segunda-feira, 16 de março de 2009

TÉCNICAS PARA HORRORES

Hoje tive cintilografia óssea. Corpo inteiro, ou melhor, esqueleto inteiro. É meio punk. Te mandam tomar um monte de água, depois toda hora te mandam esvaziar a bexiga. E tem de ficar deitado um tempão, uns tempões, imóvel, em posições pouco habituais, com aquele paredão quase encostado no nariz. Pode ser aflitivo, para quem não tem a manha. Eu tenho. Vou fazendo relaxamento e meditação o tempo todo. No dentista faço a mesma coisa, até durmo e eles têm de me acordar. No relaxamento de hoje, fui usando letra por letra do nome e sobrenomes do meu neto, depois os nomes dos meus filhos. Respirando, e imaginando cada letra chegando de um jeito. Devagar, com os olhos fechados. E o tempo vai passando, e você escrevendo no céu nomes das pessoas amadas. Vai dando até saudade. Qaundo você vê, o tempo passou e pronto. Hoje fiquei das 14h30 até as 19h00 no laboratório, a maior parte do tempo nas máquinas, e no intervalão de uma hora e meia tomando água com a substância radioativa espalhada pelos ossos. É mais ou menos isso. O mais enervante é ficar dentro de tubos, a máquina te levando pra frente e pra trás, mas dá pra encarar.

OUTROS HORRORES
No Rio tem essa história de de vez em quando atirarem na gente – bom, mas uma cidade linda daquele jeito tinha de ter algum defeito, não é mesmo?
E talvez esse nem seja o maior defeito do Rio. Uma vez passei por uma cena também muito chocante. Eu estava com uma grande amiga, e a filha dela, e o namorado da filha dela, que, por coincidência, tinha filmado de manhã um treinamento em comunicação que eu tinha dado numa estatal chamada Petrobras. À noite, fui encontrar minha amiga e ele namorava a filha dela. Foi uma festa. E eles me levaram a uma pizzaria carioca.
Aí é que vem a cena chocante. Mal tínhamos pedido a pizza, o moço, rapaz culto, educado e simpático, empunhou uma bisnaga de catchup e outra de mostarda, despejou boa parte dos conteúdos no prato e – acredite – ia espetando os pedaços de pizza com o garfo, besuntando de catchup e mostarda, e em seguida ainda punha na boca e comia! Olhei assustado para minha amiga e ela me garantiu que era assim que se comia – faz décadas, não sei se ainda fazem isso lá – pizza no Rio. Nunca mais tive coragem para entrar numa pizzaria carioca.
Contei isso hoje de manhã para minha fisioterapeuta, gaúcha há pouco tempo em Sampa, quando ela criticava o fato de que em São Paulo as pessoas chamam de churrasco – até convidam você para ir à casa deles comer um churrasco, e o churrasco é isso – um picadinho de carne feito na grelha e comido com pão. Ela disse que passou fome da primeira vez em que isso aconteceu, pois está acostumada com o churrascão no espeto, e acompanhado de saladona de batata e mais um monte de coisas.
Só que – novo horror meu – ela abriu o olho espantada, e me disse que só foi a pizzaria em Sampa uma vez, e não gostou. Não tinha catchup, e ela a vida toda comeu pizza em Porto Alegre com catchup. Achava que o defeito era só daquela pizzaria. Expliquei a ela que o defeito é de todas as pizzarias que se prezem, em Sampa e na Itália.
Enfim, saiba que as técnicas de relaxamento e meditação servem para todos esses horrores, de tiro de fuzil a catchup na pizza. A gente acaba acostumando com tudo, nesses traços antropológicos de cada povo desse imenso Brasil.

2 comentários:

  1. Pois é, querido, tem disso no Rio,de tiros á barbárie gastronômica...ah! e tem " culégio" "bolado" e outros menos votados...
    Tá bom, pode ser meio provincianismo, mas ainda prefiro " um chops e dois pastel"..( e as pizzas ma-ra-vi-lho-sas de botar napolitano com inveja!)
    beijocas

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  2. Bem, ninguém pode ser perfeito, não é? Agora tem uma coisa: petisco de buteco no Rio é o que há. A gente faz assim, você fica bom logo e a gente tira isso à limpo. Numa pizzaria aí e num buteco cá.

    Beijo, querido!

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