portas. Não liguei para a Abril nem apareci lá durante toda a semana de greve.
FERNANDO HENRIQUE NÃO ERA SENADOR, NÃO
Nos depoimentos do Boris Kasoy (então diretor da Folha) e do Eduardo Suplicy (então jornalista registrado na FSP e deputado estadual pelo MDB, embora o Boris, erroneamente, diga que ele era federal) , um erro histórico: dizem que Fernando Henrique, que foi visitar o Frias junto com o Suplicy, tentando convencer o patrão a não imprimir a Folha, era senador pelo MDB. Fernando Henrique não era senador, e sim suplente. Quem se elegeu senador em 1978 foi o Franco Montoro. Fernando Henrique só assumiu a vaga no Senado em 1983, porque Montoro tinha sido eleito governador de São Paulo, e deixou o Senado. Lula havia apoiado a candidatura de Fernando Henrique. Lembro dele falando no último comício da campanha, em São Bernardo, e me lembro bem de Fernando Henrique abraçado a ele e dizendo que sonhava com o dia em que o operário não fosse o apoiador do candidato, mas pudesse ele, o operário, ser o candidato. O sonho se realizou, não é mesmo?

quinta-feira, 26 de março de 2009

A VIA DA REPRESSÃO

Alguém pode me dizer a quem realmente interessa a via da repressão no combate às drogas? Só à indústria de armas? Às religiões que prometem a cura de drogados em troca do dízimo? Aos que se corrompem na Polícia, na Política e na Justiça? E aos aliados destes, os traficantes? A quem mais?

PELA LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS

Você já assistiu, certamente, a “Os Intocáveis”, ou a “O Poderoso Chefão”. Ou a qualquer filme que aborde os Estados Unidos da Lei Seca. Esses filmes não exageram em nada o clima de terror que reinava nas cidades americanas. A fabricação e a distribuição da droga álcool eram clandestinas. Nem por isso as pessoas deixavam de beber, nem de morrer por causa de doenças resultantes do vício. Todos sabiam onde o álcool estava mocozado. Iam lá, pagavam e levavam bebiam no próprio local. Fortunas se faziam em poucos meses e os pontos de distribuição eram disputadíssimos, a bala de metralhadora. A parte podre da Polícia, do Judiciário, do Ministério Público e da política em geral tinha sua participação nos lucros. A população assistia a tudo, impotentemente – isso quando uma bala perdida não obrigava um e outro a, literalmente, fechar (para sempre) os olhos. As pessoas já temiam sair para as ruas. Ante o retumbante fracasso da repressão (o crime organizado se fortalecia e se armava cada vez mais e melhor), e depois de um debate nacional a respeito, o Congresso se viu obrigado a revogar a Lei Seca.
O álcool passou a ser comercializado normalmente. Gente séria (como o bom pessoal da Ambev, da Kaiser, e da Skol) pôde montar seu bar, sua distilaria, cervejaria ou distribuidora, pagando impostos. Altos impostos, que podem ser utilizados em benefício da população, e sobretudo no tratamento dos que destroem sua saúde por causa da bebida, e ainda em campanhas de prevenção. Além disso, houve a regulamentação da propaganda e até mesmo – nos Estados Unidos é assim – delimitando, nas cidades, as áreas em que é permitido vender bebidas, seja em mercearias e supermercados, seja em restaurantes, drugstores e bares. Não aumentou o número de bebuns, nem de doenças decorrentes do álcool.
Pois o que ocorre com o álcool com a nicotina e outras drogas legais – as que são vendidas com receita médica, em farmácia – é exatamente o que ocorreria com a maconha, a cocaína e outras, se fossem legalizadas. Alguns iriam usá-las moderadamente, outros compulsivamente. Alguns seriam prejudicados pelo uso, talvez faltando ao trabalho, talvez pirando de vez em quando, talvez tendo de se internar. Outros se drogariam socialmente ou para acompanhar os amigos. Outros nunca se drogariam, ou apenas experimentariam, uma ou duas vezes na vida, e pronto. Isso, todo homem de bem sabe, já acontece.
Não é verdade que a violência vem do fato de as pessoas se drogarem. Claro, se ninguém comprasse droga os traficantes não teriam dinheiro para comprar armas. Mas os “remédios que dão alegria” existem em todas as sociedades, desde que o homem começou a manipular a natureza e a experimentá-la. Se não fosse a proibição, a disputa do mercado seria civilizada.
Amigos meus, talvez ainda mais ingênuos do que eu (que, sinceramente, não entendo por que não se está debatendo nacionalmente a legalização das drogas), tentam postar-se mais à esquerda, e dizem que a violência vem é da exclusão social, e que se as drogas forem liberadas o crime organizado vai praticar assaltos e seqüestros. Ora, o que os excluídos querem é a inclusão. Pagando altos impostos e com a distribuição controlada pelo Estado, o mercado de drogas não vai diminuir. Gerará empregos, e bons empregos, que apenas deixarão de ser clandestinos e perigosos, pois a disputa da distribuição será regulada pela administração pública.
Por mais que você possa não gostar deles, pelo menos os gerentes de supermercados e os farmacêuticos não ficam dando tiro na gente, pô.

MELHORANDO O PESCADO

Para fazer um pouco de demagogia com os jornalistas, um dia, os militares no poder baixaram autoritariamente, num pacote de atos ditatoriais, a regulamentação da profissão de jornalista. Deram a todos os jornalistas em exercício o status de profissionais de nível universitário, e obrigaram quem quisesse ser jornalista, a partir de então, a fazer uma faculdade. O jovem tem de passar dos 18 aos 22 anos num curso superior, para só depois ir ao mercado de trabalho ver se consegue ser jornalista. Dureza. Mesmo porque, sendo poucas as vagas e muitos os cursos, a disputa é braba. E a maioria dos cursos, como tem público certo – os que vão atrás do diploma -, não se preocupa em ensinar coisa alguma.
Digamos que, por qualquer razão, de repente os políticos (graças ao bom Deus e à repulsa da nação, hoje os poderosos não são os militares) resolvessem agradar os pescadores, e transformassem a pesca numa atividade de nível universitário. Quem pescou até agora ganharia o registro de pescador profissional, mas os próximos teriam de cursar a Faculdade de Pescaria. Rapidamente, nossas trocentas universidades criariam seus cursos de pesca. Não teriam, certamente, maior dificuldade em cumprir a carga horária e o curriculum mínimo a ser estabelecido pelo Conselho Nacional de Educação. Um ciclo básico de dois anos, introdutório, teórico, no Centro de Ciências Agrárias, de um ano e meio a dois anos, ensinaria Filosofia da Pesca, História da Pesca e Histórias de Pescadores, Sociologia da Pesca, Direitos do Mar, Geografia da Plataforma Continental, Meteorologia, Língua Portuguesa com especial atenção para o Vocabulário Específico da Pesca etc. etc.. Do terceiro para o quarto ano, teríamos matérias mais especializadas e vibrantes, nas quais os alunos poderiam ver filmes sobre pesca, realizar seminários a respeito e estudariam equipamentos de pesca, visitariam lojas de produtos de pesca, enfim, uma parte mais prática, e ainda teriam a chance de, no Laboratório de Pesca da Universidade, utilizar um caniço com uma isca de plástico, num tanque com peixes também de plástico – um estágio supervisionado, de 30 horas, que seria o ponto culminante do curso. Sem esquecer do indefectível TCC, Trabalho de Conclusão de Curso, no qual discorreriam sobre, por exemplo, O Velho e o Mar, ou A Expedição Kon Tiki, a série Tubarão. Alunos mais aplicados entrevistariam um ou dois pescadores do Pântano do Sul. Haveria uma bela festa de formatura, a vovó orgulhosíssima com mais um neto doutor. O resultado não é difícil de prever. Bons pescadores, por não terem diploma, seriam impedidos de pescar – um Sindicato e uma Federação atentos, filiados na maioria desempregados mas com diplomas na mão, se encarregariam de defender o interesse do público consumidor de peixe e a qualidade da atividade pesqueira, afastando do mercado esses arrivistas que ousam saber fisgar um peixe sem ter feito a Faculdade. Quem gosta de frutos do mar teria dificuldade para encontrar um peixe de qualidade no mercado – se aparecesse algum. Só os donos de Universidades particulares é que não teriam do que se queixar. Continuariam recebendo bons cardumes de alunos, que despejariam no mercado, bem embrulhadinhos. Em papel de jornal.

quarta-feira, 18 de março de 2009

EXIGÊNCIA DE RESPEITO

Minha rua tem uma casa que, por muitos, é chamada de cortiço. Mas fico sabendo, por um de seus moradores, meu eletricista, que a casa é na verdade um pensionato, no qual ele, meu eletricista, estabelece regras rígidas de segurança e convivência, a partir do fato de que o portão fica permanentemente trancado, e pessoas estranhas só entram se autorizadas por um dos moradores. A vida de meu eletricista, segundo se depreende dos relatos que faz a cada visita, é fascinante. Como anda de chinelo de dedo, sujo de graxa, tinta e reboco, ninguém imagina os profundos conhecimentos de Direito e procedimentos policiais, nem o poder e a riqueza de seus amigos. Também não se consegue supor, a partir de sua aparência pobre, quase maltrapilha, as fortunas que ganha em sua atividade profissional, pelo fato de que, com freqüência, surpreende engenheiros, arquitetos e empreiteiras com soluções inovadoras e inesperadas em eletricidade, hidráulica e construção em geral. Invariavelmente, ao chegar às imensas obras de que participa, alguém (geralmente um segurança, um policial em trajes civis, ou mesmo um morador do prédio, funcionário da empresa, ou outra pessoa que desconfia dele em algo) o inquire de maneira desagradável, o segue na saída, ou, simplesmente, olha para ele de modo que o desagrada. E isso, compreensivelmente, o tira do sério. Seu rosto se contrai ao relatar o fato, sua poderosa voz se alteia, tanto quanto quando o fato relatado ocorreu. Ele revida a desconfiança com desafios, e imediatamente liga, via celular, para um de seus amigos poderosos – ora um investigador, ora um sargento da PM, ora um delegado. Em instantes (ocorra o fato em que cidade for, pois seus trabalhos são requisitados também em cidades do interior) a viatura chega, descem os policiais armados e engatilham suas armas para a pessoa que ele aponta, perguntando a meu eletricista o que quer que façam com seu algoz. Dado o pavor do inimigo e o aprendizado que a situação já lhe trouxe, meu amigo o perdoa. Os policiais – que também têm sido úteis quando um cliente tenta lhe passar a perna, deixando de pagar ou pagando com um cheque de que ele suspeita, ocasiões em que o mau cliente é imediatamente conduzido ao banco, e tem de pagar com multas que podem chegar a 100%, para aprender – advertem o perseguidor, fazem-no ver a sorte que está tendo pelo perdão de meu eletricista, e vão-se, com o infalível ranger de pneus da reluzente viatura. O que impressiona mais é a freqüência, quase diária, com que episódios semelhantes ocorrem na rara vida de meu eletricista.

terça-feira, 17 de março de 2009

André, André

Ainda agora, eu dormindo, era fácil lembrar do sonho, enquanto eu sonhava. Eu dentro do sonho ele estava ali, inteiro. Já agora, não sei mais se é o sonho ou se é coisa com sentido, que nem sempre é verdade. Dentro do sonho, eu estava com o violão e me pediam para lembrar a música. Ela vinha aos poucos, era bonita, muito, lembrava canções, samba-canções, não, estava mais pra samba, porque era mais rápido, mas não sambão. Meio triste, de uma coisa que vai aumentando, a melodia quase está aqui, meio Lupicínio, meio Ataulfo, meio Cartola, e de repente uma paradinha, quase um breque e a frase, essa eu lembro bem, “André, André brigar”. Apenas uma quase descrição de André, sem se saber que André é esse. Sem nenhuma conotação, só André, André brigar, como um estribilho. Uma parada, e voltava melodia, e aí, sim, parece que André brigar era uma descrição de um André que se irrita, que cria encrenca, briga. Mas a melodia prossegue, como a anterior, cresce um pouco mais, e quando eu, explicando a música, chego de novo ao estribilho, digo “André André lutar!”, e acrescento que, é claro, podemos ir mudando, já que não sei bem a letra, e fica me parecendo que estou com esse André, e que falo da força que vejo nele, e não é só a constatação de que ele luta – é muito mais do que brigar, porque ele cresce nesse momento -, mas é também a de que eu o vejo lutando e vibro com a luta, vejo a força dele, e estou com ele. Aí eu acordo e já começo a pensar. Aí começo a tirar a pureza do sonho. É desnecessário.

segunda-feira, 16 de março de 2009

TÉCNICAS PARA HORRORES

Hoje tive cintilografia óssea. Corpo inteiro, ou melhor, esqueleto inteiro. É meio punk. Te mandam tomar um monte de água, depois toda hora te mandam esvaziar a bexiga. E tem de ficar deitado um tempão, uns tempões, imóvel, em posições pouco habituais, com aquele paredão quase encostado no nariz. Pode ser aflitivo, para quem não tem a manha. Eu tenho. Vou fazendo relaxamento e meditação o tempo todo. No dentista faço a mesma coisa, até durmo e eles têm de me acordar. No relaxamento de hoje, fui usando letra por letra do nome e sobrenomes do meu neto, depois os nomes dos meus filhos. Respirando, e imaginando cada letra chegando de um jeito. Devagar, com os olhos fechados. E o tempo vai passando, e você escrevendo no céu nomes das pessoas amadas. Vai dando até saudade. Qaundo você vê, o tempo passou e pronto. Hoje fiquei das 14h30 até as 19h00 no laboratório, a maior parte do tempo nas máquinas, e no intervalão de uma hora e meia tomando água com a substância radioativa espalhada pelos ossos. É mais ou menos isso. O mais enervante é ficar dentro de tubos, a máquina te levando pra frente e pra trás, mas dá pra encarar.

OUTROS HORRORES
No Rio tem essa história de de vez em quando atirarem na gente – bom, mas uma cidade linda daquele jeito tinha de ter algum defeito, não é mesmo?
E talvez esse nem seja o maior defeito do Rio. Uma vez passei por uma cena também muito chocante. Eu estava com uma grande amiga, e a filha dela, e o namorado da filha dela, que, por coincidência, tinha filmado de manhã um treinamento em comunicação que eu tinha dado numa estatal chamada Petrobras. À noite, fui encontrar minha amiga e ele namorava a filha dela. Foi uma festa. E eles me levaram a uma pizzaria carioca.
Aí é que vem a cena chocante. Mal tínhamos pedido a pizza, o moço, rapaz culto, educado e simpático, empunhou uma bisnaga de catchup e outra de mostarda, despejou boa parte dos conteúdos no prato e – acredite – ia espetando os pedaços de pizza com o garfo, besuntando de catchup e mostarda, e em seguida ainda punha na boca e comia! Olhei assustado para minha amiga e ela me garantiu que era assim que se comia – faz décadas, não sei se ainda fazem isso lá – pizza no Rio. Nunca mais tive coragem para entrar numa pizzaria carioca.
Contei isso hoje de manhã para minha fisioterapeuta, gaúcha há pouco tempo em Sampa, quando ela criticava o fato de que em São Paulo as pessoas chamam de churrasco – até convidam você para ir à casa deles comer um churrasco, e o churrasco é isso – um picadinho de carne feito na grelha e comido com pão. Ela disse que passou fome da primeira vez em que isso aconteceu, pois está acostumada com o churrascão no espeto, e acompanhado de saladona de batata e mais um monte de coisas.
Só que – novo horror meu – ela abriu o olho espantada, e me disse que só foi a pizzaria em Sampa uma vez, e não gostou. Não tinha catchup, e ela a vida toda comeu pizza em Porto Alegre com catchup. Achava que o defeito era só daquela pizzaria. Expliquei a ela que o defeito é de todas as pizzarias que se prezem, em Sampa e na Itália.
Enfim, saiba que as técnicas de relaxamento e meditação servem para todos esses horrores, de tiro de fuzil a catchup na pizza. A gente acaba acostumando com tudo, nesses traços antropológicos de cada povo desse imenso Brasil.

EDUARDO NA BARRA

Meu pai, Ruy, que foi o vovô Ruy dos meus filhos, nasceu, em fazenda na qual meu avô (João) era colono, na Barra (é assim que a cidade é chamada, na região). Barra Bonita, na época (1912), era parte do Município de Jahu, hoje Jaú. Foi lá que, agora, no carnaval, Eduardo, que também tem um vovô Ruy (eu), aprendeu, levado pela minha filha Ju, madrinha dele, o que é eclusa, represa que abre comporta para que o barquinho grande possa seguir navegando pelo Tietê, bom e lindo rio, de pensamento divergente - pois foge do mar e de Sampa pra ir pro interior (como dois dos meus filhos estão fazendo). Vida boa. Belo passado, belo e gostoso presente.

quarta-feira, 11 de março de 2009

BRUTALIDADE DO PRODUTO

Como você já sabe, a cuidadora profissional (que contratei por exigência do home care) folga em fins de semana. Daí eu ter pedido a amigos queridos – são muitos – que venham ficar comigo das 8 às 10 e das 20 às 22 horas, sábado e domingo, horários de aplicação do antibiótico. O último fim de semana foi o primeiro dos plantões. Só alegria. Além de ter netos (e vou ter mais um, notícia fresca!), ser feliz é rever amigos (não, apressadinhos, não estou excluindo a comida árabe nem ser amado pela Audrey Hepburn e pela Meg Ryan, mas ainda hoje quero falar de felicidade, e tem tudo a ver). E amigos queridos tenho muitos. Não vou citar e descrever os quatro que revi agora pra não matar você de inveja, mas quase que garanto que só a presença deles já me livraria dos efeitos colaterais dos antibióticos.
E um desses amigos me trouxe mais um livro – até isso está sendo bom, pois eu acabei de ler dois, e sempre estou lendo três ou quatro ao mesmo tempo. É A Arte da Vida, do Zygmunt Bauman. O moço se chamar zygmunt já é motivo suficiente pra eu querer lê-lo. Estou nos primeiros parágrafos. Ele escreve um pouco profundamente para a minha atual capacidade de concentração e sonolência, mas já vi que vou gostar. De cara, desmente – citando Robert Kennedy, pouco antes de ser morto – o Produto Nacional Bruto como critério para felicidade (talvez, pensando bem, como diria meu amigo recém falecido Gilberto Dupas, o PNB não servisse nem mesmo como índice de progresso real). Lembra que o PNB cresce na medida em que o dinheiro troca de mãos – ou seja, se foram comprados e vendidos mais produtos do trabalho humano, físico ou mental. Isso inclui, portanto, os gastos com antidepressivos, conserto de veículos, internações hospitalares, tratamento médico, água mineral e muitas outras coisas que as pessoas procuram tentando melhorar a qualidade de sua vida deteriorada. O discurso de Robert Kennedy – do dia 18 de março de 1968 acrescentava que o PNB é também produto da poluição, do ar, da publicidade de cigarros, dos sistemas de segurança instalados em casas e edifícios e as prisões, da destruição das florestas, da urbanização “descontrolada e caótica”, da produção de napalm, das armas nucleares e de tudo com que a policia tem de se equipar para enfrentar a criminalidade crescente – e até dos filmes violentos criados para estimular as crianças a quererem brinquedos de guerra... que não são mesmo, convenhamos nós, conversando só quarenta e um anos depois, indicadores de felicidade. Bom indicador de felicidade seria a alegria de rever amigos – e de ter netos. Mas não está no PNB.

sábado, 7 de março de 2009

COMEMOS O QUE SOMOS

Raio caio:

o que como

não fazer mal

é a prova

de que estou bem



um mes de hospital e engordei. não culpem a nutricionista, culpem-me. usei o conselho de não fazer dieta restritiva, já que enfrentava antibióticos poderosos demais, e aproveitei as delícias que me serviam. as vezes, não tinha fomr, culpa dos remedios ou de alguma depressão. as vezes tinha muita fome, culpa dos remedios e de alguma depressão? o fato é que sai mais gordo. a comida era boa, gostosa e muito farta. e agora, em regime "semiaberto", autonomia alimentar absoluta, vario: ora saúde, ora prazer máximo. cuidado, ruy. gordo deficiente corre mais riscos. por falar nisso, quem anda piorando tanto as calçadas paulistanas?

OTIMAS NOTICIAS

O exame da coleta de sangue feita dia 5 mostrou que o combate à bactéria está surtindo efeito. Parabéns para a médica, que acertou em cheio nos antibióticos. O PCR, principal indicador, que logo após a cirurgia de 29 de janeiro era 8, baixou para 0,6 (o normal, no caso, seria 0,5)! Os glóbulos brancos baixaram na mesma proporção – como você sabe, os glóbulos brancos defendem a gente, combatendo vírus e bacterias inimigos. Se eles são muitos, é porque os inimigos são muitos. Se eles diminuem, é porque os inimigos estão perdendo. tem mais um índice, cujo nome não lembro agora, que acompanhou os demais. meu novo infectologista, que fez um mapa ultradetalhado da situação, me deixou animado e seguro. foi, ao mesmo tempo, sincero: osteomielite, nunca se tem certeza de cura. a bacteria pode ficar num nidus (ninho) durante anos, e todos os exames dão resultado negativo. de repente, ela volta - e lá vem novo abscesso, exigindo novo combate. ele disse que já viu voltar depois de 17 anos! falei, doutor, então póde me por nessa dos 17, que tá bom pra mim. já espero a bichinha com boas armadilhas, eu já com 82 anos bem vividos. é comigo mesmo, seu enterococo que não sabe o seu lugar!

CUIDADO COM CAMBISTAS

Outra maravilha: os plantões. Como eu disse, até julho devo ficar tomando antibióticos de 12 em 12 horas, via cateter implantado, que vai do cotovelo até o coração. Quem aplica é o home care, mas eles exigem que haja uma pessoa comigo. Contratei uma ótima pessoa (que é um perigo alimentar, pois faz tortas e bolos fantásticos) cuidando de mim durante a semana. Para preencher essa necessidade nos fins de semana, organizei plantões de 2 horas e pedi, por e-mail, ajuda a amigos. A casa bombou. Em poucas horas, preenchi TODOS os plantões, até o final de abril. E tem gente da fila de espera (22 pessoas, só na fila de espera) brigando comigo para ser incluída. Daqui a pouco tem gente vendendo senha por aí, não entrem nessa, não tem nenhum cambista autorizado, viu? Espelho, espelho meu, tem alguém mais feliz que eu?